Dicas para viagem de férias
Quer explorar ao mundo com sua filha ou filho autista? Contar antes tudo o que vai acontecer é parte da preparação
O primeiro passo é a antecipação: a criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) deve ter acesso ao maior número de informações possíveis sobre a viagem.
No caso dos autistas não verbais, os pais e cuidadores podem mostrar, por exemplo, imagens com o local da viagem, os veículos que serão utilizados, as comidas típicas e, principalmente, onde irão se hospedar.
Se optarem por mostrar vídeos, sugiro que os responsáveis assistam com antecedência e verifiquem a existência de linguagens ofensivas no conteúdo. Disponibilizem apenas vídeos que não causem aversão ou medo. Lembre-se de que os autistas interpretam os sentidos de modo diferente das pessoas típicas.
Crie situações em que a criança possa se habituar ao que viverá ao longo da viagem
Em viagens, é comum permanecer em público, caminhar ou fazer refeições em restaurantes, por exemplo. Como uma preparação, é recomendável frequentar restaurantes com maior frequência uma semana antes da viagem, fazer caminhadas na rua com os mesmos sapatos que serão utilizados ou até fazer um passeio no shopping em um horário movimentado.
Se necessário, podem até caminhar com uma mochila para se acostumarem com a sensação. A ideia é iniciar uma imersão na nova realidade que a viagem proporcionará.
Para o período do translado até o local de estadia, indico a utilização de recursos tecnológicos, como tablets ou smartphones e seus respectivos fones de ouvido.
Fique atento: os dispositivos estão todos carregados e prontos para uso?
O primeiro passo é se certificar que todos esses recursos estão completamente carregados ou levar carregadores portáteis.
O segundo é selecionar vídeos ou filmes inéditos para manter o interesse da criança alto ou selecionar alguns aplicativos que possam entreter por meio de atividades educativas.
O AutiSpark é um aplicativo gratuito, que disponibiliza jogos de aprendizagem por meio da associação de imagens e compreensão das emoções. Há ainda o Jade Autism, também de acesso livre, que oferece jogos que estimulam a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo. Iniciar as férias com uma atmosfera positiva e divertida influencia o bem-estar e afasta a criança de alterações sensoriais.
Não hesite em riscar da lista locais que não são adequados para a criança, mesmo que sejam supostamente imperdíveis
Nós, do Autismo e Realidade, sabemos que tirar férias com filhos dentro do espectro pode ser desafiador, mas é possível ultrapassar as barreiras e ter momentos prazerosos fora do âmbito familiar.
Aconselho também a adequar as expectativas: talvez não seja possível realizar todos os passeios disponíveis ou ir a todos os restaurantes que gostariam.
O ponto focal é planejar e seguir com as novidades no ritmo do autista. A flexibilidade virá de acordo com o sentimento de segurança que a criança sentir. Periodicamente, durante a viagem, é recomendável verificar o estado emocional por meio de comunicação com imagens.
Outras famílias podem indicar locais preparados para receber crianças com autismo
Para evitar grandes contratempos, é recomendável a utilização de pulseiras de identificação para protegê-los de qualquer situação desagradável.
Existem lugares que são preparados para receber o público autista, onde estrategicamente é possível fazer uma pausa sensorial, por exemplo. Pesquise o lugar da viagem com antecedência e busque indicações de outras famílias.
Lembre-se: a rede de apoio é necessária, não hesite em pedir ajuda!
Yasmine Martins
Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo, com especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), aprimoramento em Psicologia Hospitalar e mestrado em Ciências da Saúde Infantil no Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE). É doutoranda em Saúde Baseada em Evidências na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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