Qual a idade para começar a triar o autismo?
Quanto mais cedo o transtorno for detectado, maiores as chances de desenvolvimento da criança
Há muitas pesquisas cientificas na área de autismo dedicadas ao diagnóstico do transtorno. Quanto mais cedo temos o diagnóstico, mais cedo conseguimos direcionar o tratamento.
Ou seja, quanto mais precoce for o diagnóstico, mais cedo teremos o início de um estímulo guiado e melhor será o prognóstico.
Basicamente, o tratamento do autismo se dá por meio de estímulos e aprendizagens comportamentais. Dessa forma, o tratamento se baseia em um acompanhamento com uma equipe de profissionais de diversas áreas (como psicologia, terapia comportamental e nutrição) e não em um conjunto de medicações. Não há remédio para tratar o autismo, as medicações tratam apenas as comorbidades, como agressão ou ansiedade.
Triagem mais usada no Brasil é a escala M-Chat, feito por cuidadores de crianças de até 30 meses
Para buscar esse diagnóstico precoce, foram implantados métodos de triagem do Transtorno do Espectro Autista (TEA) para identificar alguns sintomas o mais cedo possível.
Um dos testes mais usados no Brasil é a escala M-Chat, um instrumento de identificação precoce do TEA recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
O teste é composto por questões do tipo ‘sim/não’, que devem, a princípio, ser respondidas pelos pais de crianças entre 16 e 30 meses de idade que estejam acompanhando o filho(a) em uma consulta pediátrica. As respostas aos itens da escala levam em conta observações dos pais em relação ao comportamento dos filhos.
Estudo testou triagem de mais de cinco mil crianças com idade de 1 ano a 1 ano e meio
Em 2021, foi publicado um artigo científico no The Journal of Pediatrics com o título traduzido de “Triagem precoce e repetida detecta Transtorno do Espectro do Autismo”. Ele visava avaliar o tempo e a precisão da triagem precoce e repetida para o TEA durante as visitas de crianças saudáveis. Assim, poderíamos avaliar qual seria a melhor forma de aplicar os instrumentos de triagens em consultas de puericultura com o pediatra, por exemplo.
Participaram desse estudo um total de 5.784 crianças pequenas, que foram inicialmente rastreadas aos 12, 15 ou 18 meses durante as consultas de puericultura, e rastreadas novamente aos 18, 24 e 36 meses. Das rastreadas, 368 crianças participaram de uma avaliação de TEA após uma triagem positiva.
Nesse estudo, constataram que triagens iniciadas aos 12 meses produziram um diagnóstico de TEA significativamente mais cedo do que aos 15 e 18 meses. Ademais, a triagem foi repetida ao decorrer do tempo, aumentando o número de crianças com resultado positivo.
Crianças que passam por triagem com 1 ano têm mais chances de serem diagnosticadas precocemente
Assim, foi concluído que a triagem a partir dos 12 meses identifica efetivamente muitas crianças em risco de TEA.
As crianças rastreadas aos 12 meses recebem um diagnóstico de TEA significativamente mais cedo do que os pares que são rastreados pela primeira vez em idades mais avançadas, facilitando a intervenção precoce.
No entanto, o melhor caminho é que a triagem seja repetida após os 12 meses para abranger o maior número de diagnósticos possíveis.
É importante, então, que a triagem seja iniciada logo no primeiro ano de vida para que o diagnóstico de autismo seja o mais precoce possível, propiciando tratamentos precoces e um melhor prognóstico, mas que a triagem seja também repetida ao longo do acompanhamento ambulatorial.
Bárbara Bertaglia
Médica residente na pediatria da Santa Casa de São Paulo, pesquisadora na área de Transtorno do Espectro Autista e membro da equipe Autismo e Realidade desde 2019
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