Terapia de integração sensorial ajuda autistas a lidar com sensações

21/11/2023Tratamentos1 Comentário

Ao menos 30% das pessoas com TEA apresentam distúrbios de processamento sensorial

O diagnóstico do autismo é geralmente acompanhado por indicações de, ao menos, dois tipos de terapia: psicologia e fonoaudiologia. Sessões em ambas as especialidades são a base de qualquer tratamento, especialmente na infância. Mas como o transtorno é marcado por uma diversidade de características, comportamentos e sensações, outras técnicas foram aos poucos incorporadas nessa gama de intervenções, com destaque para a integração sensorial.

Reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, a prática é baseada em evidências científicas e direcionada a autistas que apresentam distúrbios no chamado processamento sensorial. No dia a dia, isso se revela, por exemplo, em dificuldades para lidar com diferentes texturas de materiais, permanecer em ambientes barulhentos ou com muita luminosidade, brincar de forma funcional e até mesmo aceitar variações de alimentos.

De acordo com a Associação Brasileira de Integração Sensorial (Abis), estudos mostram que ao menos 30% das pessoas com Transtorno do Espectro Autista sentem dificuldades sensoriais e, por isso, podem se beneficiar da terapia que tem três objetivos principais:

  • Aumentar a participação nas atividades diárias e, consequentemente, a participação social;
  • Ampliar o repertório de brincadeiras e diminuir comportamentos repetitivos e/ou estereotipados;
  • Diminuir o desconforto da pessoa em situações em que o processamento sensorial atípico cause uma desregulação.

Incômodo excessivo com barulho ou texturas diversas são sinais de disfunção sensorial

Assim como nos demais tratamentos, a intervenção sensorial deve partir de um plano individual que leve em conta a forma como cada autista sente o ambiente em suas atividades mais rotineiras, como escovar os dentes, se alimentar e brincar.

Segundo a Abis, os padrões de processamento sensorial nas pessoas com TEA tendem a ser mais extremos. É por isso que não raramente crianças autistas revelam desde cedo uma hipersensibilidade auditiva, ficando incomodadas com sons do cotidiano, como um liquidificador ligado ou um secador de cabelos.

Também há relatos frequentes de seletividade alimentar provocada pela textura dos alimentos e até mesmo pela cor do ingrediente. Há quem queira comer apenas receitas pastosas ou crocantes, o que limita sua participação social e ainda pode acarretar problemas de saúde.

Outra dificuldade bastante observada ocorre na hora do brincar. Especialistas em integração sensorial afirmam que o hiperfoco em um tipo de brincadeira – repetida cotidianamente – pode ser explicado pelo o que se chama de falta de ideação.

“A criança aprende que uma brincadeira funciona e repete sempre a mesma, não aceitando variações. Ou não consegue planejar como jogar uma bola ou como antecipar para pegá-la e se desinteressa da brincadeira”, informa Claudia Omairi, presidente da Abis.

Mas, segundo Omairi, o benefício da terapia de integração sensorial só ocorre se realmente forem constatadas questões sensoriais a serem trabalhadas na pessoa com TEA. “Isso deve ser feito por meio de avaliações padronizadas, feitas por meio de questionários sensoriais comandados por terapeutas ocupacionais capacitados”, afirma.

Terapia de integração sensorial é feita em sala multissensorial e lúdica

Em uma sala colorida, geralmente equipada por colchões, balanços, piscina de bolinhas, redes, pesos e parede de escalada, terapeutas ocupacionais promovem experiências sensoriais que mais parecem brincadeiras. O contexto lúdico, que em nada lembra um consultório médico, permite um aprendizado natural e, ao mesmo tempo, desafiador, mas na medida certa.

De forma gradual, a pessoa com TEA vai sendo exposta a toques, movimentos e até mesmo a exercícios musculares inicialmente indesejados, mas que lhe ajudam a desenvolver a capacidade de processar, organizar e interpretar sensações, respondendo de maneira apropriada ao ambiente.

As sessões são compostas de desafios para o corpo e o cérebro. Se o autista tem dificuldade com determinada textura, por exemplo, o terapeuta estimulará o contato com aquele material aos poucos, por meio de brincadeiras, até que o toque seja aceito.

Se bem aplicada e combinada a outras abordagens, a integração sensorial pode contribuir de forma decisiva para o tratamento de autistas. “Mas para isso é preciso que o terapeuta ocupacional responsável pela prática respeite a tolerância dessa pessoa aos estímulos apresentados e crie uma relação de confiança”, explica Claudia Omairi.

Integração sensorial pode ajudar em outras questões, como na comunicação

Desenvolvida pela americana Anna Jean Ayres, nas décadas de 1950 e 1960, a integração sensorial é uma área da terapia ocupacional cada vez mais replicada no Brasil. Dedicada a tornar a vida de pessoas com deficiência mais autônoma, a neurocientista foi quem desenvolveu o conceito de que a integração sensorial – traduzida por ela como um processo neurobiológico que promove a capacidade de processar, organizar, interpretar sensações e responder de maneira apropriada ao ambiente – influencia comportamentos e a aprendizagem.

No tratamento de pessoas com TEA, as sessões de integração sensorial podem ser realizadas em conjunto com psicólogos, fonoaudiólogos e fisioterapeutas. O ambiente lúdico ajuda a equipe a trabalhar questões que ultrapassam o aspecto sensorial, avançando até mesmo para a área da comunicação.

Escrito por Adriana Ferraz, Teia.Work

1 Comentário

  1. muito bom e esclarecedor

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