Uma a cada 36 crianças é autista, segundo CDC
Levantamento é divulgado a cada dois anos; em 2004, o total era de 1 a cada 166
Em março, o CDC lançou um documento que mostra uma mudança na prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA): 1 em cada 36 crianças de 8 anos foram identificadas com TEA nos EUA no ano de 2020.
A prevalência de pessoas com TEA vem aumentando progressivamente ao longo dos anos. Em 2004, o número divulgado pelo CDC era de 1 a cada 166. Em 2012, esse número estava em 1 para 88. Já em 2018, passou a 1 em 59. Em 2020, a prevalência divulgada estava em 1 em 54.
Atualmente, o número ainda é maior que as estimativas do último estudo. Publicado em 2 de dezembro de 2021, o relatório anterior do CDC mostrava que 1 em cada 44 crianças aos 8 anos de idade era diagnosticada autista, segundo dados coletados no ano de 2018, em contraponto com o número atual de 1 em cada 36 crianças.
Dados divulgados pelo CDC são usados como referência em todos o mundo
O que é o CDC?
CDC é o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, sediada na Geórgia, e tem o objetivo de proteger o país das ameaças à saúde e à segurança, tanto no exterior quanto em território americano. Para isso, conduz pesquisas e fornece informações de saúde em diversas áreas.
O CDC vem rastreando o número e as características de crianças autistas há mais de duas décadas em diversas comunidades americanas. As pesquisas são divulgadas a cada dois anos e se baseiam em dados coletados quatro anos antes da publicação.
Mesmo que não sejam dados brasileiros, o Brasil ainda usa os estudos do CDC como base, por não ter pesquisas concretas sobre a prevalência no país.
Como a pandemia de covid-19 afetou o tratamento e prognóstico do TEA?
O último estudo, divulgado em 2021, mostrava que as crianças de até 4 anos tinham 50% mais chances de receber um diagnóstico de autismo quando comparadas às crianças de 8 anos. Ou seja, enquanto esse estudo mostrava que diagnósticos estavam sendo cada vez mais precoces, no estudo atual tivemos uma mudança de panorama.
Os novos estudos publicados pelo CDC mostraram que, além do número de crianças autistas ter crescido, o diagnóstico também está mais tardio. Esse fato é importante, pois quanto mais cedo começamos o acompanhamento e tratamento, melhor será o prognóstico no futuro.
Uma análise nesse estudo do CDC, comparando o número de avaliações e identificações de TEA antes e depois do início da covid-19 constatou que, antes da pandemia, crianças de 4 anos recebiam mais avaliações e identificações do que crianças de 8 anos quando tinham a mesma idade. No entanto, essas melhorias na avaliação e detecção de TEA foram eliminadas a partir de março de 2020.
Ou seja, a identificação de TEA após o início da pandemia passou a ser mais tardia. Esse atraso pode trazer efeitos para o resto da vida, ao passo que demorar para identificar significa atrasar a busca por profissionais especializados e atrasar o início do acompanhamento.
O que o novo documento do CDC fala sobre as comorbidades?
A deficiência intelectual (DI) pode afetar a capacidade de uma pessoa aprender em um nível esperado e funcionar na vida diária. Segundo o estudo divulgado, entre as crianças de 8 anos com TEA, mais de um terço (37,9%) também apresentava DI com base nos achados.
O TEA foi identificado em taxas mais altas em alguns grupos de crianças do que em anos anteriores
Enquanto no relatório de 2020 e 2021 não existiam diferenças no número de crianças negras identificadas com autismo em comparação a crianças brancas, no relatório de 2023 tivemos uma mudança.
Pela primeira vez, os dados divulgados pelo CDC descobriram que a porcentagem de crianças negras de 8 anos (2,9%), hispânicas (3,2%) e asiáticas ou das ilhas do Pacífico (3,3%) com TEA era maior em comparação a crianças brancas de 8 anos (2,4%).
Embora tenha havido progresso na identificação de TEA entre crianças de todas as raças e etnias, ainda existem preocupações sobre a porcentagem de crianças negras autistas que também tinham DI (50,8% entre crianças de 8 anos). Essa porcentagem é maior do que para crianças hispânicas (34,9%) ou brancas (31,8%).
Autismo, diagnóstico e a diferença entre os sexos
Na última pesquisa divulgada pelo CDC, em 2021, também não tínhamos dados concretos sobre diferenças entre os sexos. Na pesquisa divulgada em 2020, há o resultado de que para cada 1 menina com TEA, há 4 meninos com TEA.
Atualmente, segundo dados divulgados em 2023, pela primeira vez, a porcentagem de meninas de 8 anos identificadas com TEA foi superior a 1%. No entanto, uma realidade persiste: os meninos mantiveram quase quatro vezes mais chances de serem identificados com TEA do que as meninas.
Novamente, como já comentamos diversas vezes em nosso blog, ainda não sabemos ao certo se o número de pessoas com o transtorno realmente está aumentando ou se apenas o número de diagnósticos está crescendo. A maioria dos pesquisadores acredita na segunda afirmação, de que cada vez mais acontece o acesso ao diagnóstico por parte dos pacientes, somado à qualidade da informação por parte dos profissionais da saúde, aumentando assim o número de diagnósticos.
Por fim, deve-se pensar também no futuro.
Com o aumento do número de diagnósticos, tem-se objetivamente um futuro aumento do número de adultos autistas. Espera-se que o acesso ao tratamento se intensifique para que esses adultos tenham uma melhor qualidade de vida. Mas, mesmo que isso ocorra, ainda há a necessidade de pensar em mais intervenções voltadas a todas as idades e de modos de adaptações da sociedade como um todo para ocorrer uma melhor inserção da pessoa com TEA.
Escrito por Clarisse Sá, Teia.Work
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