Brincadeiras ajudam a amenizar crises sensoriais de autistas nas férias

19/12/2023TEA no Dia a Dia0 Comentários

Terapia de integração sensorial ajuda pessoas com TEA a lidar com excesso de estímulos

Quem tem filho pequeno sabe bem que férias não são sinônimo de descanso ou diversão. Ao menos não o tempo todo. E para quem tem criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) dentro de casa, o período tende a ser ainda mais desafiador. A alteração na rotina somada aos estímulos sensoriais que muitos espaços frequentados nessa época do ano oferecem podem provocar momentos de sobrecarga sensorial.

Geralmente, as crises ocorrem em pessoas que têm o chamado Transtorno de Processamento Sensorial (TPS), uma condição neurológica que impõe dificuldades na modulação dos estímulos do ambiente, sejam eles sensoriais (como texturas e alimentos) ou externos (como cheiros, sons e luzes).

O TPS se manifesta em pessoas típicas também, não sendo uma exclusividade de quem tem o diagnóstico de TEA. Para esse público, no entanto, as alterações na forma de sentir o mundo podem representar uma barreira social.

Desconforto é amenizado com terapia e recursos sensoriais

Assim como questões relacionadas à comunicação ou ao comportamento, há terapia específica para o TPS, por meio de sessões de integração sensorial. O impacto ocasionado por viagens e passeios também é amenizado com o uso de alguns recursos, chamados de “acomodações sensoriais”.

A terapeuta ocupacional Karina Meneguetti, supervisora do Grupo Conduzir, explica que o primeiro passo para se evitar uma crise é oferecer previsibilidade à criança. “É preciso sempre antecipar o que vai acontecer, além de planejar bem o passeio ou a viagem. As sobrecargas sensoriais podem se manifestar em qualquer lugar, como em um shopping, praia ou viagem de avião.”

Pais e responsáveis devem lançar mão de algumas estratégias tanto para prevenir como para encurtar as crises. “Se a origem é auditiva, pode-se usar abafadores de ruído. Se é sensorial, é indicado o tato profundo, como um abraço mais apertado”, afirma Karina, citando ainda massageadores, que podem ser levados na bolsa para qualquer lugar.

Segundo a especialista, atividades como escorrega, balanço e trepa-trepa também tendem a ajudar, desde que realizadas da forma correta. “O ato de balançar, por exemplo, deve ser contínuo, para frente e para trás.”

Choro, agitação excessiva e agressividade podem indicar crise

Uma crise sensorial costuma ser facilmente identificada pela intensidade de sentimentos que provoca. Choro, agitação excessiva, gritos e agressividade são alguns dos possíveis sinais de um incômodo profundo diante dos estímulos do ambiente. Na contramão, há quem silencie suas emoções, ficando calado ou fugindo do local.

Nas férias, a comemoração da virada do ano com estouro de fogos de artifício é uma das situações consideradas de risco. Ambientes com muitas pessoas e, consequentemente, muito barulho tendem a ser preocupantes. E isso não inclui só shows, mas a ida à praia, ao parque ou mesmo a uma festa de Natal na casa de parentes.

“São esses locais que tendem a gerar sobrecargas sensoriais”, destaca Karina, que recomenda um estudo prévio sobre a viabilidade de tais saídas. “A família precisa avaliar se o passeio vale a pena.” A especialista, no entanto, explica que uma criança acompanhada em terapia tende a se acostumar com a oferta de estímulos ao longo do tratamento.

Estudos mostram que ao menos 30% dos autistas têm distúrbios sensoriais

De acordo com a Associação Brasileira de Integração Sensorial (Abis), ao menos 30% das pessoas com TEA sentem dificuldades sensoriais e, por isso, podem se beneficiar da terapia, que é baseada em evidências científicas e reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

São quatro objetivos principais: (1) aumento da participação social, (2) ampliação do repertório de brincadeiras, (3) redução dos comportamentos repetitivos e (4) diminuição do desconforto em situações em que o processamento sensorial atípico cause uma desregulação.

Pelas características do trabalho, as sessões são feitas em uma sala multissensorial com capacidade de promover experiências diversas, como escalar uma parede, “nadar em uma piscina de bolinhas” e balançar em redes. O contexto lúdico facilita o aprendizado, que ocorre de forma gradual a partir do contato com novas texturas, sons e luzes, por exemplo.

Escrito por Teia.Work

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