Atypical e a independência do autista
Série que conta a história do jovem autista Sam põe em debate perspectivas de futuro e conquista de autonomia
Atypical é uma série lançada na plataforma de streaming Netflix, que conta a rotina de um jovem autista de 18 anos. Na história, Sam vive sua busca por amor e independência.
Sua jornada de autodescoberta é tão divertida quanto dramática, e tem impacto em toda a família, forçando-os a lidar com as alterações em suas próprias vidas e provocando em seus familiares e também no público o seguinte questionamento: afinal, o que realmente significa ser normal?
A primeira temporada foi lançada em 2017 com a descrição “Quando um adolescente com traços de autismo resolve arrumar uma namorada, sua busca por independência coloca a família toda em uma aventura de autodescoberta”.
A cada temporada, Sam lida com questões mais complexas
Em 2018, tivemos a segunda temporada “enquanto Elsa e Doug (pais do protagonista) enfrentam as consequências da crise no casamento e Casey (a irmã) tenta se adaptar à nova escola, Sam (o protagonista) se prepara para a vida após a formatura”.
Em 2019, saiu a terceira temporada. “No primeiro ano de faculdade, Sam encara novos desafios, como fazer amigos e administrar seus compromissos”, diz a sinopse. Enfim, em 2021, a quarta e última temporada é lançada: “Casey e Sam estão prestes a sair de casa, e a família Gardner precisa tomar decisões importantes”.
Quando se discute sobre o futuro de uma pessoa autista, sempre vem em mente a possível independência que essa pessoa terá. Esse é um assunto que, infelizmente, ainda hoje assusta algumas pessoas. Na série, passamos por várias etapas da vida do autista e concluímos que é possível, sim, ter independência.
Séries como Atypical difundem informação sobre o transtorno e diminuem estigma que pesa sobre autistas
Mesmo em meio aos profissionais de saúde, ainda há falta de conhecimento sobre o assunto. Já discutimos no blog sobre o chamado capacitismo, o preconceito direcionado a pessoas com deficiência, grupo do qual fazem parte os autistas.
O capacitismo gera dificuldades diárias para autistas e seus familiares ao lidar com pessoas que demonstram pouco entendimento sobre o transtorno. Trata-se de uma visão que separa as pessoas em padrões e exclui todas que não se encaixariam dentro de um critério muito específico de normalidade. Entretanto, sabemos que a sociedade é formada por seres humanos, e humanos sempre serão diferentes entre si, o que não os torna menos capazes.
É necessário diminuir o estigma que pesa sobre os autistas para aumentar a inclusão social. Pesquisas científicas recentes mostram que os níveis de estigma a respeito de autistas diminuem quando as pessoas acumulam mais conhecimento sobre o TEA.
Ou seja, à medida que a informação passa a ser mais difundida, a tendência é que os autistas sofram menos com a exclusão. Um dos objetivos do Autismo e Realidade é justamente contribuir com a ampliação da inclusão social e, por isso, divulgamos informações de forma ampla e da maneira mais clara possível sobre a rotina dos autistas e as características do TEA.
Estímulo precoce na infância influencia conquista da independência na vida adulta
É necessário entender, portanto, que pessoas com deficiência podem e devem participar ativamente da sociedade, e que não é preciso estar dentro de um padrão para que isso aconteça, pois todas as pessoas são capazes dentro de suas limitações.
Dentro da série, vemos que Sam já possui seu emprego desde o colégio. Esse fato, além de ajudar a desenvolver a parte social, também desenvolve sua autonomia financeira, essencial para a independência na fase adulta -gerir seus custos de vida com alimentação, moradia e lazer.
Há um medo que paira na sociedade de um autista nunca conseguir ser independente. Entretanto, este é um conceito falho. Levando em consideração os diferentes graus de comprometimento do transtorno, um estímulo precoce, correto e contínuo pode levar muitos autistas à independência em sua vida adulta, ou ao menos a uma dependência parcial com autonomia proporcional.
Inclusão no mercado de trabalho impulsiona independência financeira
Um dos meios de propiciar isso na vida adulta é por meio do emprego. O mercado de trabalho é o espaço que, além de proporcionar base financeira para pessoa autista, proporciona inclusão na sociedade e convívio entre pessoas típicas e atípicas.
No Brasil, uma ONG chamada Specialisterne promove a formação, capacitação e inclusão de pessoas com autismo em organizações. Uma delas é o primeiro funcionário com TEA contratado pelo Sabará Hospital Infantil, entidade que, assim como o Autismo e Realidade, faz parte da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.
A quebra de estereótipos é uma prioridade durante o processo realizado pela ONG. “Quando falamos do autismo, ou fazem uma relação com autistas de filmes de sessão da tarde, extremamente introspectivos e que não se relacionam, ou, por outro lado, com o autista que é um gênio”.
Características específicas do autistas, como o hiperfoco, podem ser exploradas no processo de inclusão
Nem todo autista tem características de “gênio” e nem todos são extremamente introspectivos. Sam, na série, é um adolescente que convive em sociedade, que se relaciona bem com sua família, que tem amigos e tem uma relação amorosa.
Sam não é “um gênio”, mas tem uma característica que nem todos os autistas têm, que é o hiperfoco em um determinado assunto. Sam adora pinguins e até “adota” um pinguim no zoológico de sua cidade. Esse hiperfoco pode auxiliar na escolha da profissão futura, já que o autista tem mais facilidade em lidar com assuntos relacionados.
O ideal é tentar desenvolver a independência em todas as pessoas com TEA, principalmente por meio de terapias focadas e pelo suporte familiar e de amigos. O grau dentro do espectro deve ser respeitado ao estipular metas, já que a gravidade do transtorno pode interferir no resultado final. Mas, como vemos na série, é possível encontrar certa autonomia na vida da pessoa com autismo, sempre respeitando os limites de cada um.
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