Episódios de fuga de crianças autistas
Faltam dados no Brasil sobre o problema que, nos EUA, afeta até 50% das famílias
Os perigos de vagar e fugir de crianças com autismo podem afetar até metade das famílias, de acordo com estudos norte-americanos. No Brasil, ainda faltam dados sobre estes episódios. A situação é tecnicamente definida como deixar um espaço supervisionado e seguro e ser exposto a perigos potenciais, como mar aberto, trânsito e clima. O pediatra de desenvolvimento comportamental, Dr. Paul H. Lipkin, tem tentado há anos alertar para os perigos provocados por esse tipo de comportamento.
Lipkin é diretor de serviços ambulatoriais médicos do Instituto Kennedy Krieger e professor associado de pediatria da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. Em 2020, ele falou sobre “Os perigos do autismo: segurança e a criança errante” em uma aula no encontro online da AAP (Academia Americana de Pediatria).
Apesar de comum, o problema ainda é pouco abordado, mesmo entre especialistas em pediatria
Pesquisas indicam que de 25% a 50% das crianças com autismo já tentaram fugir. Trata-se, portanto, de uma condição frequente, que pode resultar em ferimentos graves ou mesmo na morte de muitas crianças autistas todos os anos. No entanto, mesmo entre pediatras, falta familiaridade com o problema, por ser raramente abordado.
De acordo com um estudo de 2011 da IAN (Interactive Autism Network), quase metade dos pais disseram que seus filhos tentaram fugir pelo menos uma vez após os 4 anos de idade. Entre os que desapareceram, 24% corriam risco de afogamento e 65% corriam risco de ferimentos de trânsito.
Dois anos depois desta pesquisa, quando Lipkin se tornou diretor da IAN, em 2013, a perambulação continuou sendo uma questão com graves consequências para as crianças – e ainda é um problema hoje.
Programa norte-americano orienta mãe, pais e cuidadores a prevenir episódios de fuga de autistas
Os pediatras têm estado cada vez mais atentos ao diagnóstico e tratamento do Transtorno do Espectro do Autismo em suas clínicas. No entanto, ainda há necessidade de estarem cientes de outras questões graves, capazes de impactar a vida e o desenvolvimento de crianças autistas. Estar sintonizado e tomar medidas para prevenir a errância e fuga se encaixa no papel do pediatra geral na prestação de cuidados preventivos.
Lipkin discutiu em sua apresentação na AAP a natureza do problema e forneceu estratégias e recursos, incluindo o Big Red Safety Box da National Autism Association (disponível em inglês aqui), para ajudar a prevenir lesões e morte.
O Big Red Safety Box da National Autism Association é um kit de ferramentas de segurança gratuito para famílias com autismo que precisam prevenir episódios de errância. O material é fornecido pelo OJP (Office of Justice Programs), do Departamento de Justiça dos EUA, como parte de uma iniciativa intitulada “Redução de Lesões e Morte de Pessoas Desaparecidas com Demência e Deficiências de Desenvolvimento – Proactive Programs.” No Brasil, além da falta de estatísticas, não há um programa semelhante de cuidado com as pessoas com necessidades especiais.
Compartilhe:
Acessos:
Dr. José Luiz Egydio Setúbal
Médico
Médico e presidente da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, fundo patrimonial familiar dedicado à causa da saúde infanto-juvenil no Brasil.
0 comentários