Problemas alimentares no Transtorno do Espectro do Autista
Dinâmica familiar e nutrição infantil podem ser prejudicadas por restrições na escolha de alimentos
Crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam dificuldades em relação à escolha dos alimentos e à dinâmica dos momentos de refeição. Estima-se que estes problemas afetem de 45% a 75% delas.
As questões em torno das escolhas alimentares merecem destaque, pois, se mal administradas ou não tratadas, tornam-se crônicas, afetam a dinâmica familiar e podem provocar problemas nutricionais. Crianças com TEA são mais restritivas em relação à categoria e às texturas dos alimentos e apresentam uma maior incidência de recusa alimentar. As dificuldades sensoriais com sabores e cheiros e a dificuldade de incluir novos alimentos na dieta também são comuns.
Restrição pode fazer crianças com TEA consumirem não mais que 20 alimentos diferentes
Pais e mães costumam relatar um menor repertório de alimentos. Algumas demonstram extrema seletividade, com menos de 20 alimentos no repertório alimentar. Além disso, pode haver desejo persistente de comer sempre a mesma coisa, assim como preferência por determinadas apresentações. A fixação em determinados utensílios, marcas e embalagens também ocorre com frequência. Esses problemas costumam não ser transitórios e requerem um longo tempo de acompanhamento e suporte para os pais.
Problemas relacionados à socialização dificultam o ato de comer em grupo e tornam o aprendizado por imitação mais difícil. A inflexibilidade faz com que muitas crianças fiquem profundamente angustiadas com pequenas mudanças no ambiente e insistam em seguir rotinas detalhadas, que podem ser disfuncionais e caracterizar rituais que afetam as atividades diárias mais simples, a exemplo da alimentação.
Para algumas crianças com TEA, permanecer à mesa pode ser um desafio na hora de se alimentar
A respeito do momento da refeição, pode haver dificuldade em permanecer sentado à mesa e em comer com a família. Podem ocorrer também comportamentos disruptivos, que dificultam toda a dinâmica em torno da alimentação. Menos comum, porém prevalentes, seriam as alterações de motricidade oral, dificuldades com a ingestão de remédios e a retenção de alimentos na boca por períodos prolongados. A combinação de problemas orgânicos aliados aos problemas alimentares pode conduzir a um prognóstico ruim sob o ponto de vista nutricional, causando déficits, excesso de peso e até obesidade em alguns casos.
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Claudia de Cássia Ramos
Formada em Fonoaudiologia pela PUC, especialista em Dificuldades Alimentares e mestrado em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela UNIFESP. Fonoaudióloga do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI – Hospital Infantil Sabará/Fundação José Luiz Egydio Setúbal
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