Como diminuir as limitações e aumentar a inclusão dos autistas?

21/06/2021TEA no Dia a Dia0 Comentários

Enxergar o transtorno como condição humana favorece o incentivo à autonomia

Quando se discute sobre o futuro de uma pessoa autista, sempre vem em mente a possível independência que essa pessoa terá. Esse é um assunto que, infelizmente, ainda hoje assusta algumas pessoas.

Sempre na abertura de um curso sobre Transtorno do Espectro Autista (TEA) voltado para estudantes de medicina, a professora assistente do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (FCMSCSP) Rosane Lowenthal inaugura sua primeira aula com a seguinte pergunta: “Para você, seria mais difícil dar para os pais de uma criança o diagnóstico de câncer ou de autismo?”. A grande parte dos alunos, em todos os cursos, responde que seria mais difícil dar um diagnóstico de autismo a um diagnóstico de câncer.

Ao serem questionados sobre o porquê, temos explicações de que seria muito difícil dizer a alguém que seu filho nunca poderá ser independente. Dito por esta professora: “Possivelmente os alunos não estão enxergando a deficiência como uma condição humana. Possivelmente enxergam como um ato de invalidez. E não é isso que os autistas são, eles têm uma vida toda pela frente.”

Pessoas com deficiência podem e devem participar ativamente da sociedade

Mesmo em meio aos profissionais de saúde, ainda há falta de conhecimento sobre o assunto. Já discutimos em nosso blog sobre o chamado capacitismo, o preconceito direcionado a pessoas com deficiência, grupo do qual fazem parte os autistas.

O capacitismo causa dificuldades diárias para autistas e seus familiares ao lidar com pessoas que demonstram pouco entendimento sobre o transtorno. Trata-se de uma visão que separa as pessoas em padrões e exclui todas que não se encaixariam dentro de um critério muito específico de normalidade. Entretanto, a sociedade é formada por seres humanos, e humanos sempre serão diferentes entre si.

É necessário entender, portanto, que pessoas com deficiência podem e devem participar ativamente da sociedade, e que não é preciso estar dentro de um padrão para que isso aconteça, pois, todas as pessoas são capazes dentro de suas limitações. Dessa maneira, voltamos ao título do texto: como diminuir as limitações e aumentar a inclusão dos autistas?

Difusão de informações e convivência entre estudantes da área de saúde e autistas ajuda a ampliar a inclusão

Já discutimos essas questões em outros textos do nosso blog. Em um deles, temos um título que já ajudaria a responder uma de nossas questões: diminuir o estigma é aumentar a inclusão social.

Pesquisas científicas recentes mostram que os níveis de estigma a respeito de autistas diminuem quando as pessoas acumulam mais conhecimento sobre o TEA. Ou seja, à medida que a informação passa a ser mais difundida, a tendência é que os autistas sofram menos com a exclusão. Um dos objetivos do Autismo e Realidade é justamente contribuir com a ampliação da inclusão social e, por isso, divulgamos informações de forma ampla e da maneira mais clara possível sobre a rotina dos autistas e as características do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Considerando que a inclusão social é um melhor relacionamento de pares e uma participação da vida em sociedade, é preciso que essa sociedade conheça o que é o transtorno e conviva com autistas.

Sobre os estudantes da área de saúde, quando comparados com a população em geral, aqueles com experiência profissional com autistas adotam atitudes mais favoráveis à inclusão social do que estudantes que não convivem com estas pessoas. Uma das formas de aumentar a convivência desde a infância seria por meio das escolas, por exemplo, ou por meio dos campos de atuação profissional ao chegar na fase adulta.

Inclusão de autistas em escolas regulares e aumento da empregabilidade favorecem o desenvolvimento

A inclusão acontece também por meio do conhecimento. A sociedade deve conviver com pessoas com autismo desde a infância. Este é um dos motivos pelo qual é tão importante a inclusão de autistas em escolas regulares.

Além de contribuir para o desenvolvimento e tratamento da pessoa com autismo, também contribui com o envolvimento social de todos os alunos e o convívio com a diversidade, resultando, assim, na inclusão social.

Já na vida adulta, é importante ter pessoas com autismo em todos os âmbitos profissionais.Dessa forma, além de contribuir para o convívio, para o envolvimento social e para a empregabilidade da pessoa com autismo, ainda é possível ter a voz da pessoa com o transtorno nos resultados da empresa, envolvendo assim todas as pessoas com autismo nesses resultados.

Aumento do diagnóstico e de intervenções adequadas contribui para reduzir as limitações aos autistas

Voltando ao nosso questionamento inicial, entendemos como poderíamos aumentar a inclusão social. Agora discutiremos como diminuir as limitações.

Em 2020, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) lançou um documento que atualiza a prevalência do TEA para 1 a cada 54 pessoas. Em 2004, era de 1 a cada 166.

Aqui, nota-se duas possibilidades: ou o número de pessoas com o transtorno realmente aumentou, ou o número de diagnósticos aumentou. A maioria dos pesquisadores acredita na segunda afirmação, de que cada vez mais se amplia o acesso ao diagnóstico por parte dos pacientes e a qualidade da informação por parte dos profissionais da saúde, o que se reflete no número de diagnósticos corretos.

Com o aumento dos diagnósticos corretos, precisamos focar também em intervenções corretas e, assim, diminuir as limitações das pessoas com autismo. Sabemos que não há tratamento medicamentoso para o autismo em si, apenas para as comorbidades, ou seja, os outros transtornos que podem estar presentes ao mesmo tempo que o autismo, como distúrbios do sono, ansiedade, ou TDAH.

Quando mais precoces os estímulos, maior a chance de desenvolvimento do autista no espectro

Discutimos sobre tratamento precoce em outros textos de nosso blog também e enfatizamos a necessidade de identificação e encaminhamento precoces para tratamento. Os resultados são melhores quando o tratamento começa o mais cedo possível. Lembrando que o tratamento de TEA é feito por uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogos, terapeutas ocupacionais, médicos, profissionais da educação física, fisioterapeutas etc. Dessa forma, temos que estimulações mais precoces aumentam a possibilidade de independência da pessoa com autismo no futuro.

Estudos apontam que crianças autistas têm prejuízos no comportamento adaptativo começando aos 12 meses, muito antes do período padrão do diagnóstico. Atrasos no comportamento adaptativo impactam negativamente não só no curso e prognóstico de crianças autistas, mas também naquelas em que existem outras preocupações com o neurodesenvolvimento. Isto torna ainda mais importante as intervenções específicas e precoces, pois podem alterar a evolução natural do transtorno, uma vez que essas habilidades podem ser ensinadas.

Dessa forma, o conhecimento dos profissionais de saúde deve crescer cada vez mais para que o diagnóstico precoce realmente aconteça. Além disso, após o diagnóstico, o acesso à intervenção precoce deve ser facilitado a toda sociedade. Lembramos que, por meio do SUS, a porta de entrada para os serviços de saúde é dada pelas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), o chamado postinho de saúde. Nele, são realizadas consultas de rotina e acompanhamento, tanto de crianças quanto de adultos, e encaminhamento para profissionais especializados quando necessário. O acompanhamento especializado pode ser feito também por meio dos CAPS ou pelo encaminhamento para centros de referência.

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