Rastreio ocular e autismo: avanços da Análise de Visão Computacional

20/10/2023Diagnóstico0 Comentários

Estudo traz avanços e amplia a compreensão sobre padrões de atenção do autista na infância

Pesquisas que exploram os padrões de olhar e piscar das crianças autistas vêm trazendo importantes revelações sobre como elas interagem com estímulos sociais e não sociais. Uma delas, publicada em maio deste ano na revista acadêmica Springer Nature usa uma técnica que permite ir além do que o rastreio tradicional oferece, ao usar uma técnica chamada Análise de Visão Computacional (CVA).

O estudo tem, em tradução livre, o título: “A taxa de piscar de olhos e a orientação facial revelam padrões distintos de envolvimento atencional em crianças autistas: uma abordagem de fenotipagem digital”. O artigo mergulha nas descobertas recentes, destacando a importância do rastreamento ocular na compreensão das nuances do autismo durante a infância.

Estudo avaliou piscadas da criança e tempo em frente a um tablet com estímulos sociais e não sociais

A pesquisa investigou se a taxa de piscar de olhos em crianças permitia detectar padrões significativos de atenção. A CVA foi aplicada com base em dados coletados por um aplicativo em um tablet.

O objetivo era verificar duas variáveis: a taxa de piscadas e o tempo que a criança ficava de frente para a tela do tablet -chamado de TFF. Enquanto as crianças assistiam a uma série de filmes sociais e não sociais no tablet, os pesquisadores capturaram e avaliaram seus padrões de atenção.

Os resultados revelaram que crianças autistas tinham diferenças notáveis nos padrões de atenção visual. A taxa de piscar de olhos e a orientação em direção à tela do tablet revelaram que, independentemente do tipo de estímulo, as crianças autistas têm menor envolvimento visual.

Esta descoberta é fundamental, pois sugere que a atenção reduzida não se limita apenas aos estímulos sociais, mas se estende também aos estímulos não sociais.

Técnicas avançadas de CVA permitem entender padrões complexos de envolvimento de atenção em crianças autistas

A CVA vai além do rastreamento ocular tradicional e é capaz de revelar novas perspectivas sobre a percepção visual dos autistas na infância.

Ao verificar a taxa de intermitência, por exemplo, os pesquisadores capturaram padrões complexos de envolvimento de atenção em crianças autistas. Eles também compreenderam melhor a relação entre a taxa de piscar espontâneo e a atividade da dopamina em uma parte do sistema nervoso central chamada de corpo estriado, que regula funções motoras (como força e agilidade de movimentos).

Essas descobertas são um passo para desenvolver métodos mais precisos e objetivos para medir padrões de atenção em bebês e crianças pequenas.

Decifrar padrões de atenção permite desenvolver suporte mais adequados para as crianças autistas

Entender os padrões de atenção em crianças autistas não apenas ajuda no diagnóstico precoce, mas também lança iniciativas sobre o desenvolvimento de métodos mais eficazes de intervenção.

Apesar das descobertas promissoras, o estudo destaca a necessidade de pesquisas futuras.

Estudos mais amplos e diversificados são essenciais para compreender como fatores como sexo, raça e etnia podem influenciar os padrões de atenção, fornecendo uma visão holística e culturalmente sensível do autismo.

Nossa exploração do mundo visual das crianças autistas pelo rastreamento ocular e pela análise de visão computacional revela caminhos promissores para a pesquisa e intervenção. Ao decifrar os complexos padrões de atenção, estamos mais perto de oferecer mais um suporte eficaz para os autistas.

Bibliografia:

Krishnappa Babu PR, Aikat V, Di Martino JM, Chang Z, Perochon S, Espinosa S, Aiello R, L H Carpenter K, Compton S, Davis N, Eichner B, Flowers J, Franz L, Dawson G, Sapiro G. Blink rate and facial orientation reveal distinctive patterns of attentional engagement in autistic toddlers: a digital phenotyping approach. Sci Rep. 2023 May 3;13(1):7158. doi: 10.1038/s41598-023-34293-7. PMID: 37137954; PMCID: PMC10156751.

Bibliografia

Bárbara Bertaglia

Bárbara Bertaglia

Médica residente na pediatria da Santa Casa de São Paulo, pesquisadora na área de Transtorno do Espectro Autista e membro da equipe Autismo e Realidade desde 2019

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