Valorizando as diferentes formas de comunicação no autismo
Valorizando as diferentes formas de comunicação no autismo
A dificuldade de comunicação social, em diferentes níveis, é uma característica comum a todas as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, vale lembrar que ela não se resume à fala e que existem formas não verbais para expressar emoções, necessidades, desejos e pensamentos, apoiando o dia a dia das famílias atípicas. Até a tecnologia pode ajudar nesse processo repleto de possibilidades.
A comunicação verbal é aquela que utiliza palavras faladas ou escritas, enquanto a comunicação não verbal prevê outras formas de expressão, sem as palavras, tais como sinais, gestos e expressões faciais, podendo ser utilizados recursos visuais ou auditivos. É válido dizer que há variações também no que se refere ao domínio da fala e da linguagem. O importante é explorar e respeitar as diferentes formas de expressão, gerando mais inclusão.
Promover a comunicação de crianças e adolescentes com TEA favorece o desenvolvimento de habilidades sociais e linguísticas, além do fortalecimento do vínculo familiar. As habilidades comunicativas elevam ainda a autonomia e contribuem para a regulação emocional, pois reduzem o isolamento social. Isso é essencial para a inclusão escolar, os relacionamentos interpessoais e o desenvolvimento de diferentes aptidões.
Desde cedo, é importante considerar a ampliação das formas de comunicação das crianças, oferecendo o suporte necessário em cada nível. Toda forma de expressão precisa ser valorizada e cada indivíduo tem o seu perfil comunicativo.
A seguir, compartilhamos pontos relevantes sobre o assunto.
A importância do apoio multiprofissional
Uma equipe multidisciplinar, com fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais de saúde, pode ajudar com a construção de planos de intervenção personalizados, levando em conta a realidade de cada paciente e família.
Para que as habilidades desenvolvidas possam se integrar à vida da criança, essa intervenção deve ir além do ambiente terapêutico e ser ampliada para o ambiente familiar e escolar, incluindo o treinamento e a prática dos profissionais, estendidos também aos pais e à equipe de suporte familiar.
A abordagem multidisciplinar é importante por reunir profissionais de diferentes áreas, possibilitando que a criança seja observada em sua totalidade, facilitando o trabalho em prol do desenvolvimento integral dela em aspectos como cognição, comunicação, socialização e habilidades motoras, por exemplo.
Família presente e um ambiente motivador
Os pais desempenham um papel central nesse processo. Vale buscar informações sobre as melhores práticas para estimular a comunicação e orientação profissional para que possam se adaptar ao dia a dia da criança.
Grupos de apoio também podem auxiliar. Informações qualificadas e adaptações baseadas no desenvolvimento individual ajudam a criar uma rotina estruturada com estratégias que trazem resultados.
Lembre-se: evite cobranças ou expectativas que possam causar frustração e ansiedade. Abrace a singularidade da criança com TEA, observe-a em diferentes situações e busque formas para melhor interagir com ela, mesmo que em silêncio. Um olhar, um sorriso ou um gesto específico são instrumentos valiosos de expressão.
Celebre pequenos avanços e ajude a criar um ambiente encorajador e motivador. Com acesso a serviços e orientação profissional para a adoção de estratégias adequadas, é possível melhorar o desenvolvimento da comunicação e a qualidade de vida.
Estudos mostram que intervenções mediadas pelos pais, principais referências da criança, trazem benefícios em aspectos como atenção compartilhada, comunicação e resposta à interação.
Estratégias para o dia a dia
Aproveite as situações rotineiras para incentivar a criança a pedir, indicar ou responder a perguntas simples, como escolher entre um copo de água ou suco. Motivação é importante, por isso sinalize positivamente cada tentativa de comunicação.
Profissionais especializados são de grande valia nesse processo e podem ajudar, por exemplo, se a criança encontra no choro a forma mais recorrente para se comunicar. Acredite: é possível desenvolver habilidades para enriquecer a comunicação, mesmo não verbal.
Lidar com a linguagem pode ser uma experiência rica e diversa. Tire proveito disso em momentos de brincadeira e leitura compartilhada.
Aqui vão mais algumas práticas que podem ajudar:
- Usar frases curtas e diretas;
- Fazer perguntas que tenham respostas objetivas, como sim ou não;
- Enfatizar o tom de voz quando quiser chamar a atenção para algum ponto da mensagem;
- Estimular o contato visual e observar expressões faciais e emoções durante a comunicação.
Comunicação Aumentativa e Alternativa
A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) busca apoiar pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que lidam com dificuldades na comunicação verbal, incluindo dificuldades de compreensão, déficits de linguagem ou dificuldade na fala. A CAA é considerada uma forma de tecnologia assistiva (TA) que ajuda pessoas dentro do espectro autista a se expressarem e se relacionarem melhor nos âmbitos familiar, escolar e profissional. Ela é muito útil para aqueles que não conseguem se comunicar de maneira funcional por meio da fala ou da escrita.
A partir da CAA é possível explorar expressões faciais, linguagem corporal, sons e gestos, além da construção personalizada de pranchas de comunicação e os cartões visuais, opções de baixo custo e simples de serem usados.
Existem duas formas de abordagem: com ou sem apoio, cuja aplicação depende do perfil de cada indivíduo. A Comunicação Alternativa sem apoio refere-se a quando a pessoa utiliza o próprio corpo para se comunicar, por meio do piscar de olhos, de movimentos com a cabeça e sons, entre outras formas. Já na abordagem com apoio, utilizam-se recursos complementares, cada um com suas características e complexidades, como por exemplo:
- Placas com imagens;
- Pranchas de comunicação;
- Fotografias;
- Tablets ou computadores;
- Cartões visuais.
Essas ferramentas se organizam em diferentes sistemas, como: sistemas tangíveis, que utilizam objetos e miniaturas; sistemas pictográficos, que representam conceitos por meio de imagens padronizadas; sistemas de significação, que envolvem o uso de palavras impressas e escritas.
A falta de adaptação a uma ferramenta não indica incapacidade de comunicação, mas sim a necessidade de um treinamento mais adequado ao perfil da criança. É importante contar com a ajuda de um profissional para a seleção dos recursos, construção das pranchas e adaptação para o uso de acordo com as necessidades de cada criança.
Valorizar as diferentes formas de comunicação é também valorizar a individualidade de cada pessoa com TEA. Quando abrimos espaço para múltiplas expressões, promovemos inclusão, respeito e dignidade. O apoio familiar, profissional e social, aliado ao uso de estratégias adequadas e recursos acessíveis, pode transformar realidades e ampliar oportunidades. Ao reconhecermos que cada gesto, som, olhar ou tecnologia pode ser uma ponte para o entendimento, damos um passo importante na construção de uma sociedade mais empática, sensível e preparada para acolher todas as vozes – inclusive aquelas que não se manifestam pela fala.
Referências:
Autismo e Realidade. Estratégias para estimular a comunicação em crianças com TEA. Disponível em: https://autismoerealidade.org.br/2025/02/25/estrategias-para-estimular-a-comunicacao-em-criancas-com-tea/
Scielo Brasil. O uso interativo da comunicação em crianças autistas verbais e não verbais. Disponível em: SciELO Brasil – O uso interativo da comunicação em crianças autistas verbais e não verbais O uso interativo da comunicação em crianças autistas verbais e não verbais
Inclusão Eficiente. Comunicação social de crianças com TEA. Disponível em: https://www.inclusaoeficiente.com.br/blog/comunicacao-social-criancas-com-tea
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