Vacinação contra o novo coronavírus
Entenda como funcionam as principais vacinas contra a covid-19 aplicadas no Brasil
A vacinação contra a covid-19 vem avançando no Brasil. Desde o início do ano, mais da metade da população recebeu ao menos a primeira dose e, a partir deste semestre passou a ser oferecida a terceira dose, de reforço, para idosos, em diversos estados.
Vacinação é um tema importante a ser abordado pela comunidade autista. Uma das razões é reforçar que já foi superada a hipótese de que vacinas causam autismo. O médico que ganhou fama ao suspeitar da relação entre vacinas e a causa do autismo teve seu registro cassado em 2010.
Um outro ponto é a necessidade de inclusão dos autistas em grupos prioritários de vacinação, por se tratarem de pessoas com deficiência e que, em muitos casos, lidam com comorbidades que podem torná-los mais vulneráveis que a população em geral.
Nos Estados Unidos, onde a imunização foi implementada rapidamente no início deste ano, a meta de imunizar 70% da população até o dia 4 de julho não foi alcançada e a vacinação plena enfrenta resistência por causa dos chamados grupos antivax, os antivacina. Neste texto, trazemos esclarecimentos sobre as principais vacinas contra a covid-19 aplicadas no Brasil para que, caso você tenha qualquer dúvida, ou conheça alguém que tenha, possa se sentir seguro para ser imunizado.
Eficácia de uma vacina é medida em ambiente controlado enquanto a eficiência, na aplicação de todo o universo populacional
Qual a diferença entre eficácia, eficiência e segurança de uma vacina?
A eficácia de uma vacina é a capacidade de estimular o organismo a produzir uma resposta imunológica que proteja a pessoa de um determinado agente, como o vírus da gripe ou o SARS-Cov2 (nome cietnífico do novo coronavírus, causador da covid-19).
O termo eficácia se refere ao percentual de pessoas vacinadas que adquirem imunidade ao vírus quando é feito um estudo controlado. Se a eficácia de uma vacina é de 90%, quer dizer que, no estudo controlado, 90 a cada 100 participantes foram imunizados.
Isso também quer dizer que dez pessoas não serão imunizadas e a proteção delas vai depender de que o maior número de pessoas tome a vacina e reduza a circulação e a possibilidade de geração de novas cepas do vírus. Por essa razão é que se diz que a vacinação é uma decisão coletiva e não individual.
A eficácia de uma vacina é diferente de sua eficiência. Isso porque a eficácia é calculada com base no ambiente de um estudo controlado. Já a eficiência é calculada quando a aplicação das vacinas passa a ser adotada em toda a população – quando a imunização passa do ambiente controlado para o cenário real.
Quando falamos na segurança de uma vacina, o objetivo é garantir que ela não traga riscos à saúde. Por isso, ao produzir uma vacina, precisamos colocar na balança a eficácia e a segurança, pois se houver um sem o outro, o uso é inviável.
Vacinas com patógenos atenuados possuem o vírus vivo, mas enfraquecido
Qual é a diferença da composição das vacinas?
Em geral, podemos dividir as vacinas em composições com patógenos atenuados, com patógenos inativados, ou de subunidades.
As vacinas com patógeno atenuado têm o microrganismo vivo (vírus ou bactérias, por exemplo), mas em uma versão enfraquecida. Eles se encontram na forma ativa, porém sem capacidade de produzir a doença, apenas de estimular a produção de anticorpos em nosso corpo.
Dentro do corpo humano, o vírus ou a bactéria atenuada é capaz de se replicar, de maneira lenta, sem causar danos ao organismo. A exposição prolongada ao vírus durante a lenta replicação induz uma resposta imunológica.
São exemplos de vacinas com patógeno atenuado: caxumba, febre amarela, poliomielite oral (VOP), rubéola, sarampo, varicela. Vacinas com patógeno atenuado não são recomendadas para pessoas com doenças que prejudiquem o sistema imunológico ou fazem uso de medicações que causem esse efeito e para gestantes.
Vacinas inativadas são produzidas com o vírus morto ou com pequenas partes dele
As vacinas inativadas são produzidas a partir de patógenos mortos ou de subunidades deles. São utilizados para inativar o vírus produtos químicos, calor ou radiação.
O modo de gerar imunidade na pessoa que recebe esta vacina é diferente da vacina com patógeno atenuado. Esta vacina não tem o poder de simular a doença, mas é capaz de enganar o sistema imunológico, fazendo com que ele acredite que foi infectado e, assim, comece a produzir imunidade.
Essas vacinas podem potencializar a resposta imune de uma pessoa. Vacinas inativadas não têm risco de causar infecção em pessoas imunodeprimidas ou em gestantes e tendem a ter esquemas vacinais com mais de uma dose, como as vacinas de poliomielite injetável (VIP) e de hepatite B. Outros exemplos de vacinas inativadas são: hepatite A, gripe e as atuais vacinas para SARS-Cov2.
As vacinas para SARS-Cov2 que estão em aplicação são de vírus inativado (CoronaVac) ou de partículas virais (AstraZeneca). Vamos discutir um pouco sobre cada uma delas.
CoronaVac é feita com vírus inativado e tem 50% de eficácia
CoronaVac
Esta vacina é feita com o vírus inteiro, porém inativado. Outras vacinas que também utilizam esse processo são a contra poliomielite (VIP) e a da gripe.
O esquema de vacinação é composto por duas doses com intervalo entre duas a quatro semanas entre as aplicações.
A CoronaVac foi desenvolvida pela biofarmacêutica chinesa Sinovac Biotech e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Na fase de testes dessa vacina, participaram mais de 12 mil voluntários entre 18 e 59 anos. Entre eles, não houve efeitos colaterais graves em nenhum e apenas 35% dos voluntários apresentaram algum tipo de reação adversa, todas elas classificadas como grau leve, como dor local e febre baixa.
A eficácia geral apresentada pelo Instituto Butantan para a CoronaVac nos testes brasileiros iniciais foi de 50,38%. A vacina mostrou-se 100% eficaz nos casos moderados e graves e 78% eficaz nos casos leves da covid-19.
Ou seja, alguém vacinado com as duas doses tem 50% de chance de contrair o vírus SARS-Cov2, mas tem aproximadamente 100% de chance de não desenvolver a covid-19 em sua forma grave.
AstraZeneca usa vírus enfraquecido e tem 70% de eficácia
AstraZeneca
Essa vacina foi desenvolvida pelo grupo farmacêutico britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford. O esquema de vacinação é de duas doses do mesmo fabricante e com intervalo de 12 semanas entre as aplicações.
O processo de produção dessa vacina envolve o que se chama de vetor viral, uma espécie de vírus enfraquecido, que estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos.
O vírus enfraquecido usado na AstraZeneca é modificado para não se multiplicar e carrega uma parte do material genético do SARS-CoV-2 que é responsável pela produção da proteína “Spike”, que ajuda a invadir células humanas.
Assim, após a vacinação, o vírus invade as células do corpo humano, não consegue se multiplicar (por isso não consegue causar doença), mas começa a produzir essa proteína Spike. Então, o corpo humano é ensinado que toda partícula com essa proteína deve ser destruída. Dessa forma, quando houver invasão do corpo pelo vírus da covid-19, que possui a proteína Spike, o sistema imune reconhecerá rapidamente o vírus e trabalhará para destruí-lo. Este mecanismo de vacina é parecido com o da vacina da dengue.
A eficácia geral apresentada pela AstraZeneca nos estudos iniciais para a vacina nos testes foi de cerca de 70% após a aplicação das duas doses. Sendo assim, tem grande potencial de redução do número de internações pela doença, pois há cerca de 70% de chance de não haver infecção pelo vírus.
Janssen usa o mesmo modelo da AstraZeneca, de combate à proteína Spike, para imunização
Janssen
A vacina da Janssen tem eficácia global de 66,9% contra a covid-19. O esquema de vacinação é de apenas uma dose, pois foi verificada eficácia suficiente nos estudos feitos em fase emergencial da pandemia.
Assim como o imunizante da AstraZeneca, a vacina da Janssen também adota um vetor viral como forma de criar a imunidade e a produção da proteína Spike para produzir resposta imunológica.
Pfizer usa parte do material genético do vírus para gerar resposta imunológica
Pfizer
Esta vacina não utiliza o vírus inteiro e sim apenas uma parte do material genético dele, chamada de RNAm.
O RNAm ajuda o sistema imune humano a produzir imunidade para o novo coronavírus . Essa imunidade é feita a partir do momento que este RNAm induz o corpo humano a produzir uma proteína encontrada na superfície do vírus, que não produz doença mas estimula a produção de anticorpos. Não existem outras vacinas iguais a essa no mercado.
O uso desta vacina para adolescentes de 12 a 15 anos foi aprovado pela Anvisa em junho. É a única aprovada para adolescentes, após apresentar eficácia de 100% nos estudos clínicos com esta população. O esquema vacinal completo tem duas doses com intervalo de três semanas, mas o Brasil adota um intervalo de 12 semanas. A eficácia global da vacina é de 95%, ou seja, há 95% de chance de escapar da infecção.
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