Por que falar em Síndrome de Asperger é algo ultrapassado?

17/03/2023Diagnóstico0 Comentários

Entenda as alterações na classificação de diagnóstico do autismo

O que por muitos anos se considerou como diagnóstico de Síndrome de Asperger é hoje apenas uma parte do espectro do autismo. Não existe mais este diagnóstico oficialmente em termos médicos. Quem era considerado antigamente como Asperger, hoje é simplesmente chamado de autista ou de pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

A síndrome foi descrita por Hans Asperger em 1944. O médico apresentou, em seu estudo intitulado “Psicopatia Autista na Infância”, quatro crianças que no dia a dia demonstravam dificuldade para se socializar. Embora a inteligência de cada um se desenvolvesse dentro do esperado como padrão, as crianças não tinham habilidade de entender a comunicação não verbal, nem de demonstrar empatia com os seus pares.

DSM-4 considerava Autismo e Asperger como diagnósticos diferentes, mas DSM-5 trouxe mudanças

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) é a referência para médicos do mundo todo na classificação de diagnósticos de transtornos mentais. Na quarta edição deste manual (DSM-4), lançada em 1994, o autismo e a Síndrome de Asperger eram classificados como distúrbios diferentes.

No DSM-4 a principal diferença entre autismo e Síndrome de Asperger era a intensidade do atraso que afetaria o indivíduo.

Enquanto na definição do Autismo a fala tinha um provável início tardio, na Síndrome de Asperger era descrita como normal.

Porém, os pacientes com ambos os transtornos teriam dificuldade de se relacionar e de entender situações de comunicação não verbal como linguagem corporal ou abstratas como de figuras de linguagem.

Sinais do autismo podem estar presentes desde o nascimento ou do começo da infância

Em 2013, foi publicada a quinta edição do manual (DSM-5), que apresentou uma nova classificação dos Transtornos do Desenvolvimento. Essa versão reuniu algumas síndromes em um único transtorno, o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que enquadra a Síndrome de Asperger e o autismo em um mesmo diagnóstico.

Dessa forma, o que antes se conhecia como duas desordens separadas passou a pertencer à mesma condição, que abrange um grande espectro de sintomas.

Outras mudanças de terminologia ocorreram uma vez que o TEA reúne Autismo Infantil Precoce, Autismo Infantil, Autismo de Kanner, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico, Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, além da Síndrome de Asperger.

Todos esses quadros clínicos são desordens do desenvolvimento neurológico e estão presentes desde o nascimento ou começo da infância.

Dificuldade de comunicação não verbal afeta todos os autistas

Pessoas dentro do espectro podem apresentar falhas na comunicação social, ou seja, dificuldade para se expressar verbalmente ou por gestos, para interagir socialmente de maneira recíproca. Também demonstram padrões restritos e repetitivos de comportamento, como foco de interesse fixo, movimentos contínuos e alteração de sensibilidade a estímulos sensoriais auditivos, visuais e táteis.

Todas as pessoas com TEA apresentam as duas características descritas acima, mas cada uma delas será afetada em intensidades diferentes, resultando em quadros bem particulares.

Sintomas do Transtorno do Espectro Autista podem ser:

  • Não conseguir olhar nos olhos;
  • Não conseguir brincar com crianças da mesma idade;
  • Não entender figuras de linguagem por entender tudo literalmente, como “você é um gatinho” ou “estou morrendo de fome”;
  • Ter movimentos repetitivos, como balançar o corpo para frente e para trás;
  • Ter apego excessivo à rotina;
  • Não brincar de faz de conta, brincar apenas de enfileirar brinquedos;
  • Ser muito sensível aos sons;
  • Não entender linguagem corporal, como sorrisos ou face de bravo.

Escrito por Clarice Sá, Teia.Work

Bárbara Bertaglia

Bárbara Bertaglia

Médica residente na pediatria da Santa Casa de São Paulo, pesquisadora na área de Transtorno do Espectro Autista e membro da equipe Autismo e Realidade desde 2019

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