Glifosato causa autismo?

28/06/2019Fake News1 Comentário

Suspeita de que agrotóxico cause o transtorno ainda não foi provada

Basta uma pesquisa rápida no Google para ver o quanto se comenta sobre a possível relação do glifosato com o desenvolvimento de autismo. O maior estudo já realizado sobre as causas do TEA revelou que os fatores ambientais são tão importantes quanto a genética para o desenvolvimento do transtorno. E enquanto os pesquisadores seguem trabalhando para desvendar a origem do autismo, muitas especulações aparecem no caminho. 

Mas, antes de tudo, o que é o glifosato? Ele é o agrotóxico mais vendido no mundo atualmente. Na década de 1990, foram lançadas sementes transgênicas de soja, milho e algodão resistentes ao herbicida, ampliando muito o uso dele nas lavouras. No Brasil, há 110 produtos comercializados com glifosato, de 29 empresas diferentes, e só em 2017, cerca de 173 mil toneladas foram usadas no país. 

Como  todos os agrotóxicos, o glifosato é um produto químico com venda e uso regulamentado por lei para evitar que o produto prejudique a saúde dos trabalhadores rurais e dos consumidores e afete o equilíbrio ambiental. Em 2015, a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer, entidade ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), alertou que o glifosato seria um “provável causador” de câncer. No entanto, diversos órgãos reguladores – como a agência americana de proteção ambiental (EPA), a Comissão Europeia e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) – deram pareceres positivos para o uso do glifosato. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez uma reavaliação sobre o herbicida e afirmou que ele “não apresenta características mutagênicas e carcinogênicas”. No entanto, a comunidade científica ainda debate o nível seguro e os potenciais efeitos do consumo do glifosato, já que é cada vez mais comum encontrar traços deste agrotóxico nos alimentos, nos reservatórios de água e até nos animais. 

Pesquisadora que relacionou glifosato e autismo não apresentou nenhum estudo

E, afinal, qual a relação do glifosato com o autismo? Tudo começou em 2014, quando Stephanie Seneff disse em um congresso que “o glifosato causará autismo em 50% das crianças até 2025”. Com PhD em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação, Stephanie Seneff é pesquisadora no Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência da Computação do MIT (Massachusetts Institute of Technology).

A afirmação de Seneff rapidamente ganhou a mídia, mas é importante entender os pontos delicados da argumentação dela. A pesquisadora mostrou um gráfico que alinhava o uso mais amplo do Roundup (produto com glifosato mais vendido no mundo) com a maior incidência de crianças com autismo, que passou de 1 em 5.000 em 1975 para 1 em 68 em 2014. Embora os dados sejam reais, Seneff não apresentou nenhum estudo comparando as taxas de diagnóstico de TEA em pessoas em contato com glifosato versus pessoas sem contato com o produto.

Tanto o uso do glifosato quanto os índices de autismo realmente aumentaram nos últimos anos, entretanto ainda não há respaldo científico da existência de uma relação de causa e efeito entre ambos. Além disso, é importante destacar que desde os anos 1970 os critérios de diagnóstico e os conhecimentos sobre o TEA evoluíram, permitindo detectar mais casos de autismo com maior eficiência do que antes. O portal do Dr. Dráuzio Varella fez uma análise detalhada de por quê a simples comparação de dois dados (aumento do uso de glifosato e aumento no número de diagnóticos de autismo) não é uma prova científica sólida para estabelecer uma relação de causa e efeito. 

1 Comentário

  1. Bem, não é sólido. Concordo. Contudo, é evidente e correlato. O que está em jogo é a próxima geração. Lembro bem quentinha o professor que dizia: na Europa, se quer tudo sem veneno porque eu quero com veneno? Na certa, sabe-se de algo que não sabemos. Isso parece o caso do airbag da Volkswagen.

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