Abril Azul 2022: Personalidades da comunidade autista

31/03/2022TEA no Dia a Dia0 Comentários

Ativistas Tabata Cristine, Polyana Sá e Lucas Pontes trazem novas discussões e rompem tabus; conheça estes e outros nomes que levantam debate nas redes

Ampliar o leque de discussões da comunidade autista nas redes sociais está sempre na pauta das personalidades entrevistadas pela equipe da Autismo e Realidade.

O autismo é um espectro e isso significa que cada autista manifesta o transtorno de forma única, com distúrbios sensoriais e comorbidades diferentes e com intensidades variadas. É por isso que se diz que se você conhece um autista, você conhece um autista.

Há diferenças que vão além do transtorno e também precisam ser discutidas, e incluem raça, gênero, sexualidade, maternidade, acesso e permanência na universidade. Não são em essência questões ligadas ao autismo, mas são questões que também atravessam a realidade dos autistas.

Realidade das pessoas autistas negras integra racismo e capacitismo

O racismo ainda é um tema muito pouco abordado pela comunidade autista. “As pessoas se atêm ao estereótipo do homem autista branco que possui AH/SD (Altas habilidades/superdotação) ou TDI (Transtorno de Deficiência Intelectual)”, afirmou ao Autismo e Realidade Polyana Sá, ativista e criadora do @heyautista.

No perfil, ela fala sobre diagnóstico e dia a dia do autismo, testa produtos, discute estereótipos e, em especial, debate a vivência de pessoas autistas negras. Em uma das publicações, fala sobre uma crise que sofreu quando estava sozinha, em público, em um ponto de ônibus.

“No comércio, as pessoas encostavam as portas no menor sinal de que eu fosse pedir ajuda. Passavam de carro ao meu lado, abaixavam os vidros e pareciam achar graça”, conta a jovem, de 21 anos. “Numa situação dessas, minha maior preocupação era não ser agredida, ao invés de pedir ajuda.”.

Luciana Viegas é autista, pedagoga, ativista antirracista, idealizadora do Movimento Vidas Negras com Deficiência Importam e mãe de um garoto autista não falante. Sua principal preocupação é que o filho seja mal entendido durante uma abordagem policial.

“Um questionamento urgente surgiu em minha cabeça: ao ‘autistar’ pelo meu bairro, meu filho não seria confundido pela polícia com um suspeito?”, disse Luciana em uma coluna para o Autismo e Realidade. Ela escreve sobre autismo, racismo, capacitismo e muito mais no perfil @umamaepretaautistafalando.

Maternidade atípica, recusa do rótulo de guerreira e necessidade de diagnóstico

Além da experiência de maternidade atípica negra relatada por Luciana, outras duas influenciadoras dividem experiências sobre a maternidade na comunidade autista. A professora Amabile Marchi conta no @autismoaopedaletra como é ser mãe de dois garotos autistas e como falta apoio para as famílias atípicas.

“A ‘aldeia’ não quer saber da criança com deficiência. Eles não se sentem parte da responsabilidade, não sabem como lidar. Batem nas costas dessa mãe, dizem como ela é guerreira e viram as costas”, afirma.

A personal trainer Priscilla Peres, antes de ter sua terceira filha, contou ao Autismo e Realidade como o diagnóstico de autismo mudou sua experiência como mãe. Ao cuidar do primeiro filho, Kauê, “vivia dopada de remédios e sempre precisava da ajuda da minha mãe e irmãs para lidar com tudo”.

Na chegada do segundo, Salomão, a clareza do diagnóstico tornou a rotina da maternidade menos dura. “Hoje posso dizer que crio meus bebês com a alma leve sendo quem eu realmente sou.” Priscilla hoje cuida também da caçula, Theodora, nascida em novembro do ano passado.

Pluralidade da comunidade engloba discussões sobre gênero e sexualidade

O estereótipo infantilizado e a concentração das discussões no desenvolvimento da criança autista dificultam a abertura do debate para discussões de gênero e sexualidade que permeiam a adolescência e a vida adulta.

“As pessoas precisam entender que os autistas crescem, se relacionam amorosamente, precisam trabalhar, podem sim trabalhar, fazer faculdade e inclusive podem não ser pessoas tão legais como muitos pensam”, afirma a designer Tabata Cristina, do perfil @tabata_meumundoatipico.

Sophia Mendonça é uma mulher trans autista que, ao lado da mãe, Selma Sueli (também autista) discute autismo, transgeneridade e condição feminina no perfil Mundo Autista. Quando buscou apoio após se descobrir trans, conta, “o psiquiatra chegou a literalmente rir na cara da minha mãe”.

Tornar-se adulto engloba também a formação profissional e a passagem por uma universidade. Neste ponto, Gian Martinovic – que também atende pelo nome de registro Giulia, e por Gia – é uma pessoa não binária que discute o acolhimento dos autistas nas universidades.

Para atuar pela permanência de autistas no ambiente acadêmico, fundou o @coletivoautista, da USP, o primeiro do Brasil, que deu impulso a uma série de outros grupos similares em universidades de todo o país. “Os professores pareciam desconhecer que alunos autistas frequentavam a USP”, afirmou Gian em entrevista ao Autismo e Realidade.

Busca por discussões com base científica aproxima Lucelmo Lacerda e William Chimura

Pai de autista e doutor em educação, Lucelmo Lacerda coloca em discussão a necessidade de adotar bases científicas na discussão sobre educação inclusiva. Segundo ele, no Brasil, a dicotomia entre escolas inclusivas e especiais prejudica a discussão e não leva em conta a necessidade real dos estudantes atípicos. Lacerda ajuda a esclarecer esta e outras questões ligadas a autismo no @lucelmo.lacerda.

William Chimura também é entusiasta das pesquisas acadêmicas. Mas, além delas, é também um agregador em discussões polêmicas. No perfil @chimurawill, abre espaço para discussões equilibradas sobre temas polêmicos.

Quem também não se furta de abordar questões polêmicas é Lucas Pontes, que relatou ao Autismo e Realidade seu processo de amadurecimento a partir da criação do perfil Lucas Atípico.

O amadurecimento que vem a partir do diagnóstico é um dos temas abordados pelo quadrinista Rodrigo Tramonte no TED. Autor de Humor Azul, ele alimenta o perfil @rodtramonte, onde se define como “um anti herói na luta contra o capacitismo”.

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