Equoterapia para autistas
Método aplica técnicas das áreas da saúde, educação e equitação para potencializar o desenvolvimento biopsicossocial
Equoterapia, também conhecida como terapia assistida por cavalos, é um método terapêutico que utiliza cavalos para buscar o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com necessidades especiais. Tal método utiliza as técnicas da área da saúde, educação e equitação, se enquadrando em um tratamento com diversas comprovações de eficácia.
A utilização do cavalo se divide em quatro atos. O primeiro é chamado de hipoterapia, que utiliza a oscilação do cavalgar para alterar estados psicológicos e físicos. Essa modalidade geralmente é escolhida quando o participante não tem autonomia, e necessita do auxílio constante do terapeuta.
O próximo é chamado de reeducação equestre, no qual o terapeuta realiza alterações posturais promovendo a reabilitação motora e mental. Ao utilizar o comportamento natural do participante em conjunto com as ações do cavalo é possível melhorar os tempos de reação e atenção do paciente.
Entre os ganhos da equoterapia, estão melhora na postura e aumento do controle de reações no dia a dia
Também é possível melhorar a capacidade executiva, ou seja, a capacidade do cérebro de controlar os pensamentos e ações em relação aos acontecimentos da vida, como conflitos ou distrações. A reeducação equestre também auxilia o participante na discriminação espacial em relação a direção, distância e alinhamento postural.
O terceiro ato do tratamento chama-se pré-esporte, ou seja, início do aprendizado das técnicas de atividade de equitação, que contribui com a inserção social dos autistas, por desenvolver a reciprocidade socioemocional.
O cavalo é utilizado como uma fonte cinésia-terapêutica, ou seja, um instrumento usado para terapias que opera com a análise dos movimentos. Tem indicação para autistas e outros transtornos com alterações psicossociais como déficit de atenção e hiperatividade e alterações comportamentais.
Andar a cavalo estimula movimentos de adaptação e cria sensação de proximidade com outro ser
Com autistas, o primeiro desafio é criar uma aproximação socioemocional com o terapeuta, que utiliza diversas técnicas para estabelecer um vínculo gradualmente. À medida que a terapia se estende, o autista treina a interação social, a percepção, a iniciativa própria e a obediência a ordens.
Movimento tridimensional do cavalo
Segundo Wickert, especialista em equoterapia, o cavalo é o único animal que transmite o movimento tridimensional. Ao se movimentar, o cavalo transmite através de seu dorso uma sequência do que chamamos de ajustes tônicos, que são movimentos automáticos de adaptação.
Esses ajustes são transmitidos por três direções diferentes, por isso tridimensional, para frente, para trás, para os lados, para cima e para baixo. Esse movimento pode ser comparado com a ação da pelve humana ao andar.
Essa movimentação estimula o cérebro e viabiliza exercícios da musculatura, intercalando alongamentos e contrações pela busca do equilíbrio. A sensação de montar um cavalo expõe o autista a uma percepção nova de estar tão próximo de um ser vivo consideravelmente maior em porte e altura consideravelmente.
Cavalgar atinge objetivos terapêuticos de uma forma leve e lúdica
O cavalo é um animal dócil, que aceita as pessoas do jeito que elas são. Essa aceitação é percebida pelos autistas, que se sentem à vontade com essa aceitação. Outro fator é que a alegria em montar transforma o momento terapêutico em algo leve e lúdico. Todas essas oportunidades estimulam a espontaneidade e autoconfiança dos participantes.
Outro fator estimulado é a interação social, de maneira que ao longo das sessões o participante é treinado para comandar o cavalo e ter participação ativa no processo. Sendo assim, em cada sessão o autista é incentivado a interagir com o meio ambiente, principal dificuldade principal ocasionada pelo transtorno.
Yasmine Martins
Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com Especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE).
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