Histórias lúdicas e ambiente humanizado podem ajudar criança com TEA no retorno às aulas
Crianças atípicas precisam de adaptações graduais para retornarem à rotina escolar após as férias
Preparar as crianças para a volta às aulas é uma tarefa complexa, especialmente quando falamos de alunos atípicos. Crianças com TEA, TDAH e outros transtornos do desenvolvimento podem sofrer mais do que seus colegas neurotípicos, especialmente por precisarem de mais previsibilidade, adaptações e apoio sensorial.
“Incluir a criança com deficiência implica um cuidado da família e, principalmente, da escola. Muitas vezes, essas crianças vão para a escola e são tratadas sem atenção especial, e isso causa sofrimento. Esse é outro problema importante: a educação básica nem sempre provém todos os recursos. Toda escola deveria ter, por exemplo, a figura do assistente pedagógico, que acompanha e dá suporte para essa criança. Mas nem todas as escolas possuem esses recursos, e é muito exaustivo para as famílias exigirem e brigarem para que o mínimo seja feito”, explica o pedagogo Prof. Dr. Lino de Macedo.
Quando a criança demonstra resistência para voltar à escola, especialmente em época de troca de séries, com novos professores e colegas, é importante que as famílias criem estratégias para ajudar no acolhimento.
Famílias podem brincar de escola; já as instituições devem planejar espaços para a readaptação dos alunos
“Os familiares podem conversar com a criança e até simular o ambiente escolar em casa, mostrando que ela é esperada e querida pelos colegas e professores. Para fazer sua parte, a escola precisa criar um ambiente humanizado, receptivo e protetivo, no qual essa criança se sinta de fato protegida, com atividades de recepção e contação de histórias. Isso pressupõe uma sensibilidade dos professores e da escola“, completa.
Para Yasmine Martins, neuropsicóloga do Instituto PENSI e coordenadora do Autismo e Realidade, brincadeiras que simulem a ida à escola podem ajudar na adaptação. “Os alunos podem demonstrar agitação e resistência ao entrarem na escola. Mas os pais, em conjunto com os professores, têm a possibilidade de contar histórias lúdicas sobre como a escola é um lugar de construção, assim como um parque, por exemplo. No parque e na escola podemos ‘encontrar amiguinhos para brincar’.”
Outra técnica que a escola pode desenvolver é preparar um espaço físico para readaptação, onde as crianças possam ficar por algum tempo. O ambiente deve ser acolhedor, com tapetes, almofadas, fotos trazidas de casa e desenhos sobre o retorno das aulas.
Aluno com TEA na escola regular é direito garantido por lei
“Nesses ambientes, os professores podem contar histórias para dessensibilizar os medos que a volta às aulas trazem. As histórias englobam exemplos de superação e vitória, encorajando os alunos a se aproximarem da rotina escolar novamente. Por fim, trago a estratégia de um escalonamento entre dias presenciais e virtuais para que os alunos possam ter tempo para se adaptar à nova rotina. Assim, poderão perceber e lidar com os sentimentos que surgem quando estão dentro e fora de casa”, explica Yasmine.
No Brasil, a escola regular é um direito de todos. No caso de alunos com TEA são várias as leis que asseguram essa condição. Merece destaque a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), sancionada em 2015, que considera crime de discriminação qualquer recusa de matrícula por escola pública ou privada.
Além de não poder negar vaga, a escola também não está autorizada a criar listas de espera para crianças com deficiência nem estipular cotas máximas de alunos neurodivergentes por sala.
A irregularidade pode e deve ser denunciada ao Ministério Público do Estado e à Secretaria de Estado da Educação, assim como recusas de acesso na rede pública, que caminha para dar prioridade a alunos com deficiências ou doenças raras. Projeto de lei já aprovado pelo Senado e em debate na Câmara dos Deputados trata de creches, pré-escolas e escolas de ensino fundamental e médio.
Escrito por Teia.Work
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