Sintomas de depressão em mães de autistas
Necessidade de cuidados intensivos e de reestruturação econômica, psicológica e social exige apoio
O Transtorno do Espectro Autista compromete de forma persistente duas áreas principais do desenvolvimento: a comunicação social recíproca e a interação social. Esses sintomas podem se manifestar em diferentes níveis de intensidade e gravidade, portanto, cada pessoa apresenta um comportamento único, de caráter peculiar.
Na maioria dos casos, é a figura materna que assume como responsável primordial pelos cuidados intensivos que o autista irá receber ao longo da vida. A informação é apontada em um estudo de Patricia Howlin, Susan Goode, Jane Hutton e Michael Rutter publicado no Jornal da Psicologia da Infância e Psiquiatria de Londres (confira aqui a íntegra do estudo, em inglês).
A pesquisa aponta também que a dependência nas atividades diárias e o comportamento desafiador, associados à necessidade de reestruturação econômica, psicológica e social geram altos níveis de estresse em mães e cuidadores de autistas.
Atuar na melhora da saúde mental das mães de autistas impacta positivamente o desenvolvimento das crianças
Um outro artigo científico, escrito por Claudia Sanini, Evanisa Brum e Cleonice Bosa, aborda a depressão materna e suas implicações sobre o desenvolvimento infantil do autista (leia aqui o texto na íntegra).
As pesquisadoras constataram que o diagnóstico de autismo pode afetar negativamente a saúde mental materna, o que, por sua vez, pode impactar negativamente a interação com o filho, trazendo consequências para o desenvolvimento infantil.
Intervenções destinadas a melhorar a saúde mental das mães e o desenvolvimento de crianças com autismo têm apresentado resultados positivos.
Rotina associada aos cuidados com o autista gera acúmulo de desgastes
Além disso, a gravidade do TEA também foi associada a maiores níveis de sintomas depressivos em mães, bem como alto grau de estresse em professores e cuidadores, de acordo com o levantamento realizado por Luc Lecavalier, S. Leone e J. Wiltz da Universidade de Ohio (leia aqui a íntegra do estudo, em inglês).
As necessidades específicas de um filho autista exigem investimento de recursos financeiros, tempo e adequações na rotina diária. Existem diversas dificuldades de acesso ao acompanhamento relacionadas ao alto custo, longas filas de espera, falta de serviços especializados e demora no atendimento.
Construção de rede de apoio é essencial para lidar com dificuldades do dia a dia dedicado aos cuidados com filhos autistas
As pesquisadoras Josieli Piovesan, Silvana Alba Scortegagna, Ana Carolina Marchi estudaram a sintomatologia depressiva em mães de autistas por meio de um questionário socioeconômico e escalas psicológicas para rastrear sintomas depressivos, pessimismo e desesperança. Participaram da coleta de dados 40 mães de autistas diagnosticados há mais de um ano e que não passaram por situações estressantes, como desemprego, luto, doença terminal e divórcio.
Os dados socioeconômicos evidenciaram o perfil das participantes de pesquisa: eram mães casadas, que não trabalhavam para se dedicar a seus filhos. Em suas vivências, relataram episódios depressivos após o início da investigação dos sintomas de TEA. No momento da formalização do diagnóstico, desistiram de suas carreiras para garantir o acesso médico e educacional necessários.
Como estratégia para lidar com os sentimentos de tristeza e desesperança, indico a construção de uma rede de apoio – composta por familiares que possam auxiliar com os cuidados da criança, procurar atendimento psicoterápico, priorizar o sono, ter bons hábitos alimentares, evitar a procrastinação e não dar vazão a pensamentos negativos. Trabalhar ainda com a sobreposição de pensamentos bons sobre os pensamentos de autodestruição e desesperança.
Yasmine Martins
Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE). É doutoranda em Saúde Baseada em Evidências na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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