Projeto político pedagógico: a garantia da educação inclusiva para alunos com autismo

7/01/2022TEA no Dia a Dia0 Comentários

Inclusão nas escolas ganhou impulso no país a partir dos anos 1990

A presença de pessoas com deficiências nos sistemas educacionais do Brasil mudou com o passar dos anos. Após um longo período de exclusão e abandono, as atenções a esse tema voltaram a fazer parte da agenda educacional, mas de forma tímida.

O Brasil, desde a última década do século XX, tem desenvolvido políticas públicas educacionais para atender às disposições da Conferência Mundial de Educação para Todos, 1991, e da Conferência de Salamanca, 1994, das quais é signatário.

Conferências internacionais estabeleceram compromissos por acesso e permanência inclusiva das crianças nas escolas

Em 1994, na Conferência Mundial sobre Educação Especial, em Salamanca, Espanha, foram elaboradas diretrizes básicas para reforma e formulação de políticas educacionais inclusivas. Destacou-se que o princípio fundamental da escola inclusiva é o aprendizado em coletivo, onde as crianças deveriam aprender juntas, independentemente de quaisquer deficiências.

Em 1991, na Conferência Mundial de Educação para todos, realizada na cidade de Jomtien, na Tailândia, o objetivo era estabelecer compromissos mundiais para garantir a todos conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, condição insubstituível para uma sociedade mais humana e mais justa.

Ambas propõem o acesso e permanência dos estudantes no processo de escolarização e, para tanto, o desenvolvimento de programas e projetos que respondam às necessidades de aprendizagem e desenvolvimento de todos.

Brasil tem cerca de cem mil estudantes com deficiências em salas regulares

Em 2007, o Ministério da Educação aprovou a Política de Educação Especial numa Perspectiva Inclusiva.

O Decreto nº 6.094/2007 estabelece, dentre várias diretrizes, o compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos estudantes, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas.

Em 2018, no Brasil, 105.842, crianças e adolescentes com deficiências estudavam na mesma sala que pessoas sem deficiência (ou seja, em salas regulares), segundo dados do Censo Escolar, divulgado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP,

Inclusão de autistas exige acompanhamento por meio de Projeto Político Pedagógico

Para o atendimento às crianças e adolescentes com autismo na escola regular há necessariamente que se estruturar um Projeto Político Pedagógico, na perspectiva da educação inclusiva, com ações que atendam às necessidades dos estudantes. Também é preciso levar em conta a construção de uma cultura educacional inclusiva, na qual todos os sujeitos possam participar – o que implica reorganizar o currículo nos tempos, espaços, conteúdos, relações e avaliação.

O projeto político pedagógico (PPP) para autistas reúne propostas de ações concretas que auxiliam no processo de ensino e aprendizagem. Considera em suas ações a escola como espaço de formação de cidadãos críticos, conscientes que atuarão na sociedade.

A criança com autismo necessita de um PPP que ofereça um vasto auxílio nas atividades de comunicação e linguagem. Uma das características do autismo é justamente a dificuldade na realização dessa interação comunicativa. A ideia é que os protocolos educacionais possam exercitar a interação social e sociabilidade dentre os alunos.

É recomendado explorar a imaginação do autista e estimular o pensamento abstrato com atividades lúdicas

Outro fator preponderante é o uso da imaginação, habilidade que assessora os conceitos de causa e consequência. Ao realizar atividades educacionais que envolvam a imaginação, o autista treina sua aptidão de ouvir e levar em consideração o outro.

Dentre essas atividades podemos trazer como exemplo as brincadeiras de faz de conta, a exploração de materiais plásticos como garrafas sensoriais, a modelagem de argila ou atividades com pinturas. São tarefas que facilitam o relacionamento com o universo abstrato e não apenas com o concreto, como é automático para os autistas.

Cuidados específicos devem ser adotados para conquistar e manter a atenção do autista na aula

Outro fator relevante é a preparação para receber o aluno autista. Para garantir o nível de atenção, o professor ou professora deve solicitar que o estudante sente-se na primeira fila, necessita repetir o nome do aluno diversas vezes durante a aula e por fim precisa verificar o caderno constantemente para ter certeza que as tarefas estão executadas.

É recomendável a presença de um auxiliar de classe para o acompanhamento individualizado. Além de garantir o nível de atenção, o auxiliar também assegura a organização e a memorização das responsabilidades do aluno. Um caderno ou agenda com fotos é um ótimo recurso para o dia a dia em sala de aula.

Se houver episódios de estereotipia, ou seja, movimentos repetitivos, ou ecolalia, a repetição de palavras ou frases, o docente deve voltar a atenção do aluno para a atividade proposta ou para alguma outra atividade no mesmo sentido. E assim, não influenciar ou ficar passivo ao comportamento sintomático autístico.

Yasmine Martins

Yasmine Martins

Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com Especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE).

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