2 de abril: Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo
Data criada há 14 anos alerta para a importância da popularização de informações sobre o transtorno e a inclusão social dos autistas
Em 2008, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou uma data muito citada por nós do Autismo e Realidade: o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo.
O objetivo é chamar a atenção para a importância de conhecer e tratar esse transtorno que atinge, comprovadamente, cada vez mais pessoas – a estimativa mais recente fala em 1 a cada 44. Dessa forma, levamos informação à população para reduzir a discriminação e o preconceito contra os autistas.
Monumentos ao redor do mundo e também no Brasil, são iluminados com a cor azul
Para comemorar, diversas campanhas são realizadas. Além da distribuição de cartazes e folders pelo país, vários prédios e monumentos importantes do Brasil e do mundo são iluminados de azul. No Brasil, recebem as luzes o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, a Ponte Estaiada, o Monumento às Bandeiras e o Viaduto do Chá, em São Paulo, e os prédios do Senado e do Ministério da Saúde, em Brasília. O prédio Empire State, em Nova York (EUA) e o CN Tower, em Toronto (Canadá) também são coloridos com a cor que simboliza o autismo.
Além disso, nós do Autismo e Realidade também realizamos campanhas, como exposição de cartazes nos metrôs da cidade de São Paulo, e organizamos simpósios sobre o autismo.
Na celebração, lembramos do que se trata o TEA (Transtorno do Espectro Autista), que os autistas têm aptidões e talentos e que podem ser independentes ao serem inseridos na sociedade.
Do que estamos falando quando falamos de TEA?
Vamos lembrar aqui o que é o TEA. Segundo o consenso médico atual, para uma pessoa ser diagnosticada autista, precisa apresentar dois traços característicos:
- Dificuldades persistentes na comunicação social e na interação social em diferentes contextos;
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, que prejudiquem o seu convívio social.
Assim, é possível que um autista não entenda frases literais, como quando alguém diz “você é um gato” querendo dizer “você é bonito”. O autista entenderia apenas que a pessoa é um animal.
Além disso, o autista tem dificuldade de fixar o olhar nos olhos de alguém ou de participar de brincadeiras que exijam imaginação, como fingir que cozinha ou brincar de faz de conta. É possível que o autista tenha dificuldade de falar também, por isso existem diferentes níveis do transtorno.
É sempre importante frisar: cada autista manifesta o transtorno de forma única
É comum dizer que no autismo não existe uma regra geral e que cada caso é um mundo particular. Duas pessoas com habilidades e limitações bem diferentes – uma com traços leves e outra com dificuldades severas – fazem parte do mesmo espectro autista.
Segundo o DSM-5 (edição mais recente do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais), o TEA pode ser dividido em três níveis, o que definiria os níveis de gravidade.
A diferença na intensidade das manifestações do autismo, além da presença de outras condições associadas, chamadas de comorbidades, como o TDAH ou ansiedade, são os principais fatores considerados pelos especialistas na hora de montar o tratamento de um paciente.
Diagnóstico precoce é essencial para antecipar a intervenção e favorecer o desenvolvimento da criança
Cada pessoa com autismo também vai se desenvolver no seu próprio ritmo e cada família vai lidar com o cotidiano do distúrbio do seu jeito. Todo este conjunto vai influenciar como cada autista se relaciona, se expressa e se comporta.
É importante estar atento desde o começo da infância para que o diagnóstico seja o mais precoce possível e, assim, tenha uma intervenção precoce, o que aumentaria os resultados positivos do tratamento. No artigo Como desconfiar que alguém tem o Transtorno do Espectro Autista, neste blog, explicamos quais seriam as alterações prováveis. Em resumo, precisamos nos atentar para os marcos do desenvolvimento infantil e, quando houver um desvio, geralmente um atraso no que era esperado, pode haver uma suspeita do diagnóstico.
Veja um breve resumo, com os principais marcos avaliados pelos médicos:
- 1 mês: melhor percepção de um rosto humano;
- 2 meses: sorriso social, ampliação do campo visual, segue objetos com o olhar, reage a estímulos sonoros, fica de bruços levantando cabeça, abre a mão e emite algum som;
- 4 meses: agarra objetos com a mão voluntariamente, busca estímulos sonoros e senta com apoio;
- 6 meses: vira o rosto em direção a estímulos sonoros, tenta buscar um brinquedo com a mão e rola no leito;
- 6 a 9 meses: senta sem apoio, engatinha e apresenta reações a pessoas estranhas;
- 9 meses: transmite objetos de uma mão para outra, balbucia, estranha pessoas fora do seu convívio, brinca de “esconde/achou” e pinça polegar-dedo rudimentar;
- 12 meses: começa a andar, bate palmas, acena, combina sílabas, faz pinça completa e segura a mamadeira;
- 18 meses: fala palavras, anda, rabisca, obedece a ordens, nomeia objetos, usa talher e constrói torre com 3 cubos;
- 2-3 anos: diz o próprio nome, reconhece-se no espelho, brinca de faz de conta, sobe escadas, corre, formula frases simples, retira peça de roupa, brinca com bola e brinca com outras crianças.
O que fazer quando a criança tiver um desenvolvimento atrasado?
Em caso de atraso no desenvolvimento infantil, é importante que um médico avalie a criança, preferencialmente o pediatra que já a acompanha. Então, se houver a suspeita do diagnóstico, o pediatra pode encaminhar a criança para avaliação de um especialista.
No caso de crianças e adolescentes, as famílias podem ser encaminhadas para atendimento com um neurologista pediátrico (neuropediatra/neurologista infantil) ou um psiquiatra infantil ou um psicólogo, que vai identificar os sintomas e fazer uma avaliação inicial com base em observação, entrevistas e análise de histórico. O diagnóstico final, no entanto, precisa ser validado por um laudo médico.
Vale lembrar que o diagnóstico do espectro autista é apenas clínico. Isso significa que, para certificar se uma pessoa é autista, é preciso observar o comportamento do paciente e analisar informações coletadas com as pessoas que convivem com ele, com o auxílio de questionários protocolados. Portanto, não existem exames, sejam eles de imagem ou laboratoriais, para provar o diagnóstico de autismo.
Bárbara Bertaglia
Médica formada pela Santa Casa de São Paulo, pesquisadora na área de Transtorno do Espectro Autista e membro da equipe Autismo e Realidade desde 2019
0 comentários