Autistas no Carnaval
Festa traz desafios para pessoas com TEA e familiares que desejam curtir a folia; veja dicas
O carnaval é uma festa com diversos estímulos sensoriais, aglomeração de pessoas e certa imprevisibilidade de acontecimentos, entretanto, pode ser uma boa oportunidade para treinar novas experiências para crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Para aproveitar com tranquilidade, o recomendável é manter um plano de segurança que inclua estratégias de prevenção de desvios. Confira:
- Identificação
Durante a folia, utilize uma pulseira de identificação com o nome da criança, número de telefone e outras informações importantes para localizar os responsáveis. Essa identificação também pode informar sobre o diagnóstico de autismo e características especificas, como no caso dos não verbais.
Guie suas escolhas a partir das características do autista e adote reforçadores
2. Estimulos
Utilize os estímulos sensoriais que seu filho(a) gosta para ampliar a vivência do carnaval. Por exemplo: alguns autistas gostam muito de luzes, bexigas ou plumas.
Diante disso, faça uma análise dos itens que geralmente são usados nesse tipo de comemoração e os utilize como reforçadores para que seu filho(a) se envolva com a festa a partir de algum objetivo confortável para ele(a). Em sua fantasia também pode conter um item que o(a) acalme, como um colar mordedor terapêutico ou um abafador de sons.
3. Qual é o melhor bloco para vocês?
Escolha um bloco de carnaval com músicas que agradem seu filho(a) ou participe de um bloco específico para autistas.
Existem alguns bloquinhos inclusivos de carnaval, dedicados às famílias que possuem crianças com necessidades sensoriais específicas, como o carnapupa, um evento gratuito onde qualquer criança pode participar. A atração é totalmente adaptada para atender às necessidades das crianças, oferecendo acessibilidade para cadeirantes e música bem baixinha para que crianças autistas não se sintam incomodadas com o som.
O evento é organizado pelo blog Lagarta Vira Pupa, desenvolvido pela jornalista Andréa Werner, mãe de uma criança autista e ativista pelos direitos das pessoas com deficiência.
Prepare o autista para situações que podem acontecer na festa, como enfrentar longas filas
4. Conversa de preparação
Para crianças verbais, faça um relato sobre que irá ocorrer, antecipe possíveis tentações e gatilhos e seja realista sobre a aglomeração, pessoas impacientes, músicas e tempo de permanência. Por exemplo:
“Hoje nós vamos a um bloco de carnaval no clube da cidade, vamos ouvir algumas músicas e dançar. Talvez tenhamos que estacionar longe se o estacionamento estiver cheio. Alguns motoristas não estão prestando muita atenção, então vamos dar as mãos. Se houver longas filas e muitas pessoas, teremos paciência e esperaremos. Podemos contar histórias enquanto esperamos. Não vamos entrar na piscina porque estamos com fantasia de carnaval, não vamos à sorveteria do clube, mas podemos comer um biscoito quando chegarmos em casa. Haverá muitas luzes e ruídos. Será interessante e divertido. Ficaremos juntos, e se você se sentir desconfortável com algo, me avise.”
5. A chegada na festa
Quando você chegar ao local, revise o plano como sugerido acima ou peça ao seu filho(a) para repetir para você. Divida sua atenção para ficar atento ao que seu filho(a) está fazendo o tempo todo.
Mantenha-o(a) perto de você para evitar problemas. Lembre-se de que uma criança pode se machucar, desaparecer ou fazer algo inseguro em um instante. Seja muito consistente ao intervir para interromper o comportamento inseguro.
Não espere uma saída perfeita e siga o tempo e os limites do autista; cada um tem seu ritmo
6. Conversa após a volta para casa
Ao final do passeio, reveja o que deu certo. Parabenize os membros da família pelo que fizeram para tornar o carnaval divertido. Dê uma recompensa por um trabalho bem feito. Se algo deu errado, discuta isso em outro momento, antes de sair novamente. Lembre-se e diga à sua família que as coisas não precisam ser perfeitas.
7. Confie no seu próprio ritmo
Evite o estresse tomando decisões com base no que é melhor para a sua família e não para as expectativas dos outros. Em vez de correr, diminua a velocidade, evite ansiedade antecipatória a uma possível crise sensorial de seu filho(a). Esteja no momento presente por completo e se ocorrer qualquer entrave, lide de acordo com as estratégias que você aprendeu até o momento. Sua percepção e amor vão te ajudar!
Yasmine Martins
Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE). É doutoranda em Saúde Baseada em Evidências na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
0 comentários