Saiba por que a síndrome de Asperger não existe mais no DSM-5 e na CID-11

23/09/2025TEA no Dia a Dia0 Comentários

Saiba por que a síndrome de Asperger não existe mais no DSM-5 e na CID-11

Você talvez já tenha ouvido falar sobre a síndrome de Asperger. No entanto, o que muitos desconhecem é que essa nomenclatura deixou de ser utilizada nos sistemas diagnósticos atuais. Historicamente, ela era associada a classificações como “autismo leve” ou “autismo de alta funcionalidade”, termos hoje reconhecidos como imprecisos e potencialmente estigmatizantes.

A descrição original foi feita em 1944 pelo pediatra austríaco Hans Asperger, após observar pacientes com dificuldades marcantes de interação social, mas com linguagem preservada e habilidades cognitivas dentro do esperado ou acima da média. Desde 2013, entretanto, a partir das pesquisas desenvolvidas, essas características passaram a ser compreendidas como parte do mesmo espectro autista.

Síndrome de Asperger ou TEA?

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) é a referência mundial para a classificação de transtornos mentais. Em sua quarta edição (DSM-4), lançada em 1994, o transtorno autista e a síndrome de Asperger eram classificados como distúrbios distintos, ambos inseridos na categoria dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD).

Em 2013, com a publicação da quinta edição do manual (DSM-5), a Associação Americana de Psiquiatria apresentou uma nova proposta para o autismo, baseada no conceito de espectro introduzido por Lorna Wing na década de 80. A categoria diagnóstica Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi criada e passou a abranger um espectro mais amplo de características e sintomas, incorporando também aqueles anteriormente descritos para a síndrome de Asperger. Assim, a partir do DSM-5, a síndrome de Asperger deixou de ser reconhecida como diagnóstico separado, e seu uso atualmente não é mais recomendado em contextos clínicos formais.

O TEA também passou a incluir o Transtorno desintegrativo da infância e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, desde que os critérios diagnósticos do DSM-5 estejam contemplados nos casos. Já a síndrome de Rett deixou de integrar a mesma categoria diagnóstica, sendo classificada separadamente por ser um transtorno do neurodesenvolvimento associado a causa genética identificada.

Espectro Autista

Esse movimento de reconhecimento de um espectro autista também ocorreu na Classificação Internacional de Doenças (CID). A CID-10, que vigorou de 1993 a 2021, incluía o autismo nos Transtornos Globais do Desenvolvimento, codificando separadamente a síndrome de Asperger. Já na CID-11, em vigor desde janeiro de 2022, a síndrome de Asperger deixa de existir como categoria diagnóstica separada e passa a fazer parte do TEA, seguindo a mesma proposta do DSM-5.

Pessoas que anteriormente foram identificadas com Asperger são hoje incluídas no diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista, com níveis distintos de suporte. E, como o próprio nome indica, o espectro remete à variedade e diversidade de manifestações clínicas e de níveis de suporte apresentados pelas pessoas com autismo. 

Outras variáveis como características individuais, familiares, ambientais, comorbidades clínicas, rede de apoio e acesso a serviços de diagnóstico, acompanhamento e tratamento, também interferem nos processos de desenvolvimento das potencialidades de cada pessoa com autismo.

O manual DSM-5 propõe a identificação de níveis de suporte necessários para as pessoas com TEA, nos dois grupos centrais de sintomas: 1) comunicação e interação social e 2) atividades e interesses, em uma escala de 1 a 3. O nível 1 indica que a pessoa necessita de apoio, mas apresenta maior independência, enquanto o nível 3 indica necessidade de apoio intenso e contínuo. O nível 2 representa uma necessidade intermediária de suporte.

É importante destacar que os níveis de suporte não são fixos nem representam prognóstico, constituindo uma forma de descrever as necessidades no momento da avaliação. No acompanhamento longitudinal, podem ocorrer mudanças nesses níveis, seja com redução da intensidade de apoio necessária, seja com aumento em períodos de maiores desafios, e é essencial que as avaliações sejam sensíveis às mudanças ao longo do desenvolvimento.

Atualmente, o CID-11 – assim como pesquisadores e clínicos – destaca a importância de considerar dimensões adicionais, como perfil cognitivo, linguagem, comportamento adaptativo e condições médicas associadas, que contribuem para compreender de forma mais ampla as características funcionais da pessoa com TEA de forma sensível às mudanças ao longo do desenvolvimento. 

Autismo leve, não

Antes da publicação do DSM-5, a síndrome de Asperger era diferenciada do Transtorno autista com critérios de ausência de atraso cognitivo ou comprometimento na linguagem. Essa condição era frequentemente chamada de “autismo leve”, o que dificultava o diagnóstico e o acesso a serviços e suportes adequados.

O reconhecimento do autismo como um espectro fortalece a inclusão, evitando divisões rígidas que engessam a jornada de desenvolvimento do indivíduo. Na nova classificação, leva-se em conta a diversidade de sintomas e seus impactos na vida da pessoa com TEA, bem como a complexidade e diversidade do espectro, com manifestações singulares em cada pessoa.

A integração dos diferentes perfis no espectro autista sob a mesma categoria tornou o diagnóstico mais acessível, permitindo melhor acesso e direcionamento para terapias personalizadas. Isso também contribui para reduzir o estigma sobre determinados grupos, por serem “mais ou menos autistas”, reconhecendo que a condição autística pode trazer impactos intensos, independentemente do nível de suporte. 

Pesquisas têm encontrado maior vulnerabilidade em saúde mental no grupo de TEA nível 1 de suporte, com maior risco de depressão e ansiedade, pelo sofrimento psíquico decorrente de experiências de exclusão social, bullying, tentativas de camuflagem. É importante ressaltar que, mesmo diante de um mesmo nível de suporte, cada pessoa apresenta diferentes necessidades e impactos, resultando em manifestações únicas em suas características, intensidades e variáveis associadas. 

Atualmente, os profissionais focam mais nos suportes que cada pessoa com TEA necessita, em vez de se restringirem a rótulos diagnósticos. Essa abordagem é positiva, pois amplia a compreensão sobre as necessidades e potencialidades de cada pessoa com autismo, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e respeitosa da neurodiversidade e da singularidade.  

Referências:

Agência Brasil. Síndrome de Asperger: entenda por que o termo não é mais usado. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2025-02/sindrome-de-asperger-entenda-por-que-o-termo-nao-e-mais-usado. Acesso: 08 de setembro de 2025.

Autismo e realidade. Por que falar em Síndrome de Asperger é algo ultrapassado? Disponível em: https://autismoerealidade.org.br/2023/03/17/por-que-falar-em-sindrome-de-asperger-e-algo-ultrapassado/. Acesso: 08 de setembro de 2025.

Instituto Neuro Saber. Síndrome de Asperger: o que era e por que o termo caiu em desuso? Disponível em: https://institutoneurosaber.com.br/artigos/sindrome-de-asperger-o-que-era-e-por-que-o-termo-caiu-em-desuso/. Acesso: 08 de setembro de 2025.

Canal Autismo. Os três níveis de suporte no autismo. Disponível em: https://www.canalautismo.com.br/artigos/os-tres-niveis-de-suporte-no-autismo/. Acesso: 08 de setembro de 2025.

 

 

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