ABA: como reforçar comportamentos adequados em crianças autistas

24/09/2021Tratamentos0 Comentários

Análise da interação das pessoas com o ambiente permite adotar métodos para mudar comportamentos

A análise do comportamento é uma vertente da psicologia que leva em consideração o comportamento humano em interação com o ambiente ao seu redor, e que usa métodos para modificar certos comportamentos (como as habilidades sociais, de comunicação, cognitiva e acadêmica).

O conceito de ambiente é entendido como tudo aquilo que afeta o comportamento. Leva em conta tanto aspectos mecânicos, como o som ou o vento, quanto aspectos sociais, como a presença de pessoas, e como elas falam ou agem. Essa vertente da psicologia estuda como os sujeitos interagem com seu ambiente a partir do que costumamos chamar de condicionamentos ou de reforçadores.

Comportamentos podem ser respondentes (inatos) ou operantes (segundo consequências)

Outro conceito importante é o de comportamento que se subdivide em respondente e operante.

O primeiro, respondente, se refere a comportamentos que o indivíduo não controla, como salivar ao sentir cheiro de comida. Ou seja, é uma relação mecânica entre o estímulo do ambiente e a resposta a este estímulo.

O comportamento respondente é inato, os sujeito já nascem com essa habilidade. Já no comportamento operante, as respostas são afetadas pelas consequências, e não se relacionam a uma habilidade automática. Dependendo da consequência, esse tipo de comportamento continua acontecendo ou não. Quando a consequência reforça o comportamento, ele ganha cada vez mais intensidade.

Afeto é o maior reforçador humano e pode ser usado para transformar comportamentos

Um exemplo prático seria uma cena na qual a mãe chama para ir ao banheiro, a criança se joga do chão, chora e diz que não quer ir. Então a mãe fala: “tudo bem, vamos mais tarde”. A resposta da mãe reforça que o comportamento de birra retorne quando ela chama para ir ao banheiro novamente.

Para melhorar o comportamento de birra, a mãe poderia analisar o que reforça o comportamento adequado do filho, como um brinquedo especial, ou alguma comida que interesse muito à criança. É possível usar até mesmo o afeto, que é o maior reforçador humano. Ao usar esses reforçadores no momento exato da birra, a criança irá associar “ir ao banheiro” com estímulos reforçadores positivos.

Técnicas para o processo de reforçamento são fundamentais para treinar novas habilidades

A consequência é fundamental para ensinar ou evitar comportamentos. Sem ela, o ser humano não aprenderia novos modelos de agir. No caso de autistas, a utilização de reforçadores é primordial no treino de habilidades que eles desenvolvem pouco, como a interação social e a comunicação.

Os reforços, positivos ou negativos, são consequências que aumentam a probabilidade da resposta. Os principais reforços comestíveis são pipoca, batata, chocolate e amendoim. Os reforçadores sensoriais são brinquedos com sons e luzes, os reforçadores de atividades são brincar no parque, ir ao shopping e ir ao cinema. Os reforçadores sociais são abraços, beijos e elogios.

Também existe a autoestimulação, que são atitudes prazerosas sem nenhum estímulo do ambiente externo. Por exemplo, um autista com estereotipias é motivado pela autoestimulação, devido ao próprio organismo reforçar esse comportamento.

Uma opção seria substituir a estereotipia por outro comportamento, mais adaptado ao cotidiano ou que tenha alguma funcionalidade na vida da criança. Por exemplo, se a estereotipia é girar qualquer bolinha que se vê, pode-se reforçar o comportamento de empurrar um caminhãozinho ou brincar de jogar bola. Repita o procedimento quantas vezes for necessário e reforce com entusiasmo todas as vezes em que ela empurrar o carrinho para frente.

Punições precisam ser bem avaliadas, pois podem acabar funcionando como reforço

A punição diminui a probabilidade de um comportamento acontecer, mas para ser efetiva temos que refletir sobre qual atitude funciona como punição. Discursos longos ou discussões podem não agir como punição, e sim como reforço porque fica subentendida a atenção que a criança está recebendo. O ideal seria avaliar o que age como punição de maneira individual.

Portanto, antes de iniciar a análise do comportamento, é necessário avaliar quais tipos de reforçadores, consequências e punições são adequadas para cada criança. Geralmente, a recompensa verbal é adequada e suficiente para reforçar comportamentos, mas com crianças autistas o ideal é adotar reforçadores tangíveis, ou seja, concretos, como brinquedos com luzes ou sons, comidas ou vídeos de músicas.

 

Yasmine Martins

Yasmine Martins

Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com Especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE).

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