Item facilita identificação de autistas e outras pessoas com deficiências ocultas, mas não substitui documentos

O autismo é uma deficiência invisível. Ou seja, não há maneiras de identificar apenas visualmente o transtorno, e por isso não faz sentido dizer que alguém parece ou não autista.  Não existe um fenótipo para o autismo como existe para pessoas com síndrome de Down, por exemplo. Como o autismo é um espectro, ele se manifesta de forma única em cada pessoa, sendo impossível tentar achar um padrão visual para identificá-la. Esta multiplicidade pode dificultar até mesmo a busca por diagnóstico, que pode levar anos.  

Justamente pela dificuldade de identificação imediata, autistas, familiares e cuidadores costumam passar por situações constrangedoras quando precisam acessar serviços prioritários ou destinados exclusivamente a pessoas com deficiência.

No mês de julho, no entanto, foi aprovada uma lei para facilitar a identificação em todo território nacional, não só de pessoas com autismo, mas também outras pessoas com deficiências invisíveis – como surdez, deficiências cognitivas e limitações intelectuais, por exemplo. A lei 14.624  oficializou o cordão de fita com desenhos de girassóis como símbolo nacional de identificação de pessoas com deficiências ocultas. 

 

Cordão de girassol facilita a identificação e possibilidade de oferecer suporte

O uso do cordão é opcional. Quem usa, no entanto, ainda precisa apresentar um documento que comprove a deficiência, caso seja solicitado. Quem não usa continua tendo os mesmos direitos garantidos por lei. 

Os autistas são oficialmente considerados pessoas com deficiência no Brasil desde a aprovação da lei 12.764, a chamada Lei Berenice Piana, em 2012. 

O principal objetivo do uso do cordão de girassol é facilitar a identificação das pessoas e permitir que tenham rápido acesso aos seus direitos – como filas, assentos e vagas preferenciais – sem passar por constrangimentos. 

O supermercado, por exemplo, é um lugar que pode ser extremamente desconfortável para um autista. Cheio de luzes, com som alto e diferentes aromas, pode se tornar um pesadelo para pessoas com hipersensibilidade. Passar à frente na fila para poder sair mais rápido pode ser muito importante para estas pessoas. Mas, como não se trata de uma deficiência visível, há quem duvide, reclame ou gere constrangimento para autistas e familiares neste momento. O cordão de girassol facilita o reconhecimento destas pessoas e as ajuda a receberem suporte mais rapidamente.

 

Cordão começou a ser usado em 2016 no aeroporto de Gatwick, o segundo maior de Londres

Viagens de avião também podem ser um grande desafio. Felícia, de 13 anos, é autista e costuma viajar ao lado da mãe, Flavia Callafange. “Ela não tem muito filtro, então algumas atitudes podem parecer grosseiras. Ela às vezes corre, grita, pergunta coisas sem sentido. Então as pessoas reclamavam, xingavam, falavam ‘que menina mal educada, cadê a mãe dessa garota?’ Já escutei de tudo que você pode imaginar, tive brigas dentro do avião para defendê-la. Porque, por ignorância, é muito fácil você julgar, mas ninguém sabe o que cada um vive”, contou Flávia em entrevista ao jornal O Globo.

Não à toa, a primeira experiência com uso do cordão aconteceu em 2016 no aeroporto de Gatwick, o segundo maior de Londres. Até hoje, ele pode ser retirado nas áreas de atendimento do terminal. “Se você estiver usando o cordão, a equipe deve reconhecê-lo e entender que você tem uma deficiência oculta e que pode precisar de um pouco mais de ajuda ou tempo. No entanto, eles não saberão qual é a sua deficiência específica ou quais desafios e problemas você pode enfrentar. Se você tiver requisitos específicos, peça ajuda a um membro da equipe”, orienta o site oficial de Gatwick (leia aqui, em inglês).

 

Escrito por Clarice Sá, Teia.Work