Autistas no Carnaval
A data é uma boa oportunidade para apresentar novas experiências para as crianças com TEA
O Carnaval pode ser um momento de desafio para as famílias por conta do excesso de estímulos sensoriais e da aglomeração intensa de pessoas. Mas também é uma ótima oportunidade para estimular crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) a conhecer experiências novas.
A dificuldade com mudanças é um traço comum entre os autistas, mas isso não deve impedir a família de introduzir novidades na rotina. Sempre respeitando as preferências e limites da criança com TEA, é importante trazer novos elementos, como uma viagem ou uma ida a um bloco de carnaval, para tornar o contato com o novo um processo menos problemático.
Separamos algumas dicas que podem tornar essa experiência mais leve para quem pretende aproveitar a data para viajar ou para curtir os blocos ao lado dos filhos. No geral, ter alimentação, sono e hidratação sob controle garantem uma boa dose de tranquilidade. Mas, como cada criança com TEA é única, nenhuma dica vale para todas. Todo o planejamento depende das características específicas da criança, em especial as suas limitações com estímulos sensoriais.
Preparando as malas
A consultora Amanda Ribeiro viajou 12 vezes no último ano ao lado do marido e do filho Arthur, de 3 anos, que está no espectro autista e tem hipersensibilidade a estímulos sonoros e visuais. Mais de 30 mil seguidores acompanham as histórias de seus passeios no perfil @mamaequeviaja no Instagram.
“Viajar com criança com TEA é treino”, diz Amanda. Seu filho já passou três dias sem tomar banho em um hotel por estranhar o banheiro escuro, com chuveiro de jato forte. Depois disso, ela passou a levar na mala os brinquedos de banho e até uma piscina inflável para Arthur se ambientar melhor.
Para as crianças que ainda não estão acostumadas, a recomendação é ir aos poucos: o ideal é ficar fora de casa por poucos dias e optar por trajetos curtos para ambientá-las ao carro, ônibus ou avião e ter à mão brinquedos e atividades. Para os casos de hipersensibilidade sensorial, como nesta época do ano as praias tendem a lotar, são boas opções ir para um sítio ou para uma casa alugada em um lugar calmo, com poucas pessoas.
Para decidir a programação, é importante saber muito bem os estímulos que a criança suporta e o que pode provocar sua desorganização. Quem é hipersensível a frio ou calor precisa de atenção à previsão do tempo e disponibilidade de proteção térmica e hidratação. Há parques de diversão, por exemplo, onde sobra asfalto e falta cobertura vegetal e a visita vai exigir mais cuidados.
A escolha da hospedagem precisa também levar em conta as características de cada criança. Amanda sempre prefere lugares com piscina, pois Arthur tem hiperfoco com água, e a proximidade com bichos e brinquedoteca também pesam na decisão da família.
Curtindo os blocos de carnaval
Para quem quer aproveitar a folia dos blocos, vale preparar a criança para algumas das situações que serão vivenciadas. Mostrar para ela objetos que fazem parte da folia como spray de espuma, buzinas, confete e serpentina, além de vídeos e fotos do bloco, dão uma dimensão do que ela vai encontrar. Se possível, vale até criar um pequeno baile de Carnaval em casa e tocar músicas da festa para preparar o terreno.
“O Carnaval traz a possibilidade de despertar a linguagem musical da criança, mas também exige alguns cuidados para que não se torne uma experiência ruim”, comenta Bia Sá, fonoaudióloga especialista em TEA e cantora do bloco infantil Mamãe Eu Quero, de São Paulo. “É importante para todas as crianças, e também para as com TEA, estar em um ambiente musical.”
Levando em conta que cada criança tem demandas específicas, conversar com os terapeutas e cuidadores pode trazer novas ideias sobre a adaptação dela ao ambiente da festa. Assim como nas viagens, conferir a previsão do tempo é essencial para quem é sensível ao calor. Roupas leves, leque, água gelada fazem toda a diferença no conforto da pessoa com TEA. Também é importante respeitar os limites em relação à fantasia. Para algumas, uma simples camiseta já é mais do que suficiente.
Além da preparação em casa, conhecer bem os detalhes do bloco escolhido facilita na hora da família se organizar para o dia. Fale com o bloco para conferir o trajeto, saber se a bateria fica parada e o que há no entorno. Assim, fica mais fácil planejar o melhor lugar para estacionar o carro de forma que funcione como ponto de apoio, por exemplo. Com o itinerário em mãos, também dá para avaliar lugares na região onde haja um ambiente sem estímulo, em que a criança possa ir ao banheiro, comer, se hidratar e se acalmar.
Ainda assim, é importante que os pais estejam preparados para a possibilidade de ir embora a qualquer momento. Neste caso, uma alternativa é deixar a casa enfeitada com artigos de Carnaval para abrir a possibilidade de que a festa possa continuar.
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