Bilinguismo e TEA: mais de uma língua, mais possibilidades

31/07/2025TEA no Dia a Dia1 Comentário

Bilinguismo e TEA: mais de uma língua, mais possibilidades

A preocupação com habilidades referentes à linguagem e comunicação é muito presente no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), principalmente durante a infância. Por isso, é comum surgirem dúvidas sobre o aprendizado de uma segunda língua por pessoas com autismo. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, o bilinguismo é uma habilidade alcançada por muitos indivíduos no espectro e pode, inclusive, trazer benefícios significativos para o desenvolvimento das crianças, adolescentes e adultos com TEA.

Uma pessoa é considerada bilíngue quando consegue se comunicar em um idioma diferente da língua materna. O conceito não se restringe à expressão, abrangendo também a compreensão, a leitura e a escrita. Apesar do desafio, o bilinguismo contribui para ultrapassar barreiras de comunicação comuns entre crianças e jovens neurodivergentes. 

Mais repertório e flexibilidade

Estudos e experiências clínicas comprovam, por exemplo, que aprender uma nova língua demanda a ativação de diferentes áreas do cérebro, ajudando pessoas com TEA a desenvolverem habilidades como atenção, memória, flexibilidade cognitiva e resolução de problemas. Outro ganho está relacionado à capacidade de processamento de informações. 

Um dos estudos, da Universidade McGill do Canadá, publicado na revista científica Child Development, destaca que o ensino de mais uma língua para crianças com TEA melhora a flexibilidade cognitiva e permite maior capacidade de adaptação em diferentes situações. Outra pesquisa, que contou com o apoio das Universidades Thessaly na Grécia e Cambridge (Grã-Bretanha), revelou que o contato com outro idioma pode auxiliar na habilidade de compreender intenções e emoções, além de fortalecer funções executivas, como planejar e organizar. 

Com o aprendizado de um outro idioma, ocorre também a expansão do repertório linguístico e cultural. Uma nova forma de expressão ganha espaço, ampliando os caminhos para novas conexões com o mundo. 

De acordo com estudiosos do tema, lidar com dois ou mais idiomas funciona como um verdadeiro exercício para o cérebro, estimulando habilidades cognitivas importantes. No caso de pessoas autistas, esse processo pode favorecer o desenvolvimento da flexibilidade cognitiva, uma habilidade relevante, considerando que lidar com mudanças e situações imprevisíveis pode representar um desafio. A alternância entre idiomas ativa diferentes estruturas mentais, e isso contribui para a construção de estratégias adaptativas em diversos contextos da vida cotidiana. 

Inclusão e novo olhar

Saber um segundo idioma abre portas, tanto na vida acadêmica quanto profissional. Portanto, aproximar o indivíduo com TEA dessa possibilidade é uma forma de fortalecer a inclusão. 

Estratégias de comunicação, verbal ou não verbal, comuns para fortalecer habilidades de comunicação no contexto do espectro, também podem ser úteis no ensino de outros idiomas. Podem ser utilizados a repetição e modelagem linguística, ensino estruturado com scripts, comunicação em turnos, leitura compartilhada bilíngue e suporte fonológico, gestos, apoio visual, rotinas visuais bilíngues e o uso de expressões faciais e linguagem corporal. Essas estratégias, quando integradas a programas individualizados e suporte especializado, favorecem o aprendizado para pessoas com TEA. Quando aprendemos uma nova língua, acessamos uma cultura diferente e isso traz novos e relevantes saberes para a compreensão do mundo hoje. 

Embora a aprendizagem de novos idiomas possa ocorrer ao longo de toda a vida, iniciar o contato com uma segunda língua nos primeiros anos é especialmente vantajoso, já que o cérebro está particularmente sensível aos estímulos linguísticos neste período. 

 

Dicas valiosas 

Celebre cada conquista: cada avanço merece ser celebrado. Isso estimula o engajamento e o aprendizado.

Adapte o ensino: a partir das necessidades de cada um, experimente, observe e adapte sempre que preciso.

Crie uma rotina: o aprendizado é mais efetivo quando faz parte do dia a dia, de forma consistente. Contudo, não deixe o processo engessado. Aproveite as situações do dia a dia para facilitar.  

Aprender pode ser divertido: tire proveito de diferentes recursos, como músicas, atividades lúdicas, ilustrações e vídeos.

Respeite o tempo da criança: aprender outro idioma não pode se tornar motivo de estresse ou frustração. Por isso, lembre-se de respeitar o tempo de cada um, sem pressão ou cobrança. 

 

A educação deve ser enriquecedora e inclusiva! Compartilhe esse conteúdo e ajude-nos a levar essa mensagem adiante. 

 

Referências:

Canal Autismo. Bilinguismo em crianças autistas. Disponível em: https://www.canalautismo.com.br/artigos/bilinguismo-em-criancas-autistas/ Acesso: 28 de julho de 2025.

Correio Braziliense. Falar mais de um idioma reduz alguns sintomas de crianças com autismo. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2025/02/7073546-falar-mais-de-um-idioma-reduz-alguns-sintomas-de-criancas-com-autismo.html Acesso: 28 de julho de 2025.

SRCD. Can Bilingualism Mitigate Set-Shifting Difficulties in Children With Autism Spectrum Disorders? Disponível em:
https://srcd.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/cdev.12979 Acesso: 28 de julho de 2025.

Rede CPE. Bilinguismo pode trazer vantagem para crianças com espectro autista. Disponível em: https://cienciaparaeducacao.org/blog/2018/01/26/biliguismo-pode-trazer-vantagem-para-criancas-com-espectro-autista/ Acesso: 28 de julho de 2025.

1 Comentário

  1. Muito importante ampliar nossa visão para o assunto, mas temos tanto a enfrentar ainda em relação a diagnóstico. Mas essa proposta ou sugestão é muito bem vinda.

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