Autistas influenciadores

25/03/2021TEA no Dia a Dia0 Comentários

Perfis compartilham trajetória em busca de diagnóstico, como lidam com episódios de crise e questões sociais e familiares

Uma série de influenciadores autistas vêm conquistando cada vez mais espaço nas redes sociais, contando detalhes sobre sua rotina, como lidam com episódios de crise, expondo suas características e refletindo sobre capacitismo, o preconceito contra pessoas com deficiência.

As mensagens e o esclarecimento de dúvidas ajudam não só outras pessoas com autismo no processo de autoaceitação, aceitação de diagnóstico e autoconhecimento, mas também pais, mães e pessoas neurotípicas interessadas em compreender melhor o transtorno.
Abaixo, fizemos uma lista de cinco influenciadores com histórias bem interessantes.

Autodiagnosticada com autismo, Lu Viegas é mãe de autista, professora, ativista e idealizadora do #VidasNegrasComDeficienciaImportam

Lu Viegas
Instagram: @umamaepretaautistafalando
Twitter: @luu_viegas
Facebook: Luciana Viegas Caetano

Luciana Viegas é uma autista autodiagnosticada e mãe de duas crianças, uma delas um garoto autista não verbal. Ela faz parte da Abraça (Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas) e é idealizadora do movimento #VidasNegrasComDeficienciaImportam. Luciana discute a interseção entre racismo e capacitismo e como isso afeta a oferta de acompanhamento da saúde das pessoas negras.

Seu autodiagnóstico, inclusive, revela a dificuldade. “Após anos sendo marginalizada e diagnosticada erroneamente, ainda não encontrei um profissional que se dispusesse a olhar pra mim e para minha condição sem me marginalizar ou, até mesmo, sem o olhar racista”, afirma.

Em seus textos mais recentes, ela reflete sobre o maternar de mulheres atípicas, descreve suas crises de processamento sensorial, defende a educação inclusiva e discute a hierarquia implícita na relação entre médicos e pacientes do chamado “modelo biomédico”. Luciana também acompanha o BBB e faz análises da disputa em seu perfil do Twitter.

Sobre o maternar atípico, ela conta que pesa uma cobrança ainda maior por conta de idealizações capacitistas. “Ser mãe muda a gente. Humaniza, simplifica e enlouquece. Gosto dessas três palavras pra pensar em maternidade. Acontece que esse processo quando você é uma mãe neurodiversa, é intenso e acaba nos deixando um enorme fardo de culpa.”

Luciana também é professora de escola pública e promove formação de práticas inclusivas em salas de aula.

Diagnosticado aos 35 anos, Fábio Sousa busca dar visibilidade a autistas negros e conta como lida com as peculiaridades do seu autismo

Tio Faso
Instagram: @seeufalarnaosaidireito, @tiofaso
Twitter: @tiofaso
Facebook: Se eu falar não sai direito
YouTube: Se eu falar não sai direito

O designer Fábio Sousa é um autista negro que só foi diagnosticado em 2018, aos 35 anos. Desde então, atua como ativista na conscientização do autismo. Assim como Luciana, Fabio também discute as interseções entre racismo e capacitismo em seus perfis. “`Pensar em negritude no meio [autista] não é segregar, mas juntar as nossas vozes para falar mais alto”, afirma em uma de suas publicações mais recentes.

Em seus perfis, Fábio busca aumentar a visibilidade de pessoas negras autistas e vamos deixar aqui indicações que encontramos no perfil dele para você conhecer: @rita.louzeiro_art, @desenhistadasruas, @autistaehamae, @theblackautism, @maeatipicapreta, @sapatao_autista, @paradoxa_edu, @heyautista, @yaraleone.

Fábio também compartilha com os seguidores como seu autismo se manifesta e influencia sua rotina. Ele conta as estratégias que adota para lidar com seu pensamento rigído, descreve o pesadelo que é ir ao mercado e a forma como seus stims (também chamados de estereotipias) se manifestam. Ele conta de forma leve como essas dificuldades se apresentam e quais as estratégias que adota para lidar com elas no dia a dia.

Ele participa com frequência de lives e debates sobre diversos temas relacionados ao autismo, desde seu relacionamento com uma mulher neurotípica, passando pelo diagnóstico na vida adulta.

Diagnosticada após os 40 anos, Dani Sales divide experiências pessoais e fala de autismo na vida adulta

Vida de autista
Instagram @vidadeautista
Facebook: Vida de autista
YouTube: Vida de autista

Diagnosticada com autismo em 2017, aos 42 anos, Daniela Sales divide no Instagram mensagens que vão de memes divertidos a dicas para desenvolver o autoconhecimento e melhorar a saúde mental.

Ali também divulga seus vídeos do YouTube, em que discute com mais profundidade temas que afetam o cotidiano de adultos com autismo. Sexo, relacionamento, emprego, sinais do autismo nos adultos e medicamentos fazem parte da extensa lista.

Dani compartilha também experiências pessoais, como a crise que sofreu quando o vizinho do andar de cima usou uma lixadeira de piso durante um dia inteiro. “Fiquei completamente desregulada, sem conseguir inclusive trabalhar por algumas horas”, conta.

Os reflexos do estresse se prolongaram pelo dia seguinte, ainda com o barulho da máquina na cabeça. Depois de uma caminhada, desabou a chorar. Nestes momentos, ela precisa ficar só. “É como se eu ficasse frágil, precisando de colo, mas ao mesmo tempo não consigo lidar com todo o sentimento, com todo o amor. A gente não sabe lidar com tudo que estamos sentindo e muitas vezes precisamos ficar solitários no nosso universo particular para voltar ao equilíbrio e encarar novamente esse mundo caótico em que vivemos.”

Além de manter seus canais, ela é também autora do e-book Guia Prático para Autistas Adultos: Como não surtar em situações do cotidiano, disponível de graça para quem assina o Kindle Unlimited.

Podcaster, YouTuber, ativista, programador e pesquisador comenta polêmicas e explica conceitos essenciais para compreender o autismo

Willian Chimura
Instagram: @chimurawill
YouTube: Willian Chimura
Facebook: Willian Chimura
Twitter: @chimurawill

Willian Chimura é um jovem ativista que tem autismo leve, é programador e faz mestrado em Informática para Educação no IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul). Willian é um dos participantes do podcast Introvertendo, criado, produzido e apresentado só por autistas. Ele também se dedica a pesquisar como apps e jogos podem contribuir para avaliação e aprendizagem de crianças com TEA.

Willian não se furta de discutir questões polêmicas da comunidade autista e se coloca em uma posição que tenta estabelecer consenso pelo diálogo. “Autistas estão cansados de ser desrespeitados até mesmo por parlamentares e outros representantes da sociedade, como se fossemos uma população irrelevante”, afirma em um de seus posts a respeito da postura de um humorista e sua repercussão na comunidade. “Não acredito que se basear em mecanismos de punição seja uma boa via para alcançarmos o cenário de conscientização e respeito que desejamos”, complementa.

William atua em favor de políticas públicas que ampliem e garantam os direitos dos autistas, como a educação inclusiva. Em seu canal no YouTube, explica características do autismo e conceitos básicos para quem quer entender melhor o transtorno, como reciprocidade social-emocional, sensibilidade sensorial e hiperfoco.

Fotógrafo e escritor fez série de entrevistas durante a pandemia e fala do seu desenvolvimento no espectro

Nicolas Brito
Instagram: @nicolasbritosalesoficial
Facebook: Nicolas Brito Sales

O fotógrafo, escritor e palestrante autista Nicolas Brito conta com o apoio da mãe, Anita, para gerenciar seu perfil no Instagram. Eles contam sobre o desenvolvimento de Nicolas em relação, por exemplo, à comunicação e à seletividade alimentar.

Ao longo do ano passado, conduziu o projeto “Nicolas entrevista”, com bate papo com influenciadores da comunidade, como o ex-participante do Pequenos Gênios Pedro Melim, Wilian Chimura e a atriz Bel Kutner, que tem um filho autista.

Um post imperdível de Nicolas é um em que questiona algumas expressões em português usadas pelos neurotípicos. Há autistas que interpretam literalmente expressões abstratas e Nicolas explica como esse processo acontece em um post com a imagem da atriz Cleo Pires com um sapo na boca.

Na publicação, ele divide reflexões registradas em seu livro “Tudo o que eu posso ser”, de 2017. “Pelo amor de Deus, minha gente, tem alguma coisa mais nojenta que engolir um sapo? […]”, argumenta Nicolas. “Minha mãe me explicou que significa ‘ter que aguentar desaforos ou folgadices de pessoas’. Aí eu pergunto a vocês: ‘O que um sapo tem a ver com essa história e entrar na sua boca?’. Se você tem que aguentar alguma coisa de alguém sem falar nada, a expressão poderia ser alguma coisa com ‘colocar uma fita adesiva na boca’! Para mim, faz muito mais sentido que ‘engolir sapo’”.

Dificuldade de lidar com conflitos internos da comunidade autista levou Tabata Cristine a dar uma pausa em sua atuação nas redes

Meu Mundo Atípico
Instagram: @tabata_meumundoatipico

A designer Tabata Cristine foi diagnosticada tardiamente com autismo e se propõe a conscientizar sobre o autismo de forma leve e franca com seus vídeos no Instagram. Tabata mora com uma companheira neurotípica, que conheceu em um aplicativo de paquera e costuma falar bastante sobre seu relacionamento.

Tabata também cria conteúdo que rompe estereótipos de autismo nos quais ela mesma não se encaixa, como a inteligência acima da média, normalmente relacionada às pessoas com autismo leve, e as disfunções auditivas – ela, inclusive, gosta de baladas com som alto.

No início de fevereiro, decidiu se afastar das redes por se sentir frustrada com conflitos internos da comunidade autista. Mesmo com a pausa, ainda vale a pena conferir o conteúdo disponível em seu perfil, com discussões sobre auto-estima, relações familiares, racismo e autismo na terceira idade.

 

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