Comorbidades são mais presentes em autistas de níveis 2 e 3 de suporte

9/01/2024Tratamentos0 Comentários

Estudos mostram que até 30% das pessoas com TEA são não verbais e 37% delas têm algum tipo de deficiência intelectual

‌O autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento, caracterizado por dificuldades em ao menos três áreas: comunicação e linguagem, interação social e padrão comportamental. Não por acaso, o transtorno, que afeta 1 em cada 36 pessoas no mundo, é um espectro, abrangendo uma ampla gama de sintomas e níveis de suporte, assim como de comorbidades.

‌Comorbidade é um termo médico que descreve condições associadas ao diagnóstico principal de uma doença ou transtorno, como o do espectro autista. Estudos mais recentes mostram que elas estão presentes em cerca de 70% dos casos de TEA em maior ou menor quantidade. Não raramente são identificadas mais de uma comorbidade em um mesmo paciente, como ansiedade, distúrbios do sono ou epilepsia.

Segundo a neuropsicóloga Joana Portolese, esse acúmulo de sintomas e déficits de comportamento para além do TEA tende a ser mais presente quando os níveis de suporte são mais elevados. “No nível 2, por exemplo, já se percebe obrigatoriamente a presença de comorbidades”, afirmou a coordenadora do programa de diagnóstico de TEA do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

‌Metade dos autistas em fase adulta pode ter depressão

‌E, assim como no diagnóstico precoce do autismo, a identificação rápida de suas comorbidades auxilia no prognóstico do tratamento e, especialmente, na busca por uma maior qualidade de vida. Joana afirma que a intensidade dessas questões associadas está entre os fatores que definem se “uma pessoa é mais ou menos autista”.

Essa lista é composta também pela presença ou não de questões sensoriais, inflexibilidade, inteligência e interesses fixos e restritivos, também chamados de hiperfoco. Daí a importância do atendimento terapêutico ser multidisciplinar. De acordo com o caso, além de psicólogos e fonoaudiólogos, é preciso incluir na equipe fisioterapeutas, gastroenterologistas e terapeutas ocupacionais, por exemplo, sempre sob a coordenação de um psiquiatra ou neurologista.

‌Não existe um ranking quando se trata de comorbidades do TEA, mas, de acordo com estudo publicado no Journal of Abnormal Child Psychology, a depressão pode afetar 50% dos autistas adultos, e com impactos importantes, como perda de habilidades adquiridas ao longo da vida em sessões de terapia, isolamento social e, no pior dos casos, pensamentos suicidas.

Do mesmo modo, a ansiedade tem se revelado muito comum, mesmo na infância. Especialistas explicam que esse quadro é geralmente derivado de uma expectativa social de adaptação que recai de maneira desproporcional nas crianças.

‌O empenho diário para alcançar comportamentos esperados pela sociedade exige um esforço desmedido, com potencial de gerar ansiedade em diversas situações, como seguir uma rotina ou obedecer a um comando. Em alguns casos, essa ansiedade pode estar diretamente relacionada a outra comorbidade: o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), que é caracterizado por pensamentos obsessivos e manias.

‌Dificuldades de fala e deficiência intelectual afetam um terço dos autistas

‌Segundo Joana Portolese, de 20 a 30% dos autistas podem ser não verbais e quase 40% deles apresentam algum tipo de deficiência intelectual, especialmente aqueles com nível 3 de suporte. Nesses casos, são mais comuns também quadros de epilepsia, dificuldades de coordenação motora e síndromes genéticas.

‌A apresentação feita pela neuropsicóloga durante o Simpósio de Inovação Diagnóstica e Intervenção em Análise do Comportamento na Esfera do TEA, organizado pelo Instituto PENSI, em São Paulo, aponta ainda outras duas comorbidades como as mais presentes em autistas: distúrbios gastrointestinais e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), muitas vezes confundido com o autismo na primeira infância, dificultando ambos os diagnósticos. Veja a lista completa:

  • TDAH
  • TOC
  • Depressão
  • Ansiedade
  • Epilepsia
  • Distúrbios do sono
  • Dificuldades de fala
  • Síndromes genéticas
  • Distúrbios gastrointestinais
  • Deficiência intelectual
  • Dificuldades de coordenação motora

De acordo com Joana, apesar de autistas com níveis 2 e 3 de suporte apresentarem mais comorbidades, elas também podem estar presentes nos diagnósticos de nível 1 de suporte. “São quadros classificados como os mais leves, mas leves para quem? Se eu tenho autismo, eu tenho um suporte, eu tenho uma dificuldade.”, comenta Joana. Avaliações neuropsicológicas e de fonoaudiologia, feitas por profissionais com experiência em TEA, são ferramentas importantes para o diagnóstico de comorbidades.

Escrito por Adriana Ferraz, Teia.Work

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