Zachary Betz: Os benefícios do autismo
Estudante afirma que aos autistas também é possível ser feliz e ter sucesso
“A maioria das pessoas vê o diagnóstico de autismo como algo totalmente negativo”, afirma Zachary Betz no TEDxSouthFayetteHS, nos EUA. Estudante do Ensino Médio e atleta amador de corrida tanto em pistas como em trilhas, Zachary diz em sua palestra que os autistas lidam com desafios diferentes dos não autistas, mas que isso não os impede de viver uma vida feliz e de sucesso.
“Você acredita que o autismo é apenas um distúrbio que torna os que nascem com ele inferiores àqueles que nascem sem ele? Será que algum de vocês conhece uma pessoa com autismo e acredita que ela não possa ter sucesso e ser feliz no dia a dia assim como você?”, provoca o jovem palestrante.
Autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento. Chamado de TEA (Transtorno do Espectro Autista) pela comunidade científica, ele atinge cada pessoa de maneira distinta. O número de maneiras que o transtorno pode apresentar se equivale ao número de autistas. É por isso que o professor Stephen Shore costuma dizer: “Se você conheceu uma pessoa com autismo, você conheceu uma pessoa com autismo”.
Autismo se manifesta de infinitas formas, mas possui características básicas comuns a todos, com variações de intensidade
A rica variedade de manifestações é o que leva o autismo a ser chamado de espectro. Ainda assim, há duas características básicas comuns a todos os autistas, que se manifestam em cada um com intensidades diferentes:
– Déficit na comunicação social ou interação social – como nas linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade socioemocional;
– Padrões restritos e repetitivos de comportamento – como estereotipias, movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais.
Personalidades afirmam que diagnóstico de autismo traz alívio e amplia a autocompreensão
“Talvez as pessoas com autismo não tenham uma vida mais difícil do que as outras. Talvez as pessoas com autismo só tenham dificuldades diferentes da maioria“, diz Zachary. Ele cita os exemplos de Albert Einstein e Isaac Newton. Nenhum dos dois teve diagnóstico comprovado, porém, há quem acredite que ambos poderiam ser autistas de grau 1 – como parte da comunidade prefere chamar o autismo leve ou de baixo grau de suporte. Na visão de Zachary, os dois “conseguiram ter sucesso e felicidade no dia a dia, a ponto de ganhar fama mundial”.
Na atualidade, há outras personalidades autistas com diagnóstico oficial, como a ativista ambiental Greta Thunberg e o consagrado ator Anthony Hopkins, diagnosticado na terceira idade. A comediante Hannah Gadsby e a jornalista Renata Simões também estão entre as personalidades diagnosticadas com autismo. Elas contam que se descobrirem autista trouxe uma compreensão profunda de quem eram e de que não havia nada de errado com elas, mas com seu entorno incapaz de compreendê-las. É constante o relato de alívio de quem recebe o diagnóstico tardio de autismo.
“Acredito que as pessoas com autismo são igualmente capazes, se não mais capazes, do que todos vocês, que nasceram sem autismo, de terem sucesso e serem felizes no dia a dia”, disse o estudante à plateia da South Fayette High School, no estado americano da Pensilvânia.
Estudante faz analogia com aula de matemática para demonstrar formas diferentes de pensar adotadas por autistas
“Gosto de pensar nisso como uma aula de matemática. Alguns têm dificuldade em matemática a ponto de precisar de uma ajuda extra, enquanto outros se destacam em matemática, sem precisar de nenhuma ajuda extra. Porém, quer você tenha ou não uma criança com muita dificuldade em matemática ou uma criança que vai muito bem nessa aula, todos ainda conseguem passar pela mesma aula juntos, com êxito e felizes”, detalha Zachary.
Um exemplo muito usado para ilustrar a diversidade de pensamento entre atípicos (como também podemos chamar os autistas) e neurotípicos (os não autistas) é o de sistemas operacionais de computador ou também os diferentes videogames. Todos exercem as mesmas funções, porém são programados de forma diferentes e têm configurações específicas. Tanto Windows quanto Mac possuem suas especificidades, mas conseguem atingir uma série de objetivos comuns. O mesmo vale para a comparação entre um PlayStation e um XBox.
“As pessoas com autismo têm até algumas vantagens quando consideramos as que nasceram sem autismo. Essas vantagens incluem, mas não se limitam a: atenção aos detalhes, paixão pelo trabalho, capacidade de viver no agora e capacidade de ensinar aos outros sobre o autismo”, relata Zachary em seu discurso.
Ele aponta que a Forbes, publicação voltada a economia e negócios, publicou um artigo da jornalista especializada em diversidade Karen Higginbottom sobre o que tornava autistas bons funcionários. Segundo ela, seria por sua “paixão pelo trabalho e atenção aos detalhes”.
Hiperfoco e diversidade do olhar pode diferenciar os autistas em sua inserção no mercado de trabalho
Uma das características comuns aos autistas é o hiperfoco, um interesse específico que mobiliza a pessoa de forma intensa. Ele pode variar com o tempo ou permanecer ao longo da vida. Na série Atypical, por exemplo, o hiperfoco do protagonista Sam são pinguins. O hiperfoco pode ser usado a favor do autista em sua inserção no mercado de trabalho.
A atenção aos detalhes é justamente um dos temas citados por Zachary na palestra. Ele mostra uma figura de um cavalo correndo por um campo. Os neurotípicos se atêm ao panorama geral da imagem. Os atípicos costumam se deter em pequenos elementos que podem passar despercebidos. É um diferencial que também pode ajudá-los no processo de inclusão no trabalho.
Tanto pessoas típicas e atípicas são neurodiversas e podem, para Zachary, ser felizes e bem sucedidas
O conceito de neurodiversidade nos permite compreender melhor as diferenças e olhares que as diferentes formas de funcionamento cerebral proporcionam. Registrado pela primeira vez em uma publicação de 1998 pela socióloga Judy Singer, o termo se refere à multiplicidade de composições cerebrais humanas. Assim como a natureza é biodiversa, as composições neurológicas dos seres humanos também.
Judy ressalta que, do mesmo modo que uma margarida e uma abelha representam a biodiversidade, típicos e atipicos somos, todos, neurodiversos. Zachary traz um novo elemento para pensarmos. A possibilidade de sermos, todos, felizes em nossa diversidade.
“Talvez as pessoas com autismo sejam capazes de abrir novas portas neste mundo que ainda precisam ser abertas. Talvez as pessoas com autismo sejam capazes de muito mais do que acreditamos que consigam, porque todos, grandes ou pequenos, podem passar pela jornada da vida juntos, com êxito e felizes. Como alguém que tem autismo, posso dizer que minha vida vai muito bem neste momento”, conclui o estudante.
0 comentários