Autismo e volta às aulas: qual a melhor estratégia para readaptação?
Volta gradual à rotina demanda atenção após ruptura provocada pelo distanciamento social na pandemia
As crianças e adolescentes autistas frequentam escolas convencionais ou de educação especial. A escolha depende do grau de dependência de cada um e da expectativa dos pais em relação à instituição de ensino.
A rede estadual paulista implantou um sistema de educação especial inclusiva para alunos matriculados nas classes convencionais do ensino fundamental ou médio. Os alunos incluídos nesse plano recebem atendimento pedagógico especializado com acesso a salas de recursos no contraturno da classe comum.
A sala provê instrumentos pedagógicos especializados para alunos com deficiência auditiva, física, intelectual, visual e TEA (Transtorno do Espectro Autista) com professores especializados. Também existe o serviço de atendimento itinerante, no qual o professor se desloca até a residência do aluno para oferecer o atendimento educacional.
É preciso treinar empatia, autoconsciência e responsabilidade após meses sem exercitá-las
Todo esse trabalho sofreu uma ruptura importante com o distanciamento social necessário durante a pandemia de covid-19. Há alguns meses, houve o retorno gradual das atividades escolares e as estratégias de readaptação estão divididas de acordo com as habilidades de cada um.
As habilidades socioemocionais como empatia, autoconsciência e responsabilidade ganham maior necessidade de treino, afinal foram meses sem exercitá-las.
Em casa, podemos fazer o que se costuma chamar de role-play, ou seja, uma brincadeira de faz de conta na qual se encena uma passagem. Por exemplo, pedir para a criança autista imitar os colegas de classes ou fingir que é professor(a) e dar uma aula.
Na escola, os professores podem fazer oficinas de empatia na qual uma criança permanece de olhos fechados enquanto é levada por outra até um determinado alvo. Esse exercício treina a empatia e confiança da dupla participante.
Preparação dentro de casa com apoio dos pais pode envolver brincadeiras que simulem a ida à escola
Os alunos podem demonstrar agitação e resistência ao entrarem na escola. Mas os pais, em conjunto com os professores, têm a possibilidade de contar histórias lúdicas sobre como a escola é um lugar de construção, assim como um parque, por exemplo. No parque e na escola podemos “encontrar amiguinhos para brincar.”
Estar envolto de amigos e professores constrói um lugar de pertencimento, no qual as crianças autistas não se sentem necessariamente interessadas, mas podem treinar suas desabilidades no coletivo.
Os professores são treinados para perceber o estado emocional dos estudantes, como cada um lida com as normas de uso de máscara e, a partir disso, podem fazer pequenas intervenções. Lembrá-las sobre como a máscara nos mantêm protegidos e como higienizar as mãos traz segurança contra o vírus.
Mesmo assim, alguns podem ter dificuldade com as regras ou até a impossibilidade de segui-las. Vale lembrar que, de acordo com a lei 14.019/2020,os autistas estão dispensados do uso de máscaras.
O texto afirma: “A obrigação prevista no caput deste artigo será dispensada no caso de pessoas com transtorno do espectro autista, com deficiência intelectual, com deficiências sensoriais ou com quaisquer outras deficiências que as impeçam de fazer o uso adequado de máscara de proteção facial, conforme declaração médica, que poderá ser obtida por meio digital, bem como no caso de crianças com menos de 3 (três) anos de idade.”
Alternar dias de aula com atividades virtuais também é alternativa de adaptação à nova rotina das crianças
Outra técnica que a escola pode desenvolver é preparar um espaço físico para readaptação, onde as crianças possam ficar por algum tempo. O ambiente deve ser acolhedor, com tapetes, almofadas, fotos trazidas de casa e desenhos sobre o retorno das aulas.
Nesses ambientes, os professores podem contar histórias para dessensibilizar os medos que a volta às aulas trazem. As histórias trazem exemplos de superação e vitória, encorajando os alunos a se aproximarem da rotina escolar novamente.
Por fim, trago a estratégia de um escalonamento entre dias presenciais e virtuais para que os alunos possam ter tempo para se adaptar à nova rotina. Assim, poderão perceber e lidar com os sentimentos que surgem quando estão dentro e fora de casa.
Yasmine Martins
Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com Especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE).
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