Estratégias para momentos de lazer com crianças autistas

3/12/2022TEA no Dia a Dia0 Comentários

Evitar o isolamento e buscar conviver com grupos fortalece a autoestima do autista e estimula habilidades sociais

Após a descoberta oficial do diagnóstico de uma criança autista, é importante não deixar de frequentar os mesmos lugares e procurar fazer parte de uma comunidade onde a família sinta acolhimento. Podem compor a lista o grupo comunitário da igreja, do futebol ou até o próprio grupo familiar estendido, como primos e tios.

Outros grupos indicados são aqueles relacionados ao diagnóstico de autismo, como o de terapia, de judô, de natação ou de equoterapia. A amizade com outros pais e cuidadores com vivências parecidas tem tudo para gerar um espaço de troca e acolhimento, e cada um tem seu lugar de fala e compartilhamento de experimentações.

Não se isole. Cada nova atividade irá estimular sua criança a conhecer novas estratégias de enfrentamento.

Não desista de encontrar um grupo capaz de acolher sua família; o trabalho é difícil, mas vale a pena

As atividades comunitárias são ótimas oportunidades para o aprendizado de novas habilidades, que irão trazer vantagens comportamentais agora e na vida adulta.

Estar entre pessoas é particularmente importante para praticar habilidades sociais, aptidão física e aumento do encorajamento e autoconfiança.

Pode ser difícil encontrar uma atividade comunitária que, de fato, faça o autista se sentir confortável. Os obstáculos com a sensibilidade auditiva, seletividade alimentar e estereotipias pode tornar essa busca ainda mais delicada (nós sabemos!).

Porém, a insistência nessa procura pode fazer com que a família encontre uma atividade tão especial ao ponto de superar os desafios e se sentir parte de um grupo.

Confira 10 dicas que vão ajudar os autistas a se sentirem mais animados a conviver com em diferentes grupos

Seguem algumas dicas para estimular crianças e adolescentes autistas a vivências em coletivo e ao novo:

1° – Influencie e deixe que assumam a liderança. Dê espaço físico a eles e estimule verbalmente para seguir com o proposto. Conheça seus interesses, habilidades e pontos fortes e sempre fale sobre a facilidade que eles teriam em tal atividade. Por exemplo: “Você tem hiperfoco quando está jogando xadrez, acredito que você ganhará o campeonato da escola no próximo sábado.”

O hiperfoco, de maneira geral, consiste na concentração máxima e duradoura em uma única tarefa. Nessa situação, a pessoa pode passar horas jogando videogame, assistindo televisão ou trabalhando em um projeto profissional, sem perceber o que acontece ao seu redor.

Programação visual é alternativa para preparar os autistas para novas atividades

2° – Defina expectativas realistas por meio de atividades que estão ao alcance deles. Se a tentativa for de fazer aulas de natação, por exemplo, certifique-se que não há medo ou aversão à água.

3° – A comunicação é fundamental. Ao pesquisar informações sobre aulas ou novas atividades, converse antes com os instrutores ou treinadores. Trabalhe em parceria com eles desde o início e deixe-os conhecer os pontos fortes e os desafios que enfrentarão com a criança e/ou o adolescente autista. Informe sobre o que funciona (ou não) e veja se esses profissionais apresentam capacidade técnica para acompanhar as atividades.

4° – Experimente. Fale com eles sobre experimentar novas atividades. É comum que autistas tenham dificuldades com atividade inéditas, eles podem ficar ansiosos ou nervosos sobre ir a algum lugar ou fazer alguma coisa. Uma boa estratégia é deixar a criança saber o que ela fará no dia. Também é interessante prepará-los para possíveis mudanças que possam ocorrer, tais como alterações de luminosidade ou ruídos. Muitos pais e professores usam uma programação visual na forma de fotos, para descrever as atividades diárias.

Troca de experiências com outras mães, pais e cuidadores ajuda a encontrar atividades que tenha mais a ver com a criança ou adolescente autista

5° – Converse com outros mães e pais. O ‘boca a boca’ é uma das melhores ferramentas à sua disposição. A troca de experiências e vivências é uma ótima maneira de testar a funcionalidade daquela nova atividade. Essa troca de informações esclarece dúvidas e traz uma visão pragmática da atividade.

6º – O tamanho da turma é importante. Ao experimentar novas atividades, o ideal seria escolher turmas com poucos alunos, que propiciem a aproximação aluno-professor. Ter apenas um instrutor para um grande grupo pode dificultar a viabilização de atenção individualizada – a menos que o programa encoraje a participação dos pais. Também é benéfica a presença de instrutores e assistentes, para ajudar no gerenciamento da aula.

7°- Segurança em primeiro lugar. Se o esporte exigir o uso de algum equipamento, examine se realmente está seguro e em bom estado de conservação. Além disso, considere as instalações e verifique se elas estão limpas e higiênicas. Comunique quaisquer condições médicas ou alergias aos instrutores de antemão e mantenha um kit de primeiros socorros com você.

Entender os limites de cada um, reforçar o aprendizado em casa e manter a positividade conta muito para manter a evolução constante

8°- Seja flexível. Entenda que, a princípio, eles podem não conseguir fazer tudo o que as outras crianças fazem. Trabalhar em muitos detalhes de uma só vez ou gastar muito tempo em uma única tarefa pode ser opressor e causar frustração. Fale com o treinador e/ou instrutor e veja se as habilidades e atividades podem ser divididas em partes menores e em mais seções gerenciáveis, para que eles possam se sentir, cada vez mais, bem-sucedidos. Se você perceber que eles estão ficando frustrados ou cansados, peça ao treinador para fazer uma pequena pausa e seguir o ritmo da criança. Acompanhe de perto.

9°- Vá além. Sempre que possível, ajude-os a aumentar seu nível de habilidade praticando em casa. Cuide para que as atividades sejam divertidas e sem estresse. No início, talvez seja necessário agendar uma ou duas aulas particulares com o treinador e/ou professor. O intuito seria prover uma atenção individualizada e uma preparação para estar em um ambiente de grupo.

10° – Seja paciente e mantenha-se positivo! Se inicialmente parecer que seu filho(a) não está progredindo tanto, continue e use muito incentivo. Todos, incluindo adultos, se sentem reforçados ao serem reconhecidos por fazer algo bem feito. Portanto, use muitos elogios verbais! Mesmo que eles não dominem tal habilidade, recompense o esforço.

Yasmine Martins

Yasmine Martins

Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE). É doutoranda em Saúde Baseada em Evidências na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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