Comorbidades e TEA: qual a relação?

31/10/2025Destaques, Diagnóstico, TEA no Dia a Dia0 Comentários

Comorbidades e TEA: qual a relação?

Você com certeza já deve ter ouvido falar em comorbidade. O termo significa a presença de condições associadas ao diagnóstico principal do paciente. Por exemplo: no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), comorbidade trata de outras condições de saúde que podem coexistir com o transtorno, como ansiedade, epilepsia e TDAH. Neste texto, vamos falar mais sobre o assunto e destacar por que é importante prestar atenção às comorbidades para promover uma melhor qualidade de vida.

Acompanhe!

Antes, vale saber que boa parte das pessoas com TEA têm alguma comorbidade: revisões sistemáticas recentes mostram que cerca de 70% das pessoas com autismo têm, pelo menos, uma comorbidade. Além disso, é comum ter mais de uma comorbidade associada, entre quadros neurológicos, psiquiátricos, cognitivos e físicos, como os que listamos a seguir. 

Assim como o diagnóstico precoce do autismo é essencial, reconhecer e tratar precocemente as comorbidades é fundamental para promover atenção integral, prevenir agravamentos e promover o desenvolvimento, a saúde e o bem-estar da pessoa com TEA.

Comorbidades e TEA

O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza por diferenças na comunicação, nos comportamentos  e na interação social, que se manifestam de formas muito diversas entre um indivíduo e outro. Por isso, não é correto generalizar, pois cada pessoa com autismo têm as suas características, potencialidades e necessidades. Da mesma forma, as comorbidades associadas ao TEA também variam muito entre uma pessoa e outra. 

É interessante pontuar também que uma comorbidade pode influenciar o modo como o autismo se expressa, trazendo mais impactos na vida cotidiana. Em alguns casos, uma comorbidade pode intensificar determinados traços do autismo. É o que acontece, por exemplo, em pessoas com TEA que também apresentam quadros de depressão ou ansiedade. A ocorrência dessas condições pode acentuar desafios na hora de ter contato com outras pessoas ou na flexibilidade para novas experiências. 

Confira comorbidades comuns a quem possui diagnóstico de TEA:

  • TDAH
  • TOC
  • Depressão
  • Ansiedade
  • Epilepsia
  • Distúrbios do sono
  • Distúrbios de linguagem
  • Distúrbios gastrointestinais
  • Deficiência intelectual
  • Dificuldades de coordenação motora

A seguir, falamos mais sobre algumas delas.

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Não é difícil encontrarmos pessoas com TEA também diagnosticadas com TDAH. Entre os sintomas estão a dificuldade de foco e concentração, a hiperatividade, bem como a dificuldade para organizar atividades e cumprir prazos ou até mesmo concluir tarefas. É importante que cada transtorno seja identificado e tratado, evitando enxergá-los como uma coisa só, pois cada um apresenta manifestações e abordagens terapêuticas distintas.  

O diagnóstico preciso permite que as estratégias de intervenção sejam personalizadas, combinando terapias, ajustes ambientais, orientações familiares e, em alguns casos, uso de medicação.

Distúrbios gastrointestinais 

Estudos apontam que sintomas gastrointestinais são muito frequentes entre pessoas com autismo, sendo referidos por cerca de 85% de quem está no espectro. 

Esses sintomas, vale dizer, estão associados a várias condições e doenças que afetam o sistema digestivo, do esôfago ao reto, tais como: refluxo, gastrite, doença celíaca, síndrome do intestino irritável e intolerâncias alimentares. 

Apesar dessas complicações afetarem a qualidade de vida da pessoa com TEA, muitas vezes, em virtude das dificuldades do próprio quadro, elas acabam passando despercebidas ou sem a devida atenção, o que também é comum com outras comorbidades. Isso ocorre, em parte, devido à escassez de profissionais capacitados para reconhecer sinais de desconforto em pessoas com diferentes formas de comunicação, o que também é comum com outras comorbidades. Outro ponto importante é que algumas medicações podem interferir no  funcionamento gastrointestinal, contribuindo para o surgimento ou agravamento de sintomas. E isso se aplica a todas as pessoas, com TEA ou não. 

Epilepsia

Essa é outra comorbidade comum no contexto do TEA e pode atingir de 25 a 40% das pessoas com autismo. Diferente de outras comorbidades, a epilepsia costuma ser mais evidente e se caracteriza por descargas elétricas anormais ou excessivas no cérebro, que podem gerar  movimentos involuntários no corpo, alterações de consciência ou comportamentos atípicos durante as crises. 

Uma vez diagnosticada, é preciso ter atenção para identificar e evitar gatilhos ou fatores que podem levar à piora do quadro de epilepsia. Alguns sinais merecem atenção redobrada, tais como enrijecimento dos músculos, olhar fixo e ausente, quedas súbitas e contração involuntária de membros. O acompanhamento interdisciplinar é fundamental para ajustar intervenções e ampliar a segurança e o bem-estar da pessoa com autismo. 

Distúrbios alimentares

Distúrbios alimentares são condições psiquiátricas reconhecidas pelos manuais diagnósticos e envolvem quadros com alterações persistentes nos comportamentos, percepções e emoções relacionados à alimentação, peso e imagem corporal, causando impactos significativos na saúde física e mental. Os principais distúrbios alimentares são anorexia, bulimia, compulsão, síndrome de pica e o Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE). 

No autismo, a seletividade alimentar é frequentemente observada e pode se constituir como uma comorbidade funcional. Ela pode estar relacionada a fatores sensoriais, rigidez comportamental, com preferências por texturas, cheiros, sabores, cores ou temperaturas específicas dos alimentos. Quando a seletividade é tão restritiva que leva à perda de peso, deficiências nutricionais ou sofrimento emocional, pode preencher os critérios diagnósticos de TARE. 

Além da seletividade, outros hábitos alimentares fora do padrão e irregulares também são comuns em pessoas com autismo e podem resultar em obesidade, alterações metabólicas ou magreza excessiva. A depender do padrão alimentar da pessoa, além de refletir no peso, esse hábito pode significar falta de nutrientes no organismo ou excesso de açúcar, por exemplo, comprometendo outros aspectos da saúde. 

Como o organismo funciona de forma integrada, uma visão holística e interdisciplinar sobre a saúde é especialmente importante no cuidado às pessoas neurodivergentes, que podem camuflar comportamentos, ocultar dificuldades e evitar ou não conseguir relatar desconfortos que precisam ser investigados. 

Cuidado interdisciplinar 

Assim como já preconizamos para o diagnóstico e tratamento do TEA, a identificação e o manejo de comorbidades no contexto do espectro também requerem um acompanhamento multi e interdisciplinar. Pediatras (no caso de crianças), neurologistas, psiquiatras, gastroenterologistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e nutricionistas estão entre os profissionais que podem ser acionados. 

Lembre-se: avaliação e acompanhamento com especialistas, abordagem integrada e atenção contínua aos sinais são os melhores caminhos para garantir cuidado integral e prevenir complicações. A inclusão também passa pela compreensão do impacto dessas comorbidades no dia a dia da pessoa com autismo, em sua saúde física, mental e na participação social.  

Em caso de suspeita, busque orientação profissional e tire suas dúvidas. Cada pessoa é única e o tratamento precisa ser individualizado, respeitando as singularidades e necessidades de cada trajetória. 

Referências:

Academia do Autismo. Comorbidades no autismo. Disponível em: https://br.academiadoautismo.com/comorbidades-no-autismo/ Acesso: 22 de outubro de 2025.

Autismo e Realidade. Comorbidades são mais presentes em autistas de níveis 2 e 3 de suporte. Disponível em: https://autismoerealidade.org.br/2024/01/09/comorbidades-sao-mais-presentes-em-autistas-de-niveis-2-e-3-de-suporte/ Acesso: 22 de outubro de 2025.

Associação dos amigos da criança autista. O que é comorbidade. Disponível em: https://auma.org.br/glossario/o-que-e-comorbidade/ Acesso: 22 de outubro de 2025.

Khachadourian, V., Mahjani, B., Sandin, S. et al. Comorbidities in autism spectrum disorder and their etiologies. Transl Psychiatry 13, 71 (2023). https://doi.org/10.1038/s41398-023-02374-w Acesso: 27 de outubro de 2025.

 

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