Estratégias pedagógicas para alunos autistas
O que fazer quando os estudantes manifestam sinais de autismo e como lidar com quem já foi diagnosticado
Durante a rotina escolar, os professores têm uma visão privilegiada dos alunos, e conseguem ter um panorama das tendências sociais e escolares de cada um. Isto é, eles têm um olhar treinado para detectar condutas típicas e atípicas.
A dificuldade de interagir com os colegas e de comunicação são as primeiras características que chamam a atenção. Outro ponto é a sensibilidade sonora, tátil ou visual, ou seja, aquele aluno que se incomoda com luzes diretas ou pessoas conversando, por exemplo.
No quesito de atenção, fica evidente a dificuldade em focar apenas em um determinado assunto. Por fim, em casos específicos, há constatação de estereotipias – em outras palavras, gestos ou ações repetitivas relacionadas ao movimento, fala ou postura.
O conjunto dessas características levam os professores a encaminhar esses alunos para uma avaliação médica mais específica. O encaminhamento correto seria uma consulta com psiquiatra infantil e uma avaliação neuropsicológica.
Presença de acompanhante escolar é recomendada para alunos autistas
Ao acompanhar alunos diagnosticados com TEA, os educadores introduzem diversas condutas para auxiliar o desenvolvimento desses estudantes. O ambiente físico da sala de aula deve ser sempre organizado, com cortinas e cores neutras.
Durante o período de aula, é aconselhável a presença de um acompanhante escolar para atender as particularidades do aluno autista. Esse profissional pode ser um estagiário de pedagogia, por exemplo.
O objetivo é que a criança seja exposta à estimulação de perto, em todo o período da aula: o acompanhante irá orientar sobre as atividades que o professor ministra, irá influenciar a interação com outros colegas e garantir que o autista tenha acesso a recursos pedagógicos que o auxiliem.
Uso de linguagem figurada dificulta a compreensão dos autistas; adotar linguagem visual, facilita
O principal auxílio pedagógico é o apoio visual, isto é, utilizar comandos e instruções relacionados a imagens. Essa união faz com que a criança tenha acesso a informações por duas vias, a visual e a falada, proporcionando um melhor entendimento.
Portanto, recursos como fotografias, desenhos, material dourado, material montessoriano para matemática, ábaco e quebra-cabeças de letras e números são utilizados frequentemente.
O professor também deve falar de modo concreto, evitar figuras de linguagem como metáforas ou hipérboles. Frases como, “Você vai morrer de tanto estudar”, “Fulano é um gênio”, “Que calor infernal”, “Aquele aluno chorou rios de lágrimas” deixam os autistas confusos sobre o que realmente se trata.
Adaptar o conteúdo aos interesses restritos da criança autista ajuda a conquistar sua atenção
Crianças com autismo apresentam interesses restritos e repetitivos, também conhecido como hiperfoco, demonstrando um verdadeiro fascínio por tudo que está relacionado ao seu tema de interesse.
Dessa forma, os educadores podem usar os interesses da criança para desenvolver o conteúdo pedagógico. É possível, por exemplo, inserir esses temas nas atividades e utilizar esse recurso sempre que necessário, principalmente quando o aluno se mostra desmotivado e introspectivo.
Por fim, trago o conceito de generalização, no qual um comportamento passa a ser autônomo e ocorrer em diversos ambientes, frente a diversos estímulos. Por exemplo, ao ensinar o autista sobre a obrigatoriedade de atravessar a rua na faixa de pedestres e com o sinal aberto, é importante repetir o ensinamento várias vezes e em diversas situações e lugares. O mesmo se aplica ao conhecimento acadêmico, ao se ensinar matemática.
O ideal seria introduzir exercícios práticos em sala de aula, com números em EVA ou fichas sobrepostas para numeração. Em sequência, é recomendável realizar um teatro sobre pagar uma conta de luz e receber o troco correto, ou até mesmo levar o aluno para uma aula na cantina da escola, onde ele irá se comunicar com o atendente e comprar o seu próprio lanche.
Yasmine Martins
Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com Especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE).
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