Visão de mãe: um olhar sobre a sexualidade de jovens adultos autistas
Simone Alli Chair tem dois filhos, um homem e uma mulher, conta como enxerga o desenvolvimento de cada um e divide suas preocupações
Tenho dois filhos autistas adultos. A questão da sexualidade deles sempre me preocupava. Ficava especulando como seria a puberdade, a explosão de hormônios, a necessidade de uma companhia afetiva. Pois afinal, tudo saiu diferente do que eu havia imaginado.
Na questão de gênero, percebo o quadro um pouco mais favorável para a mulher. Principalmente para as autistas leves, que passam despercebidas por se comportarem de maneira mais inibida, acanhada.
Foi exatamente o que aconteceu com a Camila, hoje com 30 anos. Ela gosta de baladas, tem amigos, e para minha surpresa, sempre teve namorados, pois todos a julgavam muito tímida e segundo relato deles, isso era encantador.
Minha opção foi muita conversa e diálogo; o que ajuda bastante é o fato dela ser receptiva e me escutar sempre. A iniciação sexual começou de maneira tranquila, quando ela quis, assessorada, passando antes por uma ginecologista que a orientou muito bem. Está namorando com o Lucas faz cinco anos, está feliz e isso é o que mais me importa.
Separar um momento específico para conversar sobre sexualidade pode ajudar a tranquilizar pais e filhos
Quanto ao meu filho, ficava histérica em imaginar o sofrimento que ele teria na fase adulta. Pela minha experiência na Associação de Pais Inspirare, recebia relatos de muitos autistas homens com depressão em função da sexualidade e da afetividade mal resolvidas.
Em razão disso, resolvemos montar na Clínica DiversaMente, um grupo de autistas adultos, para reuniões semanais ou mensais para discutirmos assuntos pertinentes como a sexualidade, emprego, faculdade. Nossa primeira reunião será dia 03 de outubro, em Moema. Mas, enfim, um dia me sentei ao lado de meu filho e batemos um longo papo.
Hoje, o Gabriel tem 22 anos e numa conversa franca, me explicou que não tem muito interesse no assunto. Ele é tranquilo, de boa, bem humorado, o palhaço da família, sempre com umas tiradas engraçadas para colorir a nossa vida.
Agradeço a Deus a sorte que tive. Precisamos ficar sempre atentos aos sinais de como cada um de nossos filhos autistas reage à determinada situação. Assim, poderemos pensar a respeito e verificar a melhor forma de ajudá-los, sem pressão, sem forçar, sem julgamentos. Aceitá-los como são já é um excelente começo.
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Simone Alli Chair
Diretora da Associação de Pais Inspirare, sócia fundadora da Clínic DiversaMente, graduada em Serviço Social, pós- graduação em TEA, pós- graduanda em Transtornos Comportamentais Escolares e pós-graduanda em Inclusão e Direitos da Pessoa com Deficiência.
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