Neurônios-Espelho: qual a relação com o autismo?
Transtorno pode estar relacionado à disfunção destes neurônios, essenciais para a interação humana
Descobertos na década de 90 pela equipe do pesquisador Giacomo Rizzolatti, os neurônios-espelho revolucionaram a nossa compreensão do funcionamento cerebral e seu impacto nas interações sociais e no desenvolvimento humano.
Eles foram identificados na área pré-motora dos cérebros dos macacos Rhesus e suas descobertas têm implicações para quem busca entender o autismo. Uma das referências para para sua compreensão é o artigo “Neurônios espelho”, publicado na revista Psicologia USP, em 2006.
O que são neurônios-espelho e como eles funcionam?
Os neurônios-espelho são células específicas localizadas na região do lobo frontal, em uma área conhecida pelos médicos como F5.
Neurônios-espelho têm atuação sofisticada na observação dos outros e na dedução de situações
O que chama atenção neles é que são ativados não apenas quando nós mesmos executamos uma ação específica, como pegar uma fruta, mas também quando observamos outra pessoa (seja um macaco ou um ser humano) realizando a mesma tarefa. A capacidade de espelhamento é fundamental para a compreensão direta da ação e da intenção de outras pessoas.
Os neurônios-espelho não se limitam apenas à observação de ações manuais, mas também às relacionadas à boca (como lamber, morder ou mastigar alimentos).
Além disso, essas células podem ser estimuladas por sons associados a ações específicas – como o barulho da quebra de uma casca de amendoim – ou pela dedução implícita da continuidade de uma ação, como quando um macaco observa o movimento de uma mão em direção a um objeto oculto. Isso ressalta a complexidade e as fibras dos neurônios-espelho em nosso sistema cognitivo.
A importância dos neurônios-espelho no comportamento humano está no entendimento das intenções
Os neurônios-espelho desempenham um papel fundamental em várias facetas do comportamento humano. Eles se envolveram na imitação, na teoria da mente, no aprendizado de novas habilidades e na leitura das intenções de outras pessoas.
A disfunção desses neurônios tem sido associada ao autismo, indicando que eles desempenham um papel crucial na interação social e no desenvolvimento de habilidades sociais.
Estudos usando ressonância magnética funcional (fMRI) demonstraram que os neurônios-espelho não apenas codificam ações, mas também a intenção por trás delas.
Isso significa que, ao observar alguém realizando uma ação em um contexto específico, nosso cérebro é capaz de inferir a intenção por trás dessa ação. Essa habilidade é fundamental para entendermos o significado social do comportamento das pessoas ao nosso redor.
Disfunção dos neurônios-espelho pode estar associada ao isolamento social dos autistas, pela dificuldade de compreensão dos outros
A capacidade de entender e imitar ações é baseada na cultura humana. Ela nos permite aprender e transmitir conhecimento de geração em geração. Os neurônios-espelho desempenham um papel fundamental nesse processo, pois nos permitem aprender com os outros por meio da observação e da imitação.
Os neurônios-espelho também desempenham um papel relevante na empatia, uma habilidade crucial para decifrar o comportamento e a socialização humana. Quando vemos alguém expressando emoções, como chorar, eles refletem essa expressão e nos permitem compreender o que a pessoa está sentindo.
Neurônios-Espelho e o Autismo
Autistas enfrentam desafios significativos na expressão, compreensão e imitação de sentimentos e ações de outras pessoas. Isso pode levar ao isolamento social e a dificuldades de aprendizagem. A disfunção dos neurônios-espelho tem sido associada a essas características, destacando sua importância na compreensão do autismo.
Os neurônios-espelho são uma peça fundamental no quebra-cabeça da cognição humana e das interações sociais. Compreender seu funcionamento e seu papel no desenvolvimento infantil é importante para entendermos um pouco mais sobre a vivência do autista. A pesquisa contínua nessa área promete novas descobertas. Com isso, esperamos melhores estratégias de intervenção para promover o bem-estar dos autistas e suas famílias.
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