O impacto da psicomotricidade no tratamento de crianças autistas

21/01/2022TEA no Dia a Dia0 Comentários

Estímulos auxiliam na apreensão do mundo, no processamento das emoções e no movimento do corpo

A psicomotricidade é a capacidade de regular mentalmente as capacidades cognitivas, motoras e emocionais. Mas a que se refere cada uma destas capacidades?

A capacidade cognitiva é o processamento das informações por meio da atenção, da concentração, da memória, das habilidades auditivas, visuais e de outros sentidos. Em resumo, é por meio da cognição que processamos as informações que chegam ao nosso cérebro.

A capacidade emocional é a habilidade de lidar com os sentimentos e emoções. Para conseguir administrar suas emoções, uma pessoa precisa ter desenvolvido em si um equilíbrio entre aquilo que sente e a maneira como age.

A capacidade motora humana está ligada à intencionalidade. Ao realizar um movimento motor, em primeiro lugar se estrutura um pensamento e, em seguida, se manifesta uma intenção – como a de pegar água para beber ou de levantar para ir ao banheiro.

Estímulos para brincar são os primeiros passos para desenvolver a psicomotricidade dos autistas

O primeiro aspecto que a intervenção em psicomotricidade trabalha com as crianças autistas é o brincar coletivo e a não repetição excessiva da mesma brincadeira. São estímulos que melhoram o padrão motor, treinando o desenvolvimento da marcha e do equilíbrio.

Este tratamento proporciona experiências corporais por meio da exploração do espaço, dos objetivos e do corpo, usando técnicas de jogos lúdicos e exercícios físicos. Também proporciona a estimulação simbólica, ou seja, a construção de um mundo em que situações imaginárias funcionam como uma ferramenta para lidar com problemas reais.

A terapeuta, por exemplo, pode brincar com seu paciente autista com bonecos que interagem entre si e fazem uma festa, mostrando, por meio de simbolismo, que é possível socializar e ter bons momentos.

Situações imaginárias preparam as crianças para se sentirem mais seguras em cenários reais

A intenção de representar e usar a imaginação é uma via de comunicação menos aversiva para o autista. Ao brincar de faz de conta, o conteúdo da brincadeira se faz terapêutica e ensina novas condutas e comportamentos.

A criança expressa suas emoções e tem a brincadeira como escudo para evitar o sentimento de exposição. É mais confortável lidar com suas questões através do brincar do que verbalizar suas dificuldades e ouvir as interpretações da terapeuta.

Com a continuidade das sessões a criança amplia a aptidão de se sensibilizar com os outros, de respeitar as regras, de perceber o tempo e o espaço e ter atitudes de acordo com cada ambiente.

Espelho, caixinha de sensações e músicas instrumentais são grandes aliados nas sessões de terapia

As crianças autistas demonstram suas angústias ou insatisfações com comportamentos agressivos ou estereotipias, comuns quando a criança não se sente compreendida ou quando não tem sua necessidade atendida. Por isso, recursos lúdicos são usados como alternativa para a criança lidar com suas angústias e medos.

Um dos recursos é a caixinha das sensações, que guarda objetivos para estimular diferentes sentidos. Geralmente, há dentro dela algodão ou tampinhas plásticas, pregadores ou botões.

Outro recurso é a música, que estimula a audição e ensina a prestar atenção no que é falado. O ideal é utilizar músicas com sons de instrumentos ou elementos da natureza, de maneira que a criança ouça ruídos pouco comuns em sua rotina.

O espelho é mais uma ferramenta de estímulo. Por meio do reconhecimento das partes do corpo, a criança começa a compreender seu próprio reflexo e a construir uma autoimagem. Ajuda também a criança a relacionar cada parte de seu corpo com uma palavra diferente e ampliar o contato visual com a terapeuta.

Yasmine Martins

Yasmine Martins

Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com Especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE).

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