TEA em adultos: diagnóstico tardio, camuflagem social e comportamentos que merecem atenção 

25/10/2025Destaques, Diagnóstico, TEA no Dia a Dia0 Comentários

TEA em adultos: diagnóstico tardio, camuflagem social e comportamentos que merecem atenção

É comum associarmos o Transtorno do Espectro Autista (TEA) a crianças. Mas o fato é que o diagnóstico em adultos tem sido cada vez mais frequente. Independentemente da fase, descobrir a condição pode ajudar na compreensão de características,  singularidades e desafios que sempre estiveram presentes. O diagnóstico não muda quem a pessoa é, mas ajuda a compreender sua trajetória, ampliar o acesso a apoios adequados e fortalecer a autoestima e o pertencimento.

Como é de se imaginar, o diagnóstico de TEA na fase adulta é mais comum em pessoas com nível de suporte 1, ou seja, com menor necessidade de apoio no cotidiano. Esse cenário, inclusive, contribui para que o reconhecimento da condição aconteça mais tardiamente, já que muitos costumam ser vistos apenas como pessoas tímidas, reservadas ou com dificuldade em socializar, por exemplo.

Camuflando sintomas do TEA

Quando falamos em diagnóstico de adultos com TEA, é importante abordar a estratégia de camuflar características associadas ao transtorno, uma estratégia de adaptação social chamada de masking ou camuflagem social. Trata-se de uma prática adotada por pessoas dentro do espectro para se encaixarem em padrões sociais. Essa atitude, muitas vezes, é acompanhada da imitação de comportamentos neurotípicos e pode envolver imitar expressões faciais, gestos, entonações ou comportamentos de outras pessoas, além da supressão de traços individuais como interesses, modos de falar ou reações sensoriais próprias para evitar julgamentos e buscar aceitação. 

Embora possa facilitar a convivência em determinados contextos, o masking é uma prática preocupante. Deixar de ser quem se é, na tentativa de agradar ou de fugir de estigmas, traz impactos emocionais e até físicos, é emocionalmente exaustivo, frequentemente associado à ansiedade, depressão e esgotamento, e pode retardar o reconhecimento do TEA e o acesso a apoios adequados. 

Nesse sentido, é fundamental aumentar a inclusão e ampliar o debate sobre o TEA e a importância de respeitar a neurodiversidade.

Diagnóstico de TEA em adultos

Engana-se quem pensa que, por já ter chegado à fase adulta, o indivíduo não precisa de um diagnóstico de TEA. Mesmo com nível de suporte 1 e mais autonomia, o diagnóstico é fundamental para o autoconhecimento e para uma melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, é preciso entender que o atraso no diagnóstico impede o acesso a intervenções e orientações que podem impactar positivamente a vida da pessoa com TEA. Sendo assim, é necessário enfrentar o estigma ainda existente em torno do transtorno, inclusive entre médicos e profissionais de saúde, e ampliar o debate sobre o TEA e a importância de respeitar a neurodiversidade. Vale lembrar que ter um emprego, casar, ter filhos ou ser financeiramente independente não exclui a possibilidade de estar dentro do espectro. Como o próprio nome sugere, o espectro reflete justamente a diversidade de perfis e a amplitude das características individuais de cada um. Adultos com TEA são diferentes uns dos outros, assim como as crianças e os adolescentes. Reconhecer essa pluralidade é o primeiro passo para uma sociedade mais inclusiva e acolhedora. 

Como é feito o diagnóstico de TEA em adultos

O diagnóstico do TEA em adultos deve ser realizado por uma equipe multiprofissional especializada, que pode incluir psiquiatra, neurologista, fonoaudiólogo, psicólogo e terapeuta ocupacional. Esse processo envolve uma avaliação clínica detalhada, combinando entrevistas, histórico de vida, observações e testes específicos.

Entrevistas clínicas

As entrevistas clínicas têm o objetivo de compreender a história de vida, as características individuais, as queixas e as demandas atuais do adulto. Além disso, conversar com pessoas próximas como familiares, amigos ou parceiros, contribui para formar um panorama mais completo sobre o funcionamento e desenvolvimento ao longo da vida.

Histórico pessoal e familiar

Essa etapa envolve a investigação do desenvolvimento desde a infância, dos padrões comportamentais e de antecedentes familiares, oferecendo informações importantes sobre a trajetória da pessoa.

Ferramentas de avaliação

Entre os principais instrumentos utilizados estão:

  • ADOS-2 (Autism Diagnostic Observation Schedule – 2ª edição): instrumento de observação clínica que avalia comunicação, interação social e comportamentos repetitivos.
  • AQ-10: questionários de autorrelato que avaliam traços do espectro autista em adultos, incluindo habilidades sociais, comunicação, atenção aos detalhes, imaginação e tolerância à mudança. O AQ completo possui 50 itens, enquanto o AQ-10 é uma versão reduzida com 10 questões, indicada para triagem rápida. Ambos requerem habilidade de leitura e compreensão, associada ao Quociente de Inteligência Verbal (QIV).
  • RAADS-R (Ritvo Autism Asperger Diagnostic Scale – Revised):  instrumento de autorrelato destinado a adultos com inteligência média ou superior, composto por 80 questões que avaliam sinais de autismo segundo os critérios do DSM-IV. Recomendada pelo National Institute for Health and Care Excellence (NICE), apresenta elevada sensibilidade (97%) e especificidade. A aplicação deve ser realizada por profissional capacitado, sendo uma ferramenta complementar valiosa na avaliação clínica do Transtorno do Espectro Autista em adultos.
  • Escala de Responsividade Social – SRS-2: avalia sintomas sociais e comportamentais do TEA em crianças, adolescentes e adultos, oferecendo informações complementares para o diagnóstico clínico. Investiga informações qualitativas em cinco domínios: cognição social, comunicação social, consciência social, motivação social, maneirismos e comportamentos restritos.

Avaliação neuropsicológica

Além das entrevistas e escalas, é comum incluir uma avaliação neuropsicológica para investigar suspeitas de alterações cognitivas, auxiliando na compreensão do perfil funcional e no planejamento de intervenções.

Será que é TEA?

Quanto menor o nível de suporte necessário, maiores as chances de o diagnóstico de TEA ocorrer apenas na fase adulta. Aqui estão alguns sinais comuns que merecem investigação:

  • Dificuldades de comunicação e de interação social;
  • Tendência a interpretações literais de mensagens, com dificuldade para compreender nuances como ironia ou duplo sentido;
  • Sensibilidade aumentada a estímulos como luzes, sons, texturas e cheiros;
  • Padrões de comportamento repetitivos e resistência a mudanças;
  • Hiperfoco em assuntos específicos;
  • Menor facilidade para perceber sinais não verbais de interação social, como expressões faciais, gestos ou variações na voz (prosódia); 
  • Dificuldade em estabelecer trocas sociais e emocionais, como iniciar ou manter uma conversa, compartilhar interesses ou responder às interações do outro.
  • Desafios para criar, manter e compreender relacionamentos, como fazer amizades, entender regras sociais ou adaptar-se a diferentes contextos.

Em caso de suspeita, procure um profissional de saúde qualificado e tire suas dúvidas.

Precisamos falar mais sobre o autismo

Compreender melhor o Transtorno do Espectro Autista e suas singularidades é um passo importante para que possamos construir uma sociedade mais inclusiva, empática e saudável para todos. Nesse sentido, é essencial ampliar a adaptação de espaços para promover maior inclusão e acessibilidade, contribuindo para a qualidade de vida de pessoas com TEA e seus familiares, nos âmbitos social, educacional, profissional, de saúde e lazer. 

Reconhecer o autismo na vida adulta é reconhecer trajetórias, vivências e identidades que muitas vezes permaneceram invisíveis por anos. Cada identificação do autismo, mesmo que tardia, traz consigo  a possibilidade de compreensão, acolhimento e reconstrução de histórias. Ao promovermos informação, respeito e oportunidades, damos um passo essencial para que todas as pessoas, em sua neurodiversidade, possam pertencer plenamente à sociedade, com autenticidade, voz e dignidade.

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Referências:

Sanarmed. Transtorno do espectro autista no adulto: quais são os sinais? Disponível em: https://sanarmed.com/transtorno-do-espectro-autista-no-adulto-quais-sao-os-sinais-colunistapremium/ Acesso: 23 de setembro de 2025. 

Tua Saúde. Autismo em adultos: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento. Disponível em: https://www.tuasaude.com/autismo-em-adultos/ Acesso: 23 de setembro de 2025. 

PRIZANT, Barry M.; FIELDS-MEYER, Tom. Humano à sua maneira: um novo olhar sobre o autismo. São Paulo: Edipro, 2021. 288 p. ISBN 978-65-5660-113-7.

ZAPPAROLI, Alecsandra; RAMALHO, Cristina; INSTITUTO PENSI. O Futuro do Autismo – Tudo que você precisa saber para ajudar a construir espaços mais inclusivos para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). São Paulo: Galápagos Newsmaking / Instituto Pensi, 2025. 263 p. ISBN 978-65-98168-89-1.

 

 

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