Saúde mental e TEA: comorbidades, escuta ativa e cuidado integral
Saúde mental e TEA: comorbidades, escuta ativa e cuidado integral
A sociedade contemporânea enfrenta desafios crescentes em saúde mental, impulsionados pelo ritmo acelerado de vida, pela pressão por produtividade, entre outros fatores. Esses aspectos, somados às mudanças nas relações interpessoais, impactam a forma como cada indivíduo se percebe e se conecta com o outro, gerando sentimentos de desesperança e angústia. Para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o cenário é ainda mais delicado.
Abordar a saúde mental no contexto do TEA exige responsabilidade, constante atualização e ações fundamentadas em evidências. Pesquisas indicam que indivíduos neurodivergentes apresentam maior suscetibilidade a algumas comorbidades como TDAH, e a quadros de saúde mental como depressão e ansiedade, em comparação com pessoas neurotípicas. Ainda assim, preocupa o diagnóstico tardio ou a ausência de diagnóstico dessas condições em pessoas com autismo, o que dificulta o acesso ao suporte adequado e necessário.
Algumas manifestações desses quadros podem se confundir com características do próprio TEA. Por isso, observar mudanças que fogem do padrão individual é fundamental para indicar a necessidade de avaliação e intervenção. O acompanhamento de profissionais especializados, capazes de distinguir comportamentos relacionados ao espectro daqueles que indicam outras condições, é muito importante para diagnósticos e tratamentos adequados e no momento oportuno.
A seguir, destacamos sinais que merecem atenção e a importância da escuta ativa para o cuidado integral no autismo. O tratamento eficaz depende da compreensão do conjunto de condições que afetam a pessoa — e não apenas de um diagnóstico isolado. É essencial uma abordagem clínica multidisciplinar e individualizada no acompanhamento do autismo, com um olhar atento para os desafios que as diferentes etapas e as novas demandas podem trazer.
TDAH e TEA
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) constitui uma comorbidade frequentemente observada em pessoas com TEA, afetando a atenção sustentada, o controle de impulsos e a regulação do nível de atividade motora. Essas dificuldades se manifestam desde a infância, mas podem persistir na vida adulta e impactar significativamente o rendimento acadêmico, a organização da rotina profissional e as relações interpessoais. Apesar da alta prevalência, o TDAH ainda é subdiagnosticado em pessoas autistas, o que limita o acesso a intervenções que poderiam promover maior funcionalidade, bem-estar e qualidade de vida.
Principais sinais de TDAH em pessoas com TEA:
- Dificuldade para manter a atenção;
- Distração frequente;
- Esquecimento de compromissos ou tarefas;
- Impulsividade em decisões ou mudanças de atividade sem conclusão;
- Agitação motora e dificuldade para permanecer sentado;
- Desorganização para seguir rotinas, mesmo com apoio visual;
- Maior risco de frustrações e explosões de raiva.
Depressão e TEA
A depressão está entre as condições de saúde mental mais frequentes em pessoas com TEA, com incidência até quatro vezes maior que na população geral. Aspectos neurobiológicos, dificuldades de inclusão social, bullying e a falta de compreensão em ambientes familiares e escolares contribuem para o surgimento de tristeza persistente, desesperança, isolamento e impacto na auto-estima. Em muitos casos, a depressão é subdiagnosticada ou confundida com regressão ou apatia, o que pode levar a atrasos no tratamento adequado e, consequentemente, na melhora do quadro.
Principais sinais de depressão em pessoas com TEA:
- Isolamento social além do habitual;
- Perda de interesse em atividades ou rotinas preferidas;
- Alterações no apetite e no sono;
- Irritabilidade ou crises de raiva mais evidentes que manifestações verbais de tristeza;
- Queixas físicas sem causa médica aparente;
- Dificuldade de concentração;
- Pensamentos sobre morte ou auto lesão, ainda que indiretos.
Ansiedade e TEA
A ansiedade é comum em crianças, adolescentes e adultos com TEA. Medo do imprevisível, mudanças na rotina e hipersensibilidade a estímulos sensoriais são fatores que podem desencadear quadros ansiosos. Quando não identificada e manejada adequadamente, a ansiedade pode comprometer o desempenho escolar, a convivência social e o desenvolvimento da autonomia, ampliando os desafios enfrentados por essas pessoas e suas famílias no cotidiano.
Principais sinais de ansiedade em pessoas com TEA:
- Preocupação excessiva com alterações na rotina;
- Medos específicos ou fobias;
- Evitação de ambientes, pessoas ou situações novas;
- Aumento de comportamentos repetitivos para autorregulação;
- Tensão muscular e agitação constante;
- Queixas físicas, como dores de estômago, enjoos ou palpitações;
- Irritabilidade e crises emocionais diante de frustrações.
Olhar atento, escuta ativa e cuidado interdisciplinar
A sobreposição desses sintomas intensifica os desafios cotidianos e aumenta a sobrecarga emocional da pessoa dentro do espectro autista. Por isso, além do diagnóstico, é fundamental a prática da escuta ativa. Muitas pessoas com TEA enfrentam barreiras para expressar suas emoções, mas compreendem e sentem intensamente.
Nesse contexto, estimular habilidades comunicativas, verbais ou não verbais, desde a infância, e garantir ambientes acolhedores faz toda a diferença. Pais, educadores e profissionais que ouvem com empatia ajudam a reduzir o sofrimento, fortalecem vínculos e promovem espaços seguros.
A saúde mental deve ser abordada de forma integral, com acompanhamento interdisciplinar de psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais. No caso do TEA, é essencial considerar suas particularidades, acolher suas demandas e desenvolver estratégias personalizadas.
Reconhecer a sobrecarga emocional das pessoas com autismo é fundamental para garantir seu bem estar emocional e qualidade de vida. O diagnóstico correto e precoce das comorbidades e condições de saúde mental, o fortalecimento das redes de apoio e a conscientização social são passos indispensáveis na busca por uma inclusão verdadeira com respeito à neurodiversidade e neurodivergência.
Em caso de sinais que indiquem possíveis impactos na saúde mental, consulte especialistas para garantir um cuidado adequado e individualizado.
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Referências:
National Library of Medicine. Experiences of Autism Acceptance and Mental Health in Autistic Adults. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5807490/. Acesso em: 25 jun. 2025.
G1 Bahia. Impacto da saúde mental em pacientes com TDAH, TEA e esquecimentos. Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/especial-publicitario/clinica-ibn-suzana-lyra/noticia/2024/10/18/impacto-da-saude-mental-em-pacientes-com-tdah-tea-e-esquecimentos.ghtml. Acesso em: 25 jun. 2025.
National Library of Medicine. Anxiety and depression in adults with autism spectrum disorder: a systematic review and meta-analysis. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/psychological-medicine/article/anxiety-and-depression-in-adults-with-autism-spectrum-disorder-a-systematic-review-and-metaanalysis/28517343AB04F445DAA32743D332677D Acesso em: 25 jun. 2025.
National Autistic Society. Mental health. Disponível em: https://www.autism.org.uk/advice-and-guidance/topics/mental-health Acesso em: 25 jun. 2025.
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