Qual a relação do estigma e do conhecimento no autismo?

21/03/2024Pesquisas, Sem categoria1 Comentário

Para promover a plena inclusão de pessoas com deficiência, como os indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), é necessário estimular e mudar os conhecimentos e as atitudes da sociedade como um todo. Aqui, no Autismo e Realidade, fazemos o nosso melhor para tentar mudar um pouco a realidade do nosso país. Infelizmente, o acesso à informação e apoio à causa permanece limitado no Brasil, e o estigma também é bastante comum. 

Um artigo científico lançado recentemente na Nacional Autistic Society, Revista Autism, discute essa questão da difusão do conhecimento versus a diminuição do estigma. Com título traduzido de “Estigma e conhecimento sobre o autismo no Brasil: um estudo psicométrico e de intervenção”, a pesquisa se baseou em questionários sobre estigma e o conhecimento sobre o TEA. Depois, os participantes receberam um treinamento on-line e responderam novamente aos questionários.

Pesquisadores brasileiros buscaram pesquisadores nos Estados Unidos para desenvolverem estudos para medir o estigma e o conhecimento do autismo. Juntos, eles fizeram versões brasileiras de pesquisas sobre estigma e conhecimento que pessoas com autismo, nos Estados Unidos, ajudaram a fazer. Eles adaptaram um treinamento on-line usado em outros países e utilizaram as novas medidas para ver se o treinamento melhorava o estigma e o conhecimento sobre o autismo entre os brasileiros.

O acesso à informação e apoio ao autismo ainda permanece limitado no Brasil. Os resultados dessa pesquisa oferecem insights notáveis, especialmente ao avaliar o treinamento em autismo entre participantes brasileiros. Surpreendentemente, constatou-se que o treinamento teve impactos positivos, melhorando significativamente o conhecimento e reduzindo o estigma associado ao TEA. Essa constatação ecoa descobertas similares em contextos culturais distintos, reforçando a ideia de que a educação desempenha um papel crucial na transformação das percepções sobre o transtorno.

Além disso, a pesquisa atual faz um marco ao apresentar uma evidência de que os treinamentos em autismo não apenas aumentam o conhecimento, mas também alteram as inter-relações dinâmicas entre conceitos e atitudes em relação às pessoas com TEA. Esse achado revela a capacidade transformadora do aprendizado, sinalizando uma abordagem promissora para a promoção da inclusão e compreensão.

Contudo, a jornada está apenas começando. Pesquisas futuras desempenharão um papel crucial ao comparar dados do Brasil com informações de outros países. Essa comparação é essencial para identificar fatores culturais específicos que moldam as atitudes em relação às pessoas com autismo no contexto brasileiro. Além disso, a investigação abordará potenciais particularidades culturais, analisando as propriedades psicométricas das escalas utilizadas e os efeitos a longo prazo do treinamento.

Em resumo, essa pesquisa não apenas expandiu nosso entendimento sobre o autismo no Brasil, mas também lançou luz sobre a importância do treinamento na promoção de uma sociedade mais inclusiva. O caminho à frente envolve um comprometimento contínuo com a pesquisa, visando não apenas compreender, mas também transformar as narrativas em torno do autismo.

Bibliografia:

Araujo AGR, da Silva MA, Bandeira PFR, Gillespie-Lynch K, Zanon RB. Stigma and knowledge about autism in Brazil: A psychometric and intervention study. Autism. 2024 Jan;28(1):215-228. doi: 10.1177/13623613231168917. Epub 2023 May 1. PMID: 37128155.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37128155/

Bárbara Bertaglia

Bárbara Bertaglia

Médica residente na pediatria da Santa Casa de São Paulo, pesquisadora na área de Transtorno do Espectro Autista e membro da equipe Autismo e Realidade desde 2019

1 Comentário

  1. Desde sempre, informação científica é primordial para enfrentamento de estigmas sobre o autismo, especialmente num cenário oferecido pelas redes sociais onde, a despeito da boa vontade, as informações muitas vezes são superficiais ou divulgadas como experiências pessoais que podem não refletir a realidade.

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