A culpa nunca foi minha

9/09/2019Histórias2 Comentários

Mãe de uma criança autista, Daiana fala sobre o peso negativo do julgamento dos outros

Quantas vezes aquele olhar, aquela balançada de cabeça, aquela opinião não solicitada te machucou? Quantas vezes você se questionou: “o que eu estou fazendo de errado?”. Você lê, pesquisa, vai a todas as consultas com o pediatra, se informa e mesmo assim todo mundo age como se soubesse criar seu filho melhor que você. Todo mundo tem uma solução simples para resolver toda “má educação” de seu filho. Você até tenta explicar que autismo não é birra e que você se esforça a máximo para dar o melhor para o seu filho. Mas quando a sua criança chora quando chega em algum lugar diferente ou o porque não quer ir no colo da titia ou da sua melhor amiga, os olhares de reprovação e julgamento seguem te atingindo.

Com o tempo colecionei algumas pérolas de sabedoria totalmente não solicitadas, como “A culpa é sua! Afinal o filho da sua vizinha é 3 meses mais novo e já esta falando! E o seu? Nem uma palavra!”. Ou então: “Os seus sobrinhos comem de tudo e você tem que trazer comida pronta de casa, por que cria seu filho com frescura e, por isso, ele não come qualquer coisa!”. Outra fala bem comum é: “Que absurdo, sua filha ainda usa fraldas? A filha da sua prima saiu das fraldas antes dos 2 anos!”. Aqui vale um parêntesis: é absolutamente normal as crianças com TEA levarem mais tempo para aprender a usar o banheiro.

E ainda tem as pessoas que resumem todas as dificuldades e particularidades de uma criança com TEA a um excesso de mimo. A dica/bronca costuma ser assim: “Está ai o problema, você não tira essa criança do colo! É por isso que ele não dorme direito, não come, não brinca com outras crianças, não fala, não saiu das fraldas, não vai ao colo dos outros, chora sem motivos, você a está mimando demais, tem que ser mais firme. Nossa, os filhos da sua amiga são tão educados e espertos, ela sim é firme da educação para os filhos e sabe que tem que deixar a criança chorar para acostumar”.

Receber o diagnóstico de autismo da minha filha, sem dúvidas, foi e ainda é algo muito doloroso. Mas não posso negar que encontrei uma certa paz ao conseguir uma resposta para o comportamento da Manu ser diferente do que é esperado pela sociedade, apesar de todos os meus esforços. Saber que a culpa não é minha, não é dela, não é de ninguém, que eu não fiz nada de errado, sem dúvidas tirou um peso enorme dos meus ombros. Eu me sentia mal com as pessoas falando pelas minhas costas, mas hoje estou mais leve e segura, pois sei que minhas atitudes só têm ajudado no desenvolvimento da Manu. É fácil falar que não devemos dar ouvidos ao que os outros dizem, porque palavras e olhares machucam, ainda mais quando se está fragilizada e perdida. Por isso, peço sempre: não julguem, espalhem amor, é disso que o mundo precisa!

Daiana de Souza Camilo

Daiana de Souza Camilo

Funcionária pública

Mãe da Manu, de 4 anos, faz cursos de Intervenções Precoces no Autismo e de Terapia ABA. Daiana e o marido Dione Ribeiro Camilo são autores do perfil no Instagram @mundo_da_manu_tea

2 Comentários

  1. Me indentifiquei muito.

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  2. Seu perfil no Instagram foi o primeiro que comecei a seguir assim que o médico levantou a suspeita de autismo no meu filho, você mim ajudou muito e continua ajudando pois seus post mostra superação anos traz conforto, suas palavras tocam nos corações de quem as lê.

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