Como desconfiar que alguém tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
Saber mais sobre os marcos do desenvolvimento infantil ajuda a identificar sinais precoces do autismo
Antes de ter em mente quais são as primeiras alterações que podem repercutir no desenvolvimento de uma criança por conta do Transtorno do Espectro Autista (TEA), vamos entender o que seria um desenvolvimento normal esperado. Esse conceito de desenvolvimento é amplo e se relaciona a vários aspectos da evolução humana abrangendo crescimento em altura, amadurecimento físico e psicológico, aprendizagem e aspectos sociais, entre outros.
Todas estas transformações acontecem de forma dinâmica, complexa e contínua. Além disso, assim como o autismo em si, o desenvolvimento também é influenciado tanto por carga genética tanto por fatores ambientais, como pelos estímulos fornecidos.
Existe uma idade esperada para cada etapa, por isso a importância do acompanhamento médico
Cada fase do desenvolvimento segue uma sequência de etapas e há uma idade esperada para cada uma delas. O acompanhamento do desenvolvimento normal é feito pelo pediatra nas consultas de rotina, que devem acontecer sete vezes até a criança completar o primeiro ano de vida, duas vezes de 1 a 2 anos e anualmente após o segundo ano.
Ao detectar uma alteração no desenvolvimento, o pediatra pode acompanhar ou encaminhar para o especialista da área, dependendo da perspectiva de resolução ou das medidas cabíveis.
Sinais do desenvolvimento motor: rolar, sentar e fazer movimento de pinça com as mãos
Para o recém-nascido, é normal que ele seja “molinho”. Ou seja, ao nascer, a criança ainda não tem tônus muscular suficiente para sustentar seu corpo simetricamente. O recém-nascido tem uma postura de flexionar braços e pernas, além de deixar a mão fechada. Com o tempo, essa postura é invertida, deixando os membros esticados.
Depois dos seis meses de vida, não há mais o padrão específico de dobrar ou esticar e a criança tem controle sobre esses movimentos, começando a aprender a rolar e sentar.Além disso, a criança também começa a ter controle sobre o que ela pega com a mão, adquirindo o chamado movimento de pinça. Relacionando esses estágios ao TEA, é importante ficar atento ao tempo de desenvolvimento motor, pois a criança com autismo pode ter esse desenvolvimento muito atrasado.
Sinais da visão: seguir as pessoas com o olhar e distinguir quem está ao redor
Há, também, um desenvolvimento associado a visão e audição. O recém-nascido é capaz apenas de focalizar um objeto próximo de seus olhos e tem preferência por rostos de pessoas. Por isso, em consultas com bebês pequenos, é perguntado se ele foca a visão em objetos próximos e os segue com o olhar.
Além disso, a sociabilidade do bebê vem aliada ao olhar nesse estágio, além de estar ligada ao sorriso como forma de comunicação. A partir da quarta até a sexta semana de vida, o bebê começa a apresentar o “sorriso social”, um aparente sorriso que é desencadeado por estímulos, como o rosto de outra pessoa.
A partir do sexto mês, o bebê consegue distinguir pessoas familiares e desconhecidas, passando a sorrir apenas para os conhecidos. Com relação ao TEA, já se pode notar alguns sinais aqui, quando o bebê tem dificuldades de seguir com o olhar ou parece não distinguir muito as pessoas que o rodeiam.
Sinais da audição: bebê sem problema auditivo procura a origem dos sons e reconhece a voz da mãe
Com relação à audição, o bebê começa a ouvir desde o quinto mês de gestação, ou seja, ao nascer ele já teria que escutar. Então, é perguntado nas consultas se o bebê se assusta, se acorda ou chora com sons altos e súbitos, se procura a origem dos sons e se fica mais calmo quando ouve a voz da mãe.
No Brasil, há uma triagem obrigatória ao nascer chamada de “teste da orelhinha” para detectar possíveis problemas auditivos. Correlacionando com o TEA, é importante saber se o bebê, mesmo não tendo problema auditivo, não procura a origem dos sons ou parece alheio a eles. Pode ser um dos sinais de TEA.
Sinais da linguagem: apontar, bater palmas e acenar ocorrem a partir do sexto mês
Já a linguagem, nos primeiros dias de vida é expressa unicamente pela mímica facial e pelo choro. Entre o segundo e o terceiro mês, começa a emissão de alguns sons indistinguíveis e, próximo do sexto mês, sons bilabiais, como “baba”. Entre o nono e décimo mês, surgem alguns balbucios semelhantes à linguagem do seu meio.
Depois do sexto mês, surge também a linguagem gestual, como apontar para objetos ou pessoas ou bater palmas e acenar. Com 1 ano já surgem as primeiras palavras. Até os 2 anos, se iniciam frases simples ou junção de palavras. Aqui é importante prestar atenção aos marcos de emissão de sons e palavras.
Para as pessoas com TEA que não falam, esses marcos não ocorrerão. Mas mesmo para as que falarão, esses marcos podem atrasar. Além disso, é comum que crianças com TEA não comecem a apontar objetos da mesma forma que crianças que não tem autismo, e que não interajam com outras pessoas também.
Confira os marcos de desenvolvimento esperados a cada etapa da vida do bebê
Os marcos do desenvolvimento podem, portanto, ajudar a identificar a possibilidade de uma criança ser autista. Veja um breve resumo, com os principais marcos avaliados pelos médicos.
1 mês: melhor percepção de um rosto humano
2 meses: sorriso social, ampliação do campo visual, segue objetos com o olhar, reage a estímulos sonoros, fica de bruços levantando cabeça, abre a mão, emite algum som
4 meses: agarra objetos com a mão voluntariamente, busca estímulos sonoros, senta com apoio
6 meses: vira o rosto em direção a estímulos sonoros, tenta buscar um brinquedo com a mão, rola no leito
6 a 9 meses: senta sem apoio, engatinha, apresenta reações a pessoas estranhas
9 meses: transmite objetos de uma mão para outra, balbucia, estranha pessoas fora do seu convívio, brinca de “esconde/achou”, pinça polegar-dedo rudimentar
12 meses: começa a andar, bate palmas, acena, combina sílabas, faz pinça completa, segura a mamadeira
18 meses: fala palavras, anda, rabisca, obedece ordens, nomeia objetos, usa talher, constrói torre com 3 cubos
2-3 anos: diz próprio nome, reconhece-se no espelho, brinca de faz de conta, sobe escadas, corre, formula frases simples, retira peça de roupa, brinca com bola, brinca com outras crianças.
Se a criança não responde de acordo com cada etapa, converse com o pediatra
Caso a criança não responda de acordo com essas etapas, a orientação é conversar com o pediatra. Após a avaliação do pediatra, pode ser sugerida uma avaliação conjunta com o psicólogo ou o encaminhamento para um neuropediatra ou psiquiatra infantil.
No SUS, o responsável pode procurar o posto de saúde (UBS) mais próximo para ser encaminhado para um setor de especialidades ou seguir diretamente para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) da sua região. Se você já está buscando ajuda especializada, a nossa base de instituições de apoio reúne profissionais qualificados em todo o Brasil.
Escrito por Clarisse Sá, Barracuda Conteúdo
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