O que é preciso conhecer e atualizar sobre terapia ABA e autismo?

20/11/2025Destaques, Diagnóstico, TEA no Dia a Dia0 Comentários

O que é preciso conhecer e atualizar sobre terapia ABA e autismo?

A sigla ABA significa Applied Behavior Analysis, ou Análise Aplicada do Comportamento, em português. Trata-se de um campo científico dentro da psicologia comportamental, derivado da obra de B. F. Skinner e que surgiu na década de 1950. A ABA estuda como o comportamento humano é influenciado pelo ambiente e aplica esse conhecimento em diferentes contextos, como educação, saúde mental, desempenho esportivo e desenvolvimento de habilidades.

No campo do Transtorno do Espectro Autista (TEA), a ABA passou a ganhar espaço a partir dos estudos de Ivar Lovaas, na década de 1980. Desde então, passou a ser utilizada em programas de intervenção, com foco em promover o desenvolvimento, a aprendizagem e a autonomia de crianças, jovens e adultos.

Essa proposta de intervenção já tem quase 50 anos e, mais recentemente, novas pesquisas e conhecimentos sobre autismo e neurodiversidade têm levado a debates e reflexões sobre a terapia ABA e seus impactos no TEA.

A seguir, apresentamos os pontos centrais dos princípios da terapia ABA.

O que é a Terapia ABA e como ela funciona

Em linhas gerais, a terapia ABA é uma abordagem baseada no behaviorismo, uma corrente da psicologia que estuda o comportamento observável e as relações entre ações, consequências e ambiente. O princípio central é que comportamentos podem ser aprendidos, fortalecidos ou modificados por meio de reforços positivos e ajustes nas condições contextuais.

A terapia ABA é individualizada e baseada em dados registrados e monitorados, o que significa que cada sessão deve ser adaptada conforme as características, demandas e avanços da pessoa.

No contexto do TEA, a intervenção começa com uma análise funcional, que busca compreender como e por que determinado comportamento ocorre. Além disso, analisa-se também o quanto o ambiente influencia esse processo. A partir de avaliações e análises, são estipuladas estratégias para dar início ao ensino de novas habilidades e apoiar o desenvolvimento.

A ABA pode incluir estratégias como o reforço positivo, que identifica e valoriza comportamentos desejados para incentivar sua repetição e modelagem, que ocorre quando demonstramos o comportamento correto para a criança imitar.

A seguir, algumas premissas da Terapia ABA:

  • Dividir habilidades complexas em etapas menores e ensinar uma de cada vez;
  • Transferir habilidades aprendidas em um ambiente para outros;
  • Registrar e analisar o progresso da criança para ajustes no plano de intervenção.

Na prática, a terapia ABA consiste em observar atentamente o comportamento, identificar padrões, criar oportunidades de aprendizagem personalizadas e ajustar o plano conforme progresso. Cada habilidade é dividida em etapas pequenas e reforçada à medida que o indivíduo progride, devendo sempre respeitar seu ritmo e estilo de aprendizado.

O processo inclui registrar resultados, ajustar métodos conforme necessário e aplicar o aprendizado em diferentes situações do dia a dia. Dessa forma, a ABA se propõe não apenas a ensinar novas competências, mas também tem o objetivo de fortalecer a autonomia, a comunicação, a interação social e a confiança do indivíduo em sua participação nas atividades do cotidiano.

Intervenção ABA e TEA: para que serve e quais são os benefícios

As estratégias da ABA podem apoiar o desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas, autorregulação, atenção e participação em atividades cotidianas, como alimentação, autocuidado e aprendizagem, contribuindo para maior autonomia e qualidade de vida de pessoas com autismo. Em muitos casos, as intervenções ajudam a tornar as rotinas mais previsíveis, organizar etapas de forma acessível, ampliar a flexibilidade e oferecer recursos para lidar com situações potencialmente estressantes, favorecendo o bem-estar e participação no dia a dia.

É importante destacar que a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) não apresenta uma única forma de abordagem para o autismo. Em alguns contextos, sua aplicação ocorre de forma mais tradicional ou estruturada, com sessões organizadas em etapas graduais e ensino sistemático. Em outros, a ênfase é naturalística, aproveitando situações cotidianas para introduzir e reforçar novas habilidades de maneira espontânea e funcional.

Entre os modelos mais atuais baseados em ABA, destaca-se o Pivotal Response Training (PRT), que trabalha áreas centrais para o desenvolvimento, como motivação, comunicação e autorregulação. O foco nesses aspectos visa gerar benefícios amplos, que se estendem para diferentes dimensões da vida cotidiana.

Um avanço significativo tem sido alcançado com a integração de estratégias de ensino de base comportamental com modelos desenvolvimentistas, que apresentam forte respaldo científico na intervenção precoce. Essas práticas contemporâneas valorizam interação afetiva e responsividade social, como no Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM), e ampliam oportunidades de aprendizagem e vínculo.

As estratégias da análise aplicada do comportamento também podem ser utilizadas em grupo, em escolas e contextos inclusivos, nos quais a ênfase está na interação entre pares, favorecendo o desenvolvimento de habilidades sociais e comunicativas em ambientes compartilhados.

Independentemente do modelo adotado, é essencial que cada plano de intervenção considere as características, interesses e necessidades da pessoa, respeitando seu ritmo e promovendo experiências de aprendizagem significativas. Dessa forma, a abordagem pode contribuir de maneira efetiva para o desenvolvimento e a qualidade de vida de pessoas no espectro autista em diferentes fases da vida.

Terapia ABA: quem procurar

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) constitui em um conjunto de princípios que podem ser incorporados por diferentes profissionais em suas práticas, desde que possuam formação específica e atuem sob supervisão qualificada. Assim, a equipe multidisciplinar pode empregar estratégias baseadas na ABA dentro de seus respectivos campos de atuação, respeitando os limites éticos e técnicos de cada profissão. O essencial não é a área de origem, mas o embasamento teórico-científico e o compromisso com intervenções fundamentadas em evidências.

No Brasil, há psicólogos e outros profissionais da saúde que atuam com base nos princípios da ABA. No entanto, para ser formalmente reconhecido como analista do comportamento, é necessário possuir formação com critérios específicos e certificação internacional, como a Board Certified Behavior Analyst (BCBA), que garante o domínio técnico e ético dos procedimentos da área. Para os modelos PRT e ESDM Denver também há formações próprias e certificações específicas, oferecidas por instituições e profissionais credenciados, que habilitam o terapeuta a aplicar os protocolos de forma validada e alinhada às diretrizes internacionais.

É importante também que as famílias conheçam as diferentes abordagens de intervenção e busquem orientação junto a profissionais especializados, para que tenham a oportunidade de escolha de acordo com seus valores e possam acompanhar a implementação das estratégias nos diferentes contextos e contribuir para a continuidade e coerência nas intervenções.

Debates atuais sobre terapia ABA e autismo

Apesar de ser uma das abordagens mais estudadas no campo do desenvolvimento e do comportamento, a ABA também é tema de debates importantes. É essencial reconhecer essas discussões de forma responsável, considerando tanto as evidências científicas quanto as diferentes experiências de pessoas autistas e de suas famílias.

Algumas críticas se referem a práticas ultrapassadas de intervenção, com estratégias que são consideradas incompatíveis com as diretrizes éticas contemporâneas. Esse histórico reforça a importância de que intervenções baseadas em ABA sejam conduzidas de acordo com normas atualizadas, pautadas no bem-estar, na segurança e no respeito à pessoa.

Outra preocupação diz respeito à possibilidade de que a intervenção seja aplicada de forma excessivamente estruturada ou desconectada do cotidiano da criança. Por isso, as recomendações atuais indicam práticas individualizadas, integradas ao desenvolvimento infantil, aos interesses pessoais e realizadas de forma colaborativa entre família e equipe multiprofissional, valorizando os contextos naturais de aprendizagem.

Há também debates sobre carga horária e intensidade. Embora modelos antigos defendessem 30 a 40 horas semanais, evidências mais recentes indicam que a qualidade da intervenção, com características como responsividade, engajamento, colaboração com a família, contexto naturalístico, é mais determinante do que a quantidade de horas. Assim, recomenda-se cautela para evitar sobrecarga, estresse e rotinas hiper estruturadas para crianças pequenas.

Outro ponto de discussão é sobre a formação dos profissionais que oferecem ABA. Ainda faltam regulamentação e critérios mínimos para a prática, o que gera risco de intervenções pouco qualificadas, centradas apenas em técnicas isoladas e sem integração com o desenvolvimento infantil ou com outras áreas clínicas.

Por fim, debates sobre neurodiversidade também têm contribuído para aperfeiçoar a forma de realizar intervenções. A crítica não é ao princípio científico da ABA, mas às aplicações que possam ter como objetivo suprimir características autistas legítimas ou ignorar as necessidades sensoriais e comunicativas da pessoa. A perspectiva atual, apoiada por pesquisadores, profissionais e movimentos de pessoas autistas, é que intervenções devem apoiar autonomia, participação e bem-estar, e nunca impor padrões de comportamento que desconsiderem a singularidade do indivíduo.

Essas discussões são fundamentais para a evolução das práticas. Hoje, há consenso entre pesquisadores e profissionais éticos de que intervenções baseadas em ABA devem ser individualizadas, baseadas em evidências, respeitosas, colaborativas e centradas na pessoa. O diálogo com famílias, profissionais e pessoas autistas é fundamental para construir práticas cada vez mais seguras, éticas, eficazes e alinhadas aos direitos humanos.

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