Descanso das terapias pode ser benéfico para crianças com TEA
Com planejamento e informação, é possível evitar que o autista se desregule e perca a evolução em terapias como ABA e TCC
As terapias comportamentais são essenciais na qualidade de vida de crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Elas fornecem ferramentas para que o indivíduo com TEA e outros transtornos do desenvolvimento consiga navegar situações do cotidiano, promovendo a neuroplasticidade e ajudando em questões como rigidez cognitiva, sensibilidade sensorial e comportamentos indesejáveis.
Durante as férias de fim de ano, as terapias costumam ser interrompidas pelo período de férias dos profissionais, o que pode causar crises em pessoas com TEA que dependem da previsibilidade para se regular. De acordo com Yasmine Martins, neuropsicóloga do Instituto PENSI e coordenadora do Autismo e Realidade, férias temporárias das terapias pode ser algo benéfico, mas que precisa de muito planejamento para que o indivíduo não se desregule.
“Um período de descanso pode ser benéfico para que a criança se envolva em novas atividades que poderão gerar aprendizado, além de oportunidades para a emissão de comportamentos já aprendidos dentro de outros contextos e ambientes. Mas a questão é que esse período precisa ser estruturado corretamente. É essencial que a família mantenha uma rotina para a criança e troque, por exemplo, os horários livres (de aula ou terapias) pela inserção de novas atividades, como passeios no parque, interação com animais de estimação, viagens e outras mais”, analisa a especialista.
Objetivos das terapias comportamentais podem ser trabalhados em casa, com tarefas do cotidiano
Uma tática que pode ajudar a adaptação familiar durante qualquer período de hiato das terapias é entender quais são os objetivos trabalhados pelos terapeutas. “Se os familiares souberem o que exatamente cada terapia alcança, eles podem continuar com os estímulos em casa. Muitas habilidades podem ser estimuladas em tarefas simples do cotidiano, como organizar o próprio quarto, arrumar os brinquedos e preparar o lanche ou a mesa para fazer uma refeição”, completa Yasmine.
Muitas vezes, quando as férias terminam, as terapias e os terapeutas podem mudar, o que também exige adaptação por parte das famílias. “É importante se atentar a como as mudanças na rotina acontecem e promover previsibilidade para criança sobre a inserção de atividades novas ou novos terapeutas para evitar qualquer tipo de desregulação ou desestruturação. O mesmo processo acontece quando a criança com TEA muda de série na escola: ela precisa ser preparada para as novidades e ter um período maior de adaptação que os demais alunos”.
Pesquisadores e clínicos que lidam diariamente com crianças com TEA destacam os benefícios de terapias comportamentais, como o método ABA e o TCC.
ABA e TCC são as principais terapias que incentivam hábitos positivos em crianças neurodivergentes
A Análise Aplicada do Comportamento (a sigla ABA vem do inglês Applied Behavior Analysis) trabalha os princípios da aprendizagem operante para incentivar a reprodução de comportamentos positivos e a aquisição de novas habilidades por meio de práticas intensas e reforço direcionado. A ABA utiliza técnicas como reforço positivo, recompensa por comportamentos desejáveis e redução de instruções graduais para aumentar a independência do indivíduo. A intenção é que ele consiga, cada vez mais, ganhar habilidades e autonomia em atividades cotidianas, como escovar os dentes, colocar uma roupa e tomar banho. A ABA não exclui outros recursos que ajudam a criança a realizar suas tarefas diárias, como comunicação aumentativa.
Pertencente ao campo da psicoterapia, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajuda a pessoa com TEA a compreender como os seus pensamentos e emoções influenciam seus comportamentos disfuncionais. Dessa forma, a terapia estimula a capacidade de reflexão e o autoconhecimento, promovendo mudanças comportamentais e a regulação do humor.
Um crescente número de relatórios reúne evidências da eficácia da TCC no tratamento de crianças em idade escolar e jovens adolescentes com TEA. Tais descobertas encorajam a consideração de abordagens da TCC modificadas para tratar a ansiedade em crianças com TEA em alto nível funcional.
Escrito por Stefanie Garcia, Teia.Work
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